A garota entre todos os adultos do recinto se via presa ao monitor luminoso há muitas horas, como fazia todos os dias desde que a amiga havia sido mandada para o lugar no qual as telas mostravam.
Vamos lá, está tudo bem pensa a garota. O que poderia dar errado? Thomas e o bobão ali darão conta de tudo. Crystal observava ansiosa ao primeiro dia como Corredora da amiga, o que de alguma forma ela mesma havia manipulado tal acontecimento.
Encostada ao lado da porta automática da imensa sala de vigilância estava Clarke, aquela quase idosa de cabelos escuros e cacheados que sempre cuidava de "seus bebês", como gostava de chamá-los. A mais velha bebericava uma caneca de café, observando Crystal, que não tirava os olhos dos monitores desde cedo.
-Você já fez o suficiente. –Diz Clarke se aproximando. –Vamos, faça uma pausa, eu assumo daqui em diante.
A garota a ignora, ou até mesmo nem ouviu o que a mais velha lhe dissera, concentrada demais no que ocorria nas telas.
-Ei! –Diz a senhora em um tom mais elevado, chamando a atenção da asiática.
-Oh não te vi aí! –Ela diz sem desviar os olhos das telas, dando uma fungada no ar e sentido o forte odor que o café preto exalava. –Esse café é para mim? –Ela fala já estendendo as mãos para a mulher ao seu lado, que revira os olhos, mas acaba entregando o recipiente mesmo assim.
A garota assopra o topo da caneca a fim de esfriar o conteúdo, mas acaba deixando-a de lado para teclar inúmeros códigos e palavras entranhas no teclado a sua frente, apenas esquecendo a caneca até que seu café esfriasse.
A senhora ao seu lado que se vê sem tarefa alguma, pega um de seus cachos escuros e brinca com ele entre os nós dos dedos. Seu olhar corre pela sala calmamente, observando todas aquelas pessoas trabalhando, vidrados como Crystal nos monitores. Mas é claro que o caso da menina era diferente, ela apenas queria se certificar que a amiga, o irmão e o namorado estavam bem como haviam lhe prometido.
A garota finalmente arrisca tomar um gole de café, ainda sem tirar os olhos da tela. Algo muito importante estava acontecendo. Clarke observa o que ocorre na tela.
-Está funcionando pessoal! –Ela diz após perceber o que estava acontecendo, alto para que todos na sala ouçam, recebendo em resposta uma pequena comemoração. –Finalmente decidiram testar o Penhasco, sem Anne eles não fariam isso. –Ela diz apenas para Crystal, colocando uma mão em seu ombro, que olha para a mais velha com um ar de orgulho.
Mas tarde o sorriso foi sumindo do rosto de Crystal. O que está acontecendo? ela se questionava, Isso não deveria acontecer.
-Por que aqueles verdugos estão se aproximando? –Ela pergunta, com um desespero surgindo em seu peito. –Desativem, essas não são as ordens! –Ela avisa aos outros, alarmada.
Todos ficam tão surpresos quanto ela com a ação das criaturas, que sendo por eles controladas, deveriam fazer apenas o que lhes era programado. Mas Clarke sabia, o único jeito de Anne receber aquela memória crucial era pela transformação, mesmo colocando sua filha de mentirinha em risco ela sabia que era o certo. Então antes do dia começar ela reprogramou os bichos, fazendo com que o objetivo deles fosse picar a garota ruiva.
Todos tentam de todo o jeito desativar os Verdugos, mas é claro que não conseguem. Crystal observa o irmão enfrentar um dos bichos, de modo ágil e profissional, agitada ela torce, não deixando de ter medo por ele. Ao ver o outro se aproximar de Thomas fica atônita, ela se tornaria viúva antes mesmo de se casar?
Mas então o verdugo se desviou dele, tudo bem ela pensou, mas então se lembrou de Anne. E após o namorado ser jogado para o lado e ir em direção à garota ela percebeu, seria o fim da amiga. Porém ao ver a atitude inteligente da ruiva, soltou a respiração que nem mesmo ela sabia que estava prendendo.
Clarke viu a animação e alivio nos olhos da asiática, mas sabia que aquilo duraria pouco, ficando cada vez mais arrependida por escrever um destino daqueles para a ruiva.
Na tela, Crystal assiste ao namorado, que levanta Anne e ela pode ver. Uma mancha escura crescia pela blusa da amiga.
-Mas que merda está acontecendo? –Ela pergunta, para ninguém em particular, começando a se desesperar novamente.
-ELA FOI PICADA...! –Diz Minho, como se respondesse a irmã.
-Eles ainda têm o estoque de soro que receberam esse mês, certo Dr. Sprout? –Ela diz se referindo a um quarentão com cabelos grisalhos, que acena em afirmação. –Ótimo. –Ela suspira tentando se acalmar, falhando miseravelmente.
-Eles vão conseguir chegar a tempo, não se preocupe. -Clake diz tentando confortá-la, enquanto acompanhava Crystal que se deslizava com a cadeira para outro conjunto de monitores. -O que vai fazer? -Ela questiona ao ver a garota digitar, preocupada se a ação fosse estragar seu plano.
-Ela tem que ter memórias boas pelo menos, então eu mesma separarei as memórias para a transformação. -Crystal responde digitando com apenas uma mão, pois a outra esfregava os olhos cansados.
-Eu faço isso, não se preocupe. -Clarke diz tentando tirar a garota da cadeira, afinal ninguém além dela mesma sabia do plano e a memória certa.
Crystal se recusava, ela mesma queria "fazer as honras", mas Clarke não iria deixar tudo que fez até agora passar batido. Ela já havia se arrependido por ter machucado Anne, agora não conseguiria terminar o plano?
Quando Clarke finalmente conseguira convencer a asiática, não perdeu tempo e começou a digitar. Mas algo lhe interrompeu:
-Eles não vão conseguir! -Crystal diz alto ao observar as telas.
Clarke assiste o que acontece. As portas estavam se fechando.
-Faça alguma coisa! -Crystal diz para ela, colocando a mão em seu ombro.
-São contra as regras, não podemos! -Alguém diz ao fundo da sala, fazendo Clarke se sentir cada vez mais culpada.
As portas pareciam estar com pressa, fechando muito rápido, os meninos estavam tentando fazer tudo o mais rápido possível. Crystal percebeu que do lado de dentro da Clareira haviam vários moleques a espera do trio, todos preocupados como ela, até que um deles vai em direção as portas.
Logo o garoto manco? ela reclamou mentalmente. Mas até que Newt foi de boa ajuda, e quando chegou sua vez de voltar algo ligou dentro de Crystal.
Anne não merece perder mais alguém.
-Ele não vai passar, vai ser esmagado! –Ela grita, porém ninguém a ouve. A garota visualiza o teclado da mesa de controle, aquelas teclas brilhantes, com a adrenalina pulsando em suas veias, se lembrando de toda a sequencia de números, até que começa a digitar rapidamente.
As portas param de se fechar no mesmo instante e, após Newt passar, ela volta a apertar os botões, continuando com o fechamento das portas.
Clarke, como muitos outros da sala, direciona um olhar meio de reprovação meio de alivio para Crystal, que sente os colares queimarem em sua nuca.
-Eu sei, é contra as regras. –Ela diz se virando para os outros. –Mas a questão é que daqui a um tempo eu farei as regras, então voltem a fazer o que estavam fazendo e cuidem das suas vidas.
-O que diabos acabou de acontecer aqui? –Janson entra na sala pela porta automática, pisando duro. –Quem interferiu dessa forma? -Sua voz alta e grave faz os funcionários se encolherem.
-Ela só quis poupar o garoto, aliás a morte dele não estava nem planejada...-Clarke começa a dizer com calma, mas é interrompida pelo homem.
-Não me interessa! Ela não devia fazer isso em circunstância alguma. A senhorita Wang não pode tomar decisões desse tipo! –Ele diz alto, fazendo Clarke se encolher.
-Você não tem o direito de falar com ela assim, nem com ela nem com ninguém! –Crystal diz irritada, se pondo a frente de Janson. –Eu posso tomar decisões desse jeito sim! "Geração futura de Comandantes" está lembrado disso, homem rato?
Ela bebe um gole de seu café, saindo da sala, mas o cospe de volta na xicara.
-Essa merda tá fria. –Ela resmunga empurrando o recipiente para qualquer um ao lado da porta antes de passar por ela.
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when the glade burns || tmr
Fanfiction❝ The flame has arrived. Are you ready for the fire? ❞ Todos no CRUEL esperam que ela esteja do lado deles e que os ajudem com as variáveis, mas a real razão pela qual entrou no experimento, é voltar para os braços de seu amado e ajudar os outros a...