Capítulo 5

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Mildred  chegou em casa arrasada. Arrumara-se tanto para aquele encontro, idealizara como seria, mas nada que esperava havia acontecido. Émerson tratara-a  cordialmente, mas ela era suficientemente inteligente para perceber que ele havia mudado. Em seus olhos não havia mais aquele brilho quando a fixava, e em nenhum momento ele demonstrara alguma atenção especial.

        De que lhe valera esperar tantos anos? Ele a tratara de forma banal, e notava-se que não estava nem um pouco interessado em voltar ao passado.

        Mildred atirou a bolsa sobre a cama, tirou os sapatos e deitou-se mesmo vestida, pensando numa maneira de reverter a situação.

        Não pretendia aceitar a indiferença dele. Era uma mulher atraente. Ele a havia amado. Não podia deixar-se abater. Oito anos era muito tempo. Ele a havia esquecido, mas sob aquela indiferença deveria haver ainda um pouco daquela chama que ela se encarregaria de fazer reviver.

        Não estava habituada a perder. Não podia desanimar logo no primeiro encontro. Pensando bem, a resistência dele tornaria mais interessante a conquista.

        A família de Valdo mostrara claramente a intenção de promover o namoro deles. Isso mostrou-se contraproducente. Sabia como eles pensavam, e devem  ter comentado sobre quanto ela o amava e esperara sua volta. Pois ela faria justamente o contrário. Fingiria haver esquecido o passado e talvez até desse um pouco de corda a seus admiradores para provocar o ciúme de Émerson.

        Resolveu que a primeira oportunidade falaria claramente com ele. Diria que do passado restou apenas amizade, que ela gostaria de reatar. Ouvira-o falar com entusiasmo sobre o instituto que pretendia fundar. Mostraria interesse e tentaria participar ativamente a seu lado, apaixonado e submisso.

        Animada, levantou-se e preparou-se para dormir. Deitou-se mas demorou a pegar no sono, pensando em como realizar seus planos.

        No dia seguinte à tarde ligou para Laura:

        - Estou precisando fazer umas compras. Quer me fazer companhia? Depois poderemos ir a uma confeitaria tomar sorvete.

        - Eu não pretendia sair hoje.

        - Eu gostaria muito de conversar com você. Posso apanhá-la dentro de meia hora?

        Laura hesitou um pouco, depois concordou. Quando desligou o telefone, Valdo, que ouvira a conversa, perguntou:

        - O que foi? Você está com uma cara...

        - Era Mildred. Ela me convidou para sair. Estou surpresa.

        - Eu sei. Vocês nunca se afinaram muito. Você sempre se esquivou dela.

        - Não gosto dela. É antipática, falsa, faz tipo de mulher fatal.

        Valdo desatou a rir.

        - Não está exagerando?

        - Não.

        - Então por que concordou?

        - Fiquei curiosa. Ela quer falar comigo.

        - Hmm... Vai ver, quer sua ajuda para reconquistar Émerson.

        - Se for isso, não vai conseguir nada. Não tenho vocação para me meter na vida dos outros.

        - É bom mesmo. Seria pura perda de tempo. Émerson foi claro ontem comigo: não quer mais nada com ela. Não gostou da atitude de mamãe tentando aproximá-los.

Tudo tem seu preçoOnde histórias criam vida. Descubra agora