Todas as tardes Mercedes lia as colunas sociais à procura de notícias de Humberto e a esposa. Por isso, pôde vê-los nas revistas em vários lugares da Europa. A beleza e a juventude de Mirtes exacerbavam seu ciúmes, e ela passava noites em claro imaginando um nos braços do outro na intimidade, sentindo seu ódio aumentar a cada dia.
A solidão e a saudade dos bons momentos que desfrutara ao lado dele aumentavam seu sofrimento, sua sensação de perda, sua insatisfação. Era com impaciência que esperava que o tempo passasse e eles voltassem ao Brasil.
Diante de alguns amigos que conheciam seu drama e que tentavam confortá-la, ao mesmo tempo que a aconselhavam a tentar esquecer Humberto, Mercedes dissimulava o ódio que sentia. Lamentava-se, revelava sua tristeza, dizia-se vítima da ingratidão de Humberto, chorava. Mas, apesar disso, dizia que o perdoava porque ainda o amava e desejava de coração que ele fosse feliz com a nova companheira.
Foi um amigo comum quem lhe telefonou inconformado que o casal havia regressado. Imediatamente ligou para o detetive Sobral, porém ninguém atendeu. Ligou várias vezes, mas só no fim da tarde conseguiu encontrá-lo.
- Você precisa agir. Eles já voltaram.
- Está bem, madame. Temos de conversar. Onde podemos nos encontrar?
- Não quero que venha à minha casa. Ninguém pode saber que está trabalhando para mim.
- Pode confiar. Nosso trabalho é sigiloso.
Ela combinou um encontro em um lugar discreto e pouco frequentado. Queria que fosse naquele mesmo dia, mas, como ele não podia, ficou para a manhã seguinte.
Foi com impaciência que Mercedes esperou pelo encontro. Compareceu pontualmente no local combinado, onde ele já a estava esperando. Ela parou o carro, e ele abriu a porta e sentou-se a seu lado.
- Vamos dar uma volta - pediu ele.
Pararam em uma rua deserta e Mercedes indagou impaciente:
- E então? Já planejou o que vai fazer?
- Estive pensando... Talvez possamos resolver isso de uma forma mais leve e com menos risco.
- Como?
- Armando uma cilada para ela. O que o marido faria se a surpreendesse nos braços de outro?
- Ficaria furioso. Humberto é cheio de princípios. Perderia a cabeça, com certeza.
- Talvez ele mesmo acabasse com ela, o que nos deixaria livres de qualquer suspeita.
Mercedes pensou um pouco, depois respondeu:
- Ele iria preso, e de que me serviria? Estaríamos separados do mesmo jeito. Eu quero que ele volte para mim.
- Ele tem nome e dinheiro. Iria se livrar da justiça com facilidade. Um homem que mata a mulher por traição tem a simpatia do júri. Os homens são solidários entre si.
- Mesmo assim, acho arriscado. Ele está apaixonado por ela. Em vez de matá-la, pode até se suicidar.
Sobral coçou a cabeça, dizendo:
- Nesse caso, só resta fazer a encomenda.
- Quanto tempo vai demorar?
- Terei de ir ao Mato Grosso falar com o Dinho e acertar os detalhes. O plano tem de ser bem-feito.
Ela concordou. Combinaram que ela daria a Sobral uma quantidade em dinheiro para as despesas. Quando ele voltasse, informaria o preço estipulado por Dinho.
Tudo acertado, deixou o detetive no lugar em que o apanhara e voltou para casa.
Quando pensava que dentro de pouco tempo Mirtes estaria fora de seu caminho, sentia um aperto no peito, um certo medo, mas visualizava novamente as cenas de amor e dedicação que dera a Humberto, e o rancor reaparecia com toda a força.
Aquela moça não podia amar Humberto. Era podre e com certeza casara por causa do dinheiro dele. Iria fazê-lo infeliz, não merecia ficar ao lado dele. Ela, Mercedes, sim, amava-o com sinceridade e cuidaria bem dele até o fim de seus dias.
Nesses momentos, imaginava como se amariam quando ele voltasse, sofrido, triste, busca de aconchego e conforto. Ela então o perdoaria e o receberia de braços abertos.Mirtes chegou em casa satisfeita. Passara a tarde no cabeleireiro. À noite iria com o marido a um jantar na casa de um ministro. Queria apresentar-se impecável e mostrar a todas aquelas damas cheias de pose que ela tinha classe o suficiente para frequentar suas casas.
Depois, Humberto sentia-se orgulhoso quando a levava pelo braço, porque todos a fitavam com admiração e as revistas importantes disputavam um bom ângulo para fotografá-la. Era disso que Mirtes gostava.
Entrou em casa pensando em tomar um banho e descansar até o momento de vestir-se para o jantar. Humberto não havia chegado e ela subiu disposta a fazer o que pretendia.
Ao passar pela porta do escritório, que estava aberta, viu um envelope bonito na salva de prata sobre a mesa. Entrou, apanhou-o e, como estava aberto, abriu-o. Era o convite de casamento de Émerson e Laura, que se realizaria dentro de quinze dias. Junto, um cartão de Émerson, dizendo que havia ido pessoalmente entregar o convite, mas, como não encontrara ninguém em casa, deixara-o com um dos serviçais. Pedia desculpas por não ter podido esperar.
Mirtes sentou-se com o convite na mão. Então era verdade mesmo. Eles iam casar e era por isso que Mildred havia partido e estava tão mudada.
Deu de ombry. Devolveu o envelope à salva de prata e subiu para o quarto. Afinal, não tinha nada com aquilo. Era mais uma festa para ir.
Enquanto se deliciava dentro da banheira, ficou imaginando as roupas que compraria para ir àquele casamento e o sucesso que faria, porquanto lá estariam todos os seus conhecidos, inclusive Marcelo.
Seria divertido tentar tirá-lo de Renata. Ele nunca resistira aos seus encantos. Seria fácil e excitante.
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