Era final de tarde quando Laura acordou nos braços de Carlos. Ela sorriu lembrando que sempre fora assim, ele dormia bem mais do que ela. Laura amava a maneira como logo após o ápice da satisfação sexual, Carlos a beijava longamente enquanto a trazia para perto de si aconchegando-a em seu abraço, embalando-a. Aqueles momentos exalavam segurança.
Enquanto observava o rosto relaxado do homem que amava Laura descontraidamente pensou sobre como romperia seu compromisso com Thomas. Questionou-se o quão complicado seria, mas a verdade é que ela simplesmente não se importava, já havia demorado muito para voltar com Carlos, não iria perder nem mais um dia.
Carlos sentiu que estava sendo observado, mas permaneceu de olhos fechados e manteve seu rosto adormecido. Já era bom demais saber que ela estava ali em seus braços. Relutou por um tempo, mas concluiu que em algum momento teria que abrir seus olhos. Quando o fez, ela ainda estava ali, então sorriu preguiçosamente. Ela sorriu de volta, mas depois de alguns segundo seu sorriso diminuiu até sumir de seus lábios e então ela falou diretamente o que se passava em sua mente.
– Eu não sei o que fazer agora.
– Eu também não.
Laura o encarou incrédula, pois aquela não era a resposta que esperava, ela não conseguia imaginar como aquele homem maravilhoso sequer a suportava.
– Me escuta com bastante atenção.
Carlos levantou sua cabeça apoiando-a em seu braço para olhá-la nos olhos.
– Vamos ficar loucos se tentarmos entender cada detalhe de tudo que nos aconteceu ou resolver cada problema que aparecer. Não podemos concertar tudo nessa vida. Será que você consegue apenas seguir em frente? Porque sinceramente meu bem, eu ainda amo você com cada célula do meu corpo e o que acabamos de fazer me prova que você ainda sente o mesmo, independente de tudo o que passamos ou de quantos anos você esteve longe.
– Com você ao meu lado eu consigo fazer qualquer coisa.
Carlos abriu novamente seu sorriso relaxado, satisfeito com a resposta que recebera. Voltaram a fazer amor naquele final de tarde, depois tomaram banho juntos de maneira tão natural quanto um casal que vive junto há mais de quinze anos.
***
Em casa Laura pegou-se olhando no espelho atentamente o seu reflexo. Os acontecimentos da vida são os verdadeiros formadores das pessoas. Ele moldam sem piedade e fazem de cada um o que realmente devem ser. Laura tornou-se uma mulher amarga e mecânica quando perdeu o seu bebê e agora com um noite nos braços de Carlos voltou a sentir-se como uma adolescente. Ainda carregava dentro de si as lembranças de um passada ruim, mas agora ele parecia distante como realmente o era e mais leve, leve como nunca imaginou que seria.
Thomas não estava em casa. Contou os dia e estava tão próxima a data do casamento que nunca aconteceria. Um pouco mais de pressa, um casamento sombrio e luxuoso em Londres e Laura teria sido aquela mulher amarga pelo resto de sua vida.
Ricardo informara a Laura assim que ela retornara que Thomas havia saído com sua mãe para algum encontro com pessoas do seu interesse empresarial. Thomas não havia questionado sua ausência após saber da conversa que ela tivera com Ricardo. Ricardo no entanto não deixara passar despercebido que Laura não retornara ao lar triste como havia saído e ele conhecia bem o nome daquele sorriso.
Ricardo imaginou se as coisas estavam finalmente seguindo o rumo que deveriam seguir. Seria difícil o rompimento com Thomas, mas Ricardo estava disposto a apoiá-la.
Laura desceu as escadas percebendo que a noite já havia caído o que indicava que Thomas devesse estar chegando a qualquer momento.
- Filha, eu estou de saída.
- Onde o senhor vai? Não estamos seguros e já é noite. Talvez devêssemos utilizar os seguranças da empresa em casa.
- Eu estou indo exatamente para lá. Pacheco ficou de me acompanhar por hoje até que eu consiga contratar mais seguranças. Infelizmente já estamos com dois de férias nesse mês e não podemos nos dar ao luxo de deixar a empresa desprotegida. Carlos já segurou pontas demais em meu lugar enquanto eu me mantinha na segurança de casa e agora surgiu um problema que eu mesmo preciso resolver.
- Pai... eu sei que está complicando, mas estamos também mais perto de descobrir tudo, por favor, não faça nada arriscado.
- Laura querida, eu até estou indo a empresa de noite para ser mais imprevisível. Me dê um desconto tá?
- Tudo bem, mas por favor, ligue imediatamente se algo acontecer ok?
- Ok! Agora me deixe ir antes que o Pacheco crie raízes em seu carro.
Ricardo despediu-se da filha com um rápido beijo no rosto.
***
Talvez as coisas só estivessem certas demais, calmas demais.
[Barulho do telefone tocando]
Número desconhecido.
Era ele.
Laura sabia que era ele. Pensou por um momento em não atender, mas queria saber o que ele tinha a dizer. Se ele estava ligando é porque estava pronto a dar o bote e suas palavras poderiam trazer pistas, talvez uma forma de resolver tudo.
Atendeu
- Eu sei que é você.
- [risos] É claro que sabe. Eu não esperaria menos de você querida.
- Você é Michael Abranges...
Laura esperava que a menção do nome fosse fazê-lo recuar, fosse mostrar a ele que ela estava um passo a frente, mas ela não estava realmente.
- Você sabe meu nome, parabéns. Mas não sabe qual o meu rosto não é mesmo?
- Não tenho o menor interesse em conhecer seu rosto.
- Mas gostaria de saber quem está olhando para ele?
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O Tempo que estive aqui
RomanceLaura era uma menina doce, aberta e muito inteligente. Jamais se imaginou que a jovem promissora fosse se apaixonar por Carlos, ainda que o jovem fosse tão exemplar quanto Laura. Dominada por um pai ciumento e incentivada por um tio muito romântic...