Capítulo 5

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Tomou a coragem que tinha e foi fazer o que deveria ter feito quando partiu. Laura havia pegado uma boa porrada da vida e partiu com o rabo entre as pernas e chorando os pedaços de seu coração quebrado e torturado. 

Mas hoje não! Não se deixaria pisotear pelo pai, por Carlos ou por qualquer outra pessoa que naquela época havia julgado sua conduta. Todos ao seu redor a tinham olhado com olhos de pena, mas no fundo a julgavam. Não sabiam que ela não tinha feito o aborto porque queria. Nunca se esquecera de como a perversa Yasmim havia espalhado fotos dela no hospital após o aborto. 

Tudo foi tão abrupto. Em uma semana viu sua vida inteira cair em sua cabeça e fez a única coisa que podia fazer quando tinha apenas 17 anos e estava mais do que envergonhada, ela fugiu. 

Yasmim sempre a odiou por motivos que Laura nem mesmo conseguia saber. Hoje ela sentia pena da menina, não sabia o que Yasmim havia feito da vida e nunca mais teve noticia da mesma, mas sabia que com um coração tão maldoso a vida dela não poderia ser feliz. 

Quando voltara para casa depois de passar uma semana se recuperando na casa do tio Laura teve que manter a mentira de que tinha passado a semana com a prima para consolar-lhe o coração partido. Lembrava com clareza as palavras do pai no jantar daquela noite.

- Sofia sempre esteve muito vulnerável a situações do tipo. Não consigo entender como meu irmão pode ser um pai tão ruim, mas não dá pra culpar Sofia por ser tão promíscua. Eu sei que vocês são primas e se amam, mas começo a achar que ela não é uma boa influência para você. Deus me livre de ver você tão nova envolvida em relacionamentos amorosos" Isso seria uma vergonha! Minha filha, eu gostaria de pedir que se mantenha mais afastada até porquê muitos poderia julgar você pelas atitudes de sua prima. 

Laura tinha o coração partido por saber que se seu pai soubesse que estivera grávida seria a maior decepção da vida dele. 

Jamais imaginou que no outro dia quando chegasse a escola teria fotos suas do hospital nas mãos de todos os colegas. Laura sabia que não tinha sido Carlos e teve certeza que havia sido Yasmim assim que olhou nos sorriso largo no rosto da megera. Nunca se permitira pensar muito como Yasmim havia conseguido a informação, isso não importava mais. Sua vida estava destruída. Todos acreditavam que Laura havia feito o aborto para se livrar do problema. E o boato se espalhou em tempo recorde. 

Seu pai não soube pelos boatos. Quando chegou em casa viu uma caixa especial encima da mesa com as mesmas fotos. O pai havia recebido assim que a jovem saiu para o colégio. Ele não gritou, não brigou e nem quis matar Carlos e Laura ficou muito surpresa pela atitude do pai. Ricardo apenas chorou. Ele chorou por uma noite inteira abraçado a filha. Ambos choraram desesperadamente pela tragédia que os atingia. Nunca conversaram a respeito de tudo e Laura era grata pelo pai nunca ter feito ela passa por isso. 

Laura viu sua escapatória quando recebeu um convite da Universidade de Londres para cursar a graduação. Não pensou muito arrumou as malas duas semanas depois quado formou-se no ensino médio e fez uma longa viagem até o seu recomeço. 

E ela havia recomeçado. Laura sabia que seu tio e sua prima haviam contado com mais detalhes a seu pai como tudo aconteceu e como Laura havia perdido o bebê. Jamais imaginou que seu pai se tornaria sócio de seu maior inimigo. Ele matou o seu bebê, como seu pai poderia empregar um assassino?

Dias Atuais

Ela não estava disposta a se esconder, mas também não queria vê-lo. Não foi as empresas do seu pai e passou bem longe de todas elas. Se manteve ocupada em organizar o seu casamento e esperou pelo momento certo de conversar com Ricardo. Todos estavam muito a seu redor e Laura gostaria de falar com o pai com o máximo de privacidade. Mas Sofia e Júlio estavam empolgados com o casamento e se mantinham sempre por perto para dar alguma opinião ou ajudá-la. 

A oportunidade chegou uma semana depois. Laura estava chegando em casa após a primeira prova de seu vestido. Sua prima tinha lhe acompanhado, mas fora pra casa depois porque queria se arrumar para um encontro que teria naquela noite. Seu tio precisou viajar de carro para uma cidade do interior. Júlio era um dos poucos contadores especializado em contabilidade pública do Estado e foi contratado pela prefeitura de Presidente Figueiredo para acompanhar uma licitação. A cidade ficava a duas horas de manaus, mas ele passaria a noite lá e só voltaria a Manaus no outro dia para não pegar a estrada a noite. 

Quando Laura entrou em casa ficou aliviada de ver que o pai estava na cozinha fazendo o jantar. Ficou surpresa com o quanto ele era independente. Não havia parado para pensar que o pai tivera que aprender a se virar morando sozinho. 

- Oi pai. Cheguei. 

Ela veio por trás abraçando-o e rindo quando ele assustou-se. 

- Oi querida. Espero que ainda goste de uma lasanha de verdade. 

- Você sabe que é um dos meus pratos favoritos. 

- Estou satisfeito então. 

- Eu queria conversar com você. Mas é um assunto delicado. 

- Você sabe que pode me falar qualquer coisa. Só não me peça para ir morar com você em Londres novamente. 

- Tudo bem pai. Eu já sei que você não arreda o pé deste pedaço de chão. 

- Então o que está havendo?

- Quem é o seu sócio minoritário? 

A postura de Ricardo mudou completamente e ficou impossível negar ou duvidar que ele estivesse realmente trabalhando com Carlos. Ele percebeu que não adiantava fazer rodeios e nunca gostou de tentar arranjar desculpas para suas decisões. Por fim foi direto com a filha. 

- Meu sócio minoritário chama-se Carlos  e acredito que você o conheça muitíssimo bem. 

- A minha maior pergunta é: por quê? Pai... eu sei que nós nunca conversamos sobre isso, mas ele acabou comigo. Ele foi o motivo pelo qual eu fui embora, como você pôde aceitar trabalhar com ele? 

- Não cabe a mim julgar ou falar a respeito do que houve entre vocês. Pelo que eu sei assim como nós nunca conversamos a respeito vocês também nunca conversaram. A diferença é que comigo você não tinha nada para resolver, mas com ele você não só tinha como ainda tem. E pelo amor de Deus, não me pergunte o porquê, mas eu acredito nele. 

- Você o que? Você acredita nele? Pai, com todo o respeito, mas você só pode ter ficado louco!

- Você seguiu em frente. Até onde eu sei Laura você irá casar e voltará para Londres. Esses anos todos em que somos sócios e você nunca nem soube. Pra você isso não muda nada. 

- Muda! É claro que muda! Não por ter que vê-lo ou por conviver com ele, porque não o vejo nem convivo, mas convivo com o senhor. E jamais imaginaria que o senhor fosse ficar ao lado do homem que fez tudo o que fez comigo. 

O jantar acabou antes mesmo de começar, a lasanha já não tinha mais importância. Ricardo ficou muito magoado com as coisas que ouviu da filha, mas não poderia culpa-la, era ele quem estava escondendo coisas. Carlos precisaria contar a ela em algum momento. 

Laura subiu para o seu quarto e não desceu para jantar. Também não conseguiu dormir imediatamente, mas depois de tanto concentrar-se no que ainda precisava resolver para o casamento acabou sendo vencida pelo cansaço. Não queria pensar em Carlos, nem na dor e muito menos na traição de seu pai, mas os sonhos não são controláveis e ela sonhou naquela noite. Sonhou por toda a noite. Sonhou com o amor que sentiu, com os beijos, com a dor da separação e a perda de seu bebê tão amado. Na manhã seguinte sentia-se como se houvesse sido atropelada por cem caminhões. 

O Tempo que estive aquiOnde histórias criam vida. Descubra agora