Mildred chegou em casa arrasada. Arrumara-se tanto para aquele encontro, idealizara como seria, mas nada que esperava havia acontecido. Émerson tratara-a cordialmente, mas ela era suficientemente inteligente para perceber que ele havia mudado. Em seus olhos não havia mais aquele brilho quando a fixava, e em nenhum momento ele demonstrara alguma atenção especial.
De que lhe valera esperar tantos anos? Ele a tratara de forma banal, e notava-se que não estava nem um pouco interessado em voltar ao passado.
Mildred atirou a bolsa sobre a cama, tirou os sapatos e deitou-se mesmo vestida, pensando numa maneira de reverter a situação.
Não pretendia aceitar a indiferença dele. Era uma mulher atraente. Ele a havia amado. Não podia deixar-se abater. Oito anos era muito tempo. Ele a havia esquecido, mas sob aquela indiferença deveria haver ainda um pouco daquela chama que ela se encarregaria de fazer reviver.
Não estava habituada a perder. Não podia desanimar logo no primeiro encontro. Pensando bem, a resistência dele tornaria mais interessante a conquista.
A família de Valdo mostrara claramente a intenção de promover o namoro deles. Isso mostrou-se contraproducente. Sabia como eles pensavam, e devem ter comentado sobre quanto ela o amava e esperara sua volta. Pois ela faria justamente o contrário. Fingiria haver esquecido o passado e talvez até desse um pouco de corda a seus admiradores para provocar o ciúme de Émerson.
Resolveu que a primeira oportunidade falaria claramente com ele. Diria que do passado restou apenas amizade, que ela gostaria de reatar. Ouvira-o falar com entusiasmo sobre o instituto que pretendia fundar. Mostraria interesse e tentaria participar ativamente a seu lado, apaixonado e submisso.
Animada, levantou-se e preparou-se para dormir. Deitou-se mas demorou a pegar no sono, pensando em como realizar seus planos.
No dia seguinte à tarde ligou para Laura:
- Estou precisando fazer umas compras. Quer me fazer companhia? Depois poderemos ir a uma confeitaria tomar sorvete.
- Eu não pretendia sair hoje.
- Eu gostaria muito de conversar com você. Posso apanhá-la dentro de meia hora?
Laura hesitou um pouco, depois concordou. Quando desligou o telefone, Valdo, que ouvira a conversa, perguntou:
- O que foi? Você está com uma cara...
- Era Mildred. Ela me convidou para sair. Estou surpresa.
- Eu sei. Vocês nunca se afinaram muito. Você sempre se esquivou dela.
- Não gosto dela. É antipática, falsa, faz tipo de mulher fatal.
Valdo desatou a rir.
- Não está exagerando?
- Não.
- Então por que concordou?
- Fiquei curiosa. Ela quer falar comigo.
- Hmm... Vai ver, quer sua ajuda para reconquistar Émerson.
- Se for isso, não vai conseguir nada. Não tenho vocação para me meter na vida dos outros.
- É bom mesmo. Seria pura perda de tempo. Émerson foi claro ontem comigo: não quer mais nada com ela. Não gostou da atitude de mamãe tentando aproximá-los.
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