Capítulo 26

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Naquele mesmo dia Ricardo sentou com Laura na varanda do quarto dela. Laura sabia que iria ouvir algo que não queria, mas não fugiu. 

- Sabe filha, eu sempre quis que você soubesse o melhor de mim e de sua mãe. 

- Mas vocês não são perfeitos, você sempre me disse isso pai. 

- Nuca vamos encontrar o culpado pelo aborto da sua mãe. 

- Como assim? Por que não? Você sabe quem foi?

- Sei. 

- E só agora que você conta isso? Estamos procurando esse cara há meses e você só conta agora que sabe quem foi o culpado pelo aborto da mamãe!? 

- Me escuta. 

Ricardo segurou o rosto da filha em suas mãos estando agora mais próximo a ela e pronto para ampará-la. Olhou diretamente em seus olhos e foi direto porque achou que seria mais fácil se falasse tudo de uma vez, mas a verdade é que não foi e nem nunca seria fácil. 

- Sua mãe abortou aquele filho. 

- Sim eu sei, por culpa de alguém que colocou misoprostol na bebida dela... 

- Não Laura. 

- Como foi comigo... 

- Sua mãe tomou misoprostol sabendo o que era e pra quê era.

- Não, eu sei que isso é dura papai, mas a mamãe amava o seu José Miranda e ela não mataria um filho. 

- Querida, sua mãe era jovem demais. Ela estava perdida, ela amava sim o José, mas nós nos apaixonamos e Deus sabe que eu teria criado aquela criança com muito amor, mas ela não me disse nada, apenas comprou o medicamento e o tomou. Sua avó sempre foi muito conhecida na sociedade e na época a minha família era uma das mais tradicionalistas da sociedade. Nosso dinheiro, não podíamos estar atrelados a um escândalo desses. Escute... quando nos casamos a primeira coisa que fiz foi optar por uma vida simples para nós sem essas imposições que o dinheiro trás. Fomos muito felizes assim, construí minha própria fortuna sem ajuda alguma dos meus pais. 

- Mas Carlos disse que desconfiou da meu aborto porque você lembrou da gravidez de risco da mamãe e que você não sabia que isso tinha acontecido com ela. 

- Carlos atendeu um pedido meu. Eu queria que você soubesse por mim dos erros da sua mãe, queria poder te dizer para não ter raiva ou vergonha dela. Queria que você soubesse na hora certa. 

- Então vocês mentiram pra mim?

- É verdade que desconfiei do seu aborto com base na experiencia que tive com sua mãe. Eu conheço você, jamais faria algo assim. E Carlos?  Você precisava vê-lo quando partiu! Estava destruído e não era pela culpa. Ele perdeu você, perdeu o filho que nem chegou a amar, mas que amaria com todo seu ser. Ele era um trapo de rapaz. 

Laura já estava banhada em lágrimas. Imaginou o quão perdida sua mãe podia ser para tomar uma decisão dessas. Encontrou o peito forte de seu pai e deixou que os braços dele a rodeassem. Era pura tristeza que sentia em seu coração. Desejara tanto seu próprio filho que não conseguia imaginar sua mãe, aquela mulher perfeita que desejaram tanto conhecer, não imaginava essa mulher matando seu próprio bebê. 

De repente Laura afastou-se de seu pai. 

- Eu preciso ir. 

- Pra onde? É perigoso querida. 

- Obrigada por me contar pai, mas eu preciso ir. 

Laura agarrou sua bolsa que estava jogada por cima de sua cama e saiu de seu quarto apressadamente, desceu as escadas correndo quase pulando de dois em dois degraus. Passou pela porta da frente ignorando que Thomas estivesse fazendo algumas perguntas, provavelmente relacionadas ao seu destinou o por que estava correndo. A verdade é que ela não entendeu uma palavra e não queria entender. Não queria mais ninguém naquele momento. 

Era meio de tarde quando  ouviu-se o bater na porta. Carlos olhou pelo olho mágico e surpreendeu-se ao ver Laura parada do outro lado de sua porta. 

Ele abriu a porta devagar e olhou para ela. 

- Eh... você tem tempo? Está sozinho?

- Bom, não vou a empresa hoje, estou tentando seguir uma rotina imprevisível e Bernardo está na escola...

Laura quase não deixou que Carlos terminasse de falar e subiu os dois degraus que os separava correndo, lançou-se em seus braços e chorou. 

- Eu... eu... [soluços] Eu não faria isso com nosso filho... [soluços] Não sou minha mãe... Eu... não sei como ela pôde. 

Carlos deixou que ela chorasse por um tempo. Em seu peito, em sua mente, só lhe importava que ela havia ido até ele. Que ela tinha quisto ir até ele e decidido seguir sua vontade. 

- Shiiiiu... Pode chorar querida... Ela era sua mãe e... eu jamais duvidaria que você quisesse nosso filho. 

- Como você pode ainda ter pena de mim? Como pode não me odiar? Você tinha tudo para acreditar que eu tivesse feito o mesmo que minha mãe e fui eu quem te acusou. 

- Você veio até mim não veio? Você foi embora e agora está aqui. O que quer de mim Laura?

Carlos continuava a segurá-la em seus braços. Cambaleou com ela para dentro de casa fechando a porta atrás dela e sentou-se no chão com ela ainda abraçada ao seu peito. Trouxe- para seu colo e começou a embalá-la enquanto questionava, mas de maneira doce. 

- O que sente por mim querida? Eu preciso que você admita. Não vou mais correr atrás de você, mas estarei aqui esperando você procurar por mim. E você está aqui. O que quer de mim Laura?

Ela levantou seu rosto com os olhos vermelhos quase da mesma cor que suas bochechas e a ponta de seu nariz. Olhou para Carlos com o olhar ainda cheio de dúvidas, mas desmontou-se quando olhou para os lábios dele. Por fim, pediu o que perdeu e o que sempre quis. 

- Quero nossa história, quero a vida que não vivemos, quero nosso filho. 

Carlos sorriu, mas de seus olhos caiam lágrimas. Esperou tanto tempo para ouvir aquilo. Esperou 16 anos! 

Baixou seu rosto até o dela, soltou sua cintura para segurar firmemente o rosto dela entre as mãos. Segurou o olhar dela por alguns segundo como dando a ela uma ultima chance de mudar de ideia, mas Laura apenas assentiu levemente com a cabeça confirmando o que dissera, no mesmo instante Carlos tomou a boca dela com avidez. 

Foi totalmente diferente da ultima vez que se beijaram, apesar de todo o amor que haviam compartilhado naquele dia, não haviam decisões, não havia reconciliação, não havia razão. Foi apenas a explosão de anos de muita saudade e necessidade um do outro.  Mas agora, naquele beijo, ambos consentiram na decisão de estar lado a lado novamente, aceitaram o que sentiam um pelo outro e se entregaram aquele beijo. 




SERIO GENTE: NEM ACREDITO QUE ESSE CAPÍTULO SAIU! 

RALADO

Enfim... Só queria lembrar vocês de sempre acompanhar as minhas postagens lá no blog: https://leiabooks.blogspot.com/

Tem bastante livro lá e a revisão de O Tempo que Estive Aqui também está sendo postada lá. Já estamos indo pro segundo capítulo (texto definitivo). 

No mais gostaria de agradecer a todos que me apoiaram quando eu disse que estava com bloqueio para escrever este capítulo. Vou estar sumida no feriado porque vou viajar, mas pretendo voltar postando tudo o que eu escrever na viagem... então me aguardem 


Bjus da Tia Nath

O Tempo que estive aquiOnde histórias criam vida. Descubra agora