Capítulo 15

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        Humberto entrou no apartamento de Mercedes e encontrou-a na sala folheando um revista. Vendo-o, ela se levantou dizendo:

        - Até que enfim lembrou-se de que estou viva!

        - Como vai, Mercedes?

        - Como uma mulher solitária. Por que não me avisou que viria? Não providenciei nada para jantar.

        - Não quero jantar. Vim aqui para conversar.

        Ela o olhou desconfiada.

        - Conversar?

        - Sim. Sente-se.

        Ele a puxou para sentar-se a seu lado no sofá e continuou:

        - Gostaria que soubesse quanto tenho apreciado sua dedicação nestes anos em que me tem feito companhia. Você me ajudou a vencer os anos mais difíceis de minha vida e a superar a ausência de Emília. Sou muito grato por isso.

        - Grato? Pensei que me amasse como eu o amo!

        - Eu gosto muito de você. Aprecio suas qualidades, sua honestidade e seu desprendimento. Você tem sido uma boa companheira.

        - Aonde deseja chegar? Por que está me dizendo tudo isso?

        - Sempre fui muito sincero com você. Nunca lhe prometi nada, mas, apesar disso, você sabe que eu nunca a deixaria em uma situação difícil.

        Mercedes empalideceu, seu rosto crispou-se dolorosamente.

        - O que está acontecendo? Fale logo.

        - Daqui para a frente, desejo que sejamos apenas bons amigos. Nosso relacionamento amoroso acabou.

        Ela cobriu o rosto com as mãos e rompeu em soluços:

        - Você quer dizer que não me ama mais? Vai ver que se apaixonou por outra. Bem que desconfiei. Ultimamente você esfriou comigo, não tem me procurado. Sabe há quanto tempo não fazemos amor?

        - Por isso mesmo estou aqui. Não sinto mais vontade de fazer amor com você. Mas quero manter nossa amizade.

        Ela soluçou por algum tempo. Quando se acalmou, ele a abraçou dizendo:

        - Você é uma mulher bonita, cheia de qualidades. Vou dar-lhe uma quantia para que nada lhe falte pelo resto da vida.

        - O que vou fazer sem seu amor? Todos estes anos tenho vivido para você. Diga-me: quem é a outra?

        - Não se trata disso. Acontece que não desejo enganá-la. O que sinto por você transformou-se apenas em uma boa amizade. Não quero que se iluda pensando em um futuro a meu lado que nunca virá. Você, como eu disse, é uma mulher bonita, moça, e pode encontrar alguém que a ame como merece. Eu não sou esse alguém.

        Mercedes tentou dissimular o desespero. Sabia que Humberto detestava cenas. Era preciso acalmar-se, estudar a situação, depois decidir o que fazer.

        Respirou fundo e olhou-o nos olhos, dizendo triste:

        - Pensei que fosse para toda a vida. Mas, se você quer assim, tenho de aceitar. Espero que me dê um tempo para me acostumar com a idéia.

        - Você não entendeu. A partir de hoje, não precisa esperar-me mais. Amanhã mesmo colocarei em sua conta dinheiro suficiente para que continue mantendo o mesmo padrão de vida a que está acostumada. Não quero que nada lhe falte.

Tudo tem seu preçoOnde histórias criam vida. Descubra agora