ZAIRA 27

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Ouvi alguém bater na porta. Depois de algum tempo sentada num canto do corredor, decidi voltar para o meu quarto, onde tinha a certeza que ninguém me iria ver.

Isto pensava eu.

Eu sabia que para saír daqui, mais uma vez, ia ser quase impossível, visto que o meu pai deve ter reforçado a segurança por eu fugir da última vez.
Ainda hoje não sei como aquele homem não me apanhou no bosque.

Dou ordem para entrar e vejo Dimitri caminhar até a mim.

- Já soube o que aconteceu.

Ele senta-se à minha beira e eu afasto-me um pouco.

- Eu estou bem. Não precisas de ter pena de mim.

Respondo, encarando o chão.

Dimitri retira uma mecha do meu cabelo para trás da orelha e aproxima-se, mostrando de novo a caixa do anel.

- O teu pai deu-me isto. Disse que queria que ficasses com ela.

Ele coloca-me o anel na mão, sorrindo.

- Eu não quero que o nosso casamento se realize, Dimitri. O meu pai não pode nos obrigar a fazer isto, não entendes?

Falo e o seu sorriso desaparece do seu rosto.

Levanto-me e vou até ao meu armário, retirando de lá um álbum de memórias antigas.

- Mas precisamos de fazer isto, Zaira.

Dimitri veio até mim e agarrou o meu braço, juntando-me a ele.

- Precisamos de fazer o que é bom para todos, para o teu pai.

Vejo de novo os seus lábios demasiado perto dos meus, e desviei, como sempre o fazia.

- Bom para todos, menos para mim.

Digo, encarando, de novo, o móvel de madeira à minha frente.

Ele não desiste e prende o meu corpo na parede, não me deixando saír.

- Não podes resistir sempre de mim, Zaira.

Ele acaricia o meu rosto e beija o meu pescoço. Tento afastá-lo, mas o mesmo prende as minhas mãos na parede fria.

Eu estava encurralada. Não tinha por onde escapar, nem por onde fugir.

- Dimitri, nós não pode-emos...

Falo, enquanto o mesmo começa uns beijos no meu rosto. Virei a minha face para o lado, tentando evitar que ele chegasse nos meus lábios.

- Podemos Zaira. Eu amo-te.

Abro a boca de surpresa. Dimitri não sabia o que era amar alguém, não se faz isto a alguém que se ame, não se faz.

- Não, tu não me amas Dimitri. Apenas meteste na cabeça que o sentias, tudo porque o meu pai te colocou na mente que se não ficássemos juntos, ficavas sozinho. De novo, naquela casa... Mas, eu não te ia deixar sem ninguém, não te ia deixar voltar para lá. Não entendes? Eu não sou o meu pai, Dimitri.

Ele largou o meu corpo e os seus olhos começaram a ficar brilhantes.

Dimitri era de uma família bastante rica, mas de que serve a riqueza, quando não há amor?

Ele foi para uma casa de correção quando era novo e o meu pai trouxe-o para cá. Acho que foi a única coisa de bom que o meu pai fez a sua vida toda. Depois, Dimitri cresceu a pensar que tinha que fazer tudo aquilo que o meu pai queria, como um agradecimento para ficar seguro. Mas, mesmo nós termos nos amado em tempos... Isso passou e ele sabe disso.

Já passaram muitas discussões, guerras, conflitos que acabaram por destruir o resto de amor que havia sobrado.

As traições, tudo.

- Mas, eu não te posso abandonar Zaira, eu sempre te amei. Apenas era um idiota contigo, eu tinha que fazer aquilo que o teu pai me pedia.

Fechei os olhos, tentando perceber um pouco do que ele estava a falar.

- Dimitri, não me podes forçar a ter algo contigo, depois de tudo que já sofri por ti.

Ele suspirou fundo e sussurrou um " desculpa " no meu ouvido, abraçando-me em seguida.

- Eu vou te ajudar a saír daqui, Dimitri. Eu não te quero mal.

Falo e dou um sorriso.

Dimitri é uma pessoa perturbada por nunca ter tido uma infância normal, uma vida normal. Mas, no fundo tem um bom coração e precisa de alguém que o ajude a conseguir ser de novo livre. Livre do meu pai e das suas exigências em me manter longe de Caio.

- Desculpa, Zaira. Não te devia forçar a nada...

Ele senta-se na cama e olha para o teto.

- Não te preocupes, não vou deixar que Roger Bernardi ganhe mais uma vez.

Dou um sorriso e observo o álbum, que fui buscar há pouco ao armário.

Às vezes penso o quanto a minha vida podia ter sido diferente, caso tivesse tido um rumo diferente.

Será que Caio iria passar na mesma por a minha vida? Pois, se eu tivesse a oportunidade de mudar tudo e ficar só com ele, eu ficava.

Isto se ele ainda quiser ficar comigo.

Penso tanto no facto de como é que ele quer alguém tão próximo do seu inimigo? Que é filha do seu inimigo?

Depois de tudo juro que não sei.

- Diz-me onde é que eu errei, Zaira.

Dimitri falou, distraindo-me dos meus pensamentos.

Era como se por fim, ele estivesse a encarar a realidade, que até agora estava escondida para si.

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CONTINUA NO PRÓXIMO CAPÍTULO.
DIGAM-ME O QUE ESTÃO A ACHAR, PIPOCAS.
BEIJOS.

In(quebrável) - Máfia e Vingança Onde histórias criam vida. Descubra agora