Capítulo 4

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        Émerson contemplou a sala com satisfação. O ambiente era simples e aconchegante, exatamente como queria. Sentou-se na poltrona, apanhou uma pasta e, abrindo-a, iniciou a leitura atenta de seu conteúdo.

        Não podia esquecer nenhum detalhe. Desenvolvera aquele projeto quando ainda estava no mosteiro, depois que seu professor e mestre o chamara e dissera:

        - Hoje você terminou sua iniciação. Até agora a vida lhe deu tudo que foi possível para você conquistasse seu progresso espiritual. Você recebeu esclarecimentos, luz, aprendeu alguns dos mistérios que só os iniciados podem penetrar. É hora de experimentar, de conferir, de descobrir quanto você captou do que lhe foi passado. E isso só será possível vivendo.

        - Mas quero ficar um pouco mais. Conheci outros povos, outros conceitos, experimentei situações, mas foi aqui que encontrei a sabedoria, a paz, que minha sensibilidade se abriu e pude contemplar outras dimensões do universo. Sou muito grato pelo carinho com que me acolheram. Gostariam de poder permanecer aqui para sempre.

        - Nós o amamos muito, meu filho. Nosso coração pede a Deus por sua felicidade. Mas sua missão é lá entre seu povo, que precisa de conhecimento. Você veio para ser o intermediário entre a sabedoria divina e seu grupo de evolução. Ficar aqui seria impedir seu crescimento e a multiplicação do bem. Você sabe que a separação não existe quando estamos unidos pelo amor divino. Você tem mais um mês para estar conosco. Portanto, deve programar como deseja iniciar seu trabalho em benefício dos seus.

        Émerson baixou a cabeça pensativo. Voltar seria encontrar novamente as injustiças sociais, a perturbação de uma sociedade descrente mergulhada nas próprias ilusões. Teria forças para manter o próprio equilíbrio conquistado durante aqueles anos?

        O mestre colocou a mão sobre seu ombro, dizendo com voz suave:

        - Se você não conseguir manter a serenidade em qualquer circunstância, então de nada lhe valeu o tempo que passou aqui.

        Émerson entendeu. Era preciso enfrentar a turbulência do mundo para saber se havia aprendido. Abraçou seu mestre, curvou-se e saiu.

        A partir daquele dia, começou a programar que rumo daria à sua vida quando voltasse. Depois de muito meditar e de pedir a ajuda espiritual dos grandes mestres do universo, Émerson começou a esboçar seu projeto.

        Acreditava na perfeição da vida, em sua bondade e sabedoria. Descobrira que a infelicidade do homem era causada por sua incapacidade de orientar-se, deixando-se conduzir pelas ilusões, pagando por isso o preço da dor.

        A inversão de valores criara regras sociais que deturpavam a verdade, dificultando que as pessoas pudessem escolher melhor seus caminhos.

        A maneira de enxergar a vida é fundamental porque influi nas atitudes e escolhas, programando os resultados que terão no futuro. Portanto o sofrimento humano é um problema de educação espiritual.

        Se os homens descobrissem a finalidade da vida, se pudessem conhecer os verdadeiros valores do espírito eterno, certamente mudariam suas atitudes e evitariam muitos sofrimentos.

        A evolução do espírito é lei universal. A vida cria desafios todos os dias para que a alma conquiste maturidade. As dores do crescimento são inevitáveis. Entretanto, elas são insignificantes diante do volume de sofrimentos que o homem cria por ignorar como a vida funciona.

        Pensando assim, Émerson resolveu que criaria um instituto do conhecimento espiritual, onde desenvolveria um trabalho de iniciação ensinando tudo que aprendera no mosteiro. Esse conhecimento fizera-lhe imenso bem.

Tudo tem seu preçoOnde histórias criam vida. Descubra agora