Mildred desligou o telefone com raiva. Marcelo havia lhe perguntado se ela estaria presente na reunião do domingo à tarde. Respondera que sim e imediatamente foi falar com a administração do instituto para inscrever-se. Mas para sua surpresa ficou sabendo que aquele era um encontro do qual participariam somente alguns convidados de Émerson.
Imediatamente procurou-o, dizendo que queria ir aquela reunião.
- Nessa você não poderá ir - respondeu ele. - Mas posso recomendar alguns cursos cujas inscrições estão abertas e que seriam mais adequados a você.
Mildred dissimulou a contrariedade e preferiu não insistir. Pelo tom firme de Émerson, percebeu que ele não mudaria de idéia.
Decidiu agir por conta própria. Telefonou para Laura no dia seguinte. Depois dos cumprimentos, perguntou se ela iria ao instituto no domingo.
-Irei.
- Você viu aquele moço moreno, lindo?
- Quem?
- Marcelo. Ele se interessou por mim e eu gostei dele. Combinamos nos encontrar lá. Por isso irei com você.
- Desculpe perguntar, mas Émerson a convidou?
- Não... Mas nós somos amigos. Se eu for, ele vai gostar.
Laura hesitou um pouco, depois disse:
- Olhe, Mildred, ele me disse que não vai permitir a presença de ninguém além dos que escolheu. Trata-se de uma reunião de trabalho. Nem Valdo ele convidou. Disse claramente que não queria que ele fosse. Por isso, se deseja mesmo estar lá, fale com ele. Eu não tenho autorização para levar ninguém.
- O que é isso, Laura? Estou estranhando você. Sempre foi muito educada.
- Desculpe. Não posso tomar essa liberdade com Émerson. Ele está levando muito a sério seu trabalho. Depois, nem sei do que vamos tratar nessa reunião. Se você gostaria de ir, fale com ele.
Mildred sentou-se no sofá tentando engolir a raiva. A sonsa da Laura ainda iria lhe pagar por aquela desfeita. Onde já se viu? Ela, que sempre fora invejada e disputada onde quer que fosse, não podia aceitar aquela humilhação.
Sabia que à tarde Laura não estaria em casa e resolveu aproveitar para visitar Almerinda. Ela gostava de tomar chá à tarde com algumas amigas.
Encontrou-a sozinha e disse sorrindo:
- Senti saudade de tomar um chá com a senhora. Faz tempo que não tenho esse prazer.
- Fez bem, minha filha. Sente-se, por favor.
- Obrigada. Ontem estivemos na inauguração do instituto de Émerson. Não a vi lá.
- Não pudemos ir. Mas já estive naquele lugar e gostei muito. Laura voltou entusiasmada. Adorou.
- E Valdo?
- Bem, ele gostou, mas, para ser sincera, a meditação, o estudo, não é bem seu forte. Ele gosta mais do ruído, do movimento, da agitação. Apesar disso, admira muito o trabalho de Émerson.
- Na verdade, Émerson mudou muito. Não é mais a mesma pessoa. Eu o preferia como era antes. Mas isso passou. Hoje eu o vejo de outra forma.
- Seu amor por ele acabou?
- Nem sei se foi amor. Acho que foi ilusão da juventude, nada mais. Quando o vi depois de tantos anos, senti que tudo estava acabado.