Capítulo 13

808 21 1
                                    

Alzira segurou o envelope com satisfação. Acabava de receber seu primeiro salário. Sentia-se feliz em poder contribuir no pagamento das despesas da casa.

        Seu pai continuava desempregado, mas havia conseguido prestar serviços extras a algumas pequenas empresas, ganhando algum dinheiro. Assim, as coisas começavam a melhorar e sua mãe não se preocupava tanto.

        Só Mirtes não tinha jeito. Levava vida ociosa, saindo muito, passando os fins de semana fora de casa. Ela dizia que estava com Mildred, viajando ou hospedando-se em sua casa. Mas Alzira desconfiava que era mentira. Ela nunca mais as vira juntas, e, depois, Mirtes comprava muita roupa, perfumes, adereços, sempre dizendo que eram presentes da amiga.

        Alzira fingia que acreditava para não preocupar mais os pais, que se incomodavam muito com a vida que Mirtes levava. Sabia que não adiantava nada aconselhá-la, e muitas vezes, colocava o nome dela no livro de orações do centro espírita, pedindo a Deus por ela.

        Saiu pensativa de sua sala na Mercury. Caminhava pelo corredor, cabeça baixa imersa em seus pensamentos, quando esbarrou de frente com uma pessoa que vinha em sentido contrário. O envelope com dinheiro do salário foi atirado longe, e ela ia cair ao chão quando um braço forte a segurou.

        - Meu Deus, o dinheiro!

        - Calma. Ele não vai fugir.

        Então ela viu que esbarrara em Valdo, o dono da empresa. Empalideceu e disse trêmula:

        - Desculpe. Foi sem querer.

        - Não fique assim. Não foi nada. Venha, sente-se aqui:

        Fê-la entrar em uma sala e sentar-se. Ela tremia, sem saber o que dizer. Conseguiu balbuciar:

        - Meu dinheiro!

        Ele havia apanhado um copo de água e deu-o a ela dizendo:

        - Beba.

        Ela obedeceu e logo um rapaz  entrou, entregando a Valdo o envelope dela e dizendo:

        - Alzira deixou cair isto.

        Valdo entregou o envelope a ela, que o apanhou com rapidez. Ele não conteve o sorriso e comentou:

        - Pelo jeito, esse envelope deve ser muito importante para você!

        - É meu primeiro salário aqui. Desculpe o transtorno. Foi minha culpa. Eu estava distraída. Preciso voltar ao trabalho.

        - Espere um pouco. Você está pálida. Aceita um café?

        Alzira aceitou, e suas mãos tremiam ao segurar a xícara.

        - Você está muito nervosa. Vamos conversar um pouco. Acho que conheço você.

        - Faz um mês que estou trabalhando neste escritório.

        - Não, não é daqui que a conheço. Você não tem uma irmã chamada Mirtes?

        -  Tenho.

        - Já as vi juntas. Sabia que a conhecia. Em que seção está trabalhando?

        - Sou datilógrafa.

        Valdo estava intrigado. Pela atitude de Alzira, dava para perceber que aquele dinheiro era importante para ela. Sinal de que estava precisando muito. Nesse caso, como Mirtes conseguia frequentar lugares da moda, vestindo-se tão bem? Afinal, ela não trabalhava.

Tudo tem seu preçoOnde histórias criam vida. Descubra agora