Marcelo chegou em casa cansado, disposto a tomar um banho, comer e descansar.
Depois do jantar, os pais foram para a sala assistir a televisão, mas ele preferiu ir para o quarto. Apanhou um livro, estendeu-se na cama e começou a ler.
O telefone tocou. Era Renata. Pelo tom de voz, Marcelo notou que ela estava chorando.
- Marcelo, quero conversar com você. Por favor, venha até minha casa.
- Você está chorando! Aconteceu alguma coisa?
- Venha, por favor.
- Está bem. Dentro em pouco estarei aí. Fique calma.
Vestiu-se rapidamente e desceu. Iolanda, vendo-o passar, estranhou:
- Você não disse que estava cansada e que não ia sair? Aconteceu alguma coisa?
- Nada, mãe. Vou, mas volta logo.
Ele se foi e a mãe comentou com o marido:
- Essas meninas vivem atrás dele. Elas ligam e ele vai.
- Isso é normal na idade dele. Não sei por que você se está se incomodando.
Ela se calou e acomodou-se no sofá. O marido sempre defendia o filho. Estava habituada.
Quando Marcelo chegou à casa de Renata, ela o esperava no portão. Ele desceu do carro e depois dos cumprimentos perguntou:
- Você quer dar uma volta? Assim poderemos conversar melhor.
Ela aceitou. Entrou no carro e ele deu partida. Andaram alguns quarteirões, até pararem em uma rua tranquila.
Renata estava pálida, as mãos trêmulas.
- Então, Renata, o que houve?
Ela suspirou, ficou calada por alguns instantes, depois decidiu:
- Tive uma recaída.
- Como assim? Você estava tão bem!
- Estava. Mas hoje descobri que não mudei nada. Sinto-me tão fraca, sem dignidade... Um lixo!
- Fale como aconteceu.
- Bom... Ontem a noite fiquei sabendo por minha prima que Rômulo e Nora haviam brigado e terminado o noivado. Fiquei alegre e muito descontrolada. Uma louca esperança brotou em mim e tive vontade de vê-lo. Então, hoje fui ao clube. De fato, pouco depois que cheguei ele apareceu sozinho. Eu estava com minha prima em uma mesa tomando guaraná. Fingi que não o vi. Rute estava de frente para Rômulo e disse ele estava vindo em direção à nossa mesa. Quando ele chegou, senti as pernas bambas. Ele nos cumprimentou e disse: "Posso me sentar com vocês?" Você pode imaginar como me senti. Achei que ele estava diferente dos últimos tempos. Havia perdido aquele olhar esnobe que me irritava tanto. A banda estava tocando uma música, e ele convidou Rute para dançar. Os dois foram para a pista e eu fiquei ali, torcendo para ele dançar comigo. A música acabou, eles voltaram e sentaram-se novamente. Eu estava certa de que ele iria me chamar para dançar. Imaginei que dançara com Rute apenas para não mostrar logo seu interesse em reatar comigo. Foi quando entrou no salão ao lado de um rapaz alto, elegante, bonito, que eu nunca tinha visto. Notei que Rômulo empalideceu, pensei que fosse desmaiar. Levantou-se e foi ter com eles. Ele começou a brigar com Nora, falando alto, coisa que eu nunca vi. Logo ele, sempre tão controlado! O rapaz que estava com ela se colocou entre eles e então aconteceu uma briga. Os dois trocaram socos, e algumas pessoas logo foram apartar. Nora deu meia-volta e saiu sozinha. Rômulo foi atrás dela. Fiquei arrasada. Foi a primeira vez que o vi perder o controle. Rute notou meu abatimento e tentou convencer-me de que precisava esquecer aquele amor, etc., etc., ou seja, tudo aquilo que eu sempre disse a mim mesma. Ficamos lá algum tempo, até eu me acalmar. Quando saímos, foi pior. Vimos os dois no jardim trocando beijos apaixonados. Nem nos viram passar. Não sei como cheguei em casa. Eu realmente não tenho vergonha na cara. Depois de tudo que ele me fez... Se ele me tivesse feito um menor gesto de carinho, eu o teria perdoado e aceitado de volta e ainda me daria por feliz. Por que não posso aceitar que ele ama outra mulher?