Pacheco conta sem muitos detalhes o que o senhor José Miranda havia contado sobre o relacionamento que tivera com a mãe de Laura. O detetive ressaltou apenas o que encontrara de evidencia no depoimento. – Senhorita Silva, veja bem, ninguém poderia ter agido sozinho e não ter deixado provas. Concluímos também que esta pessoa tem que estar próxima a sua família e assim reduzimos bastante o número de suspeitos. Mas algumas declarações do senhor Miranda talvez reduzam ainda mais esse número. Por isso preciso que a senhorita ouça com bastante atenção o que ele disse e me diga se lembra de algo a respeito, qualquer coisa ou detalhe pode ser muito importante, então fale o que vier a sua mente.
Carlos, Laura e Pacheco aconchegaram-se sentados no sofá da ampla sala de estar. Laura já estava se acostumando com o gravador sempre presente nas conversas deles, Pacheco não falava sequer uma palavra sobre o caso sem o gravador ligado. – Primeiro, o senhor Miranda disse que sua família é amaldiçoada de modo que nenhuma mulher pode ter filhos e se der a luz a uma criança perderá a vida. Isso te lembra de algo? – De maneira nenhuma, eu sempre fui saudável, minha avó costumava dizer quando íamos a médicos que eu seria uma mãe maravilhosa. Minha avó está viva e minha mãe nasceu sem qualquer problema. Tudo o que aconteceu com minha mãe e eu foi obra de alguém! – Certo. Ele também disse que pessoas de elevada posição estão envolvidos nos acontecimentos.
Laura pensou por uns segundos e respondeu. – Sempre estivemos cercados de pessoas de alta posição social. Apesar de meu pai ter aberto mão da fortuna de sua família, os contatos, os amigos, todos sempre foram pessoas ricas e importantes. Carlos é filho de um político. Pessoas importantes por todos os lados! Mas o meu bebê não seria ameaça a ninguém.
Pacheco continuou mencionando o que havia destacado da conversa, Laura continuou respondendo o que lhe passava a mente e Carlos também o fazia. No final, Pacheco chegou a algumas conclusões importantes e partiu. Sofia ligou dizendo que estava no caminho da casa de Carlos para buscar Laura. As duas chegariam juntas na casa de Laura para não levantarem suspeitas. O problema pensou Laura, era que Sofia estava distante. A prima tinha precisado ir à cidade de Iranduba. Ficava a aproximadamente uma hora de Manaus. Do lugar onde Sofia estava provavelmente demorasse umas duas horas para chegar a casa de Carlos.
Isso deu tempo para que Laura ajudasse Carlos a tomar seus remédios. Eram mais pílulas do que Laura havia imaginado. Entregou-lhe o copo com água e os remédios, um de cada vez. – Por que não me contou que havia se acidentado? – Não passou pela minha cabeça fazê-lo. – Ela estava de costas para ele atrás do balcão da cozinha. Mas quando ouviu a sua resposta virou bruscamente, sua respiração acelerada, seu coração batendo forte e a raiva tomando sua mente. Bateu com força as mãos espalmadas no balcão assustando Carlos que estava sentado do outro lado. – Então quer dizer que se eu recebo uma ligação estranha, devo te contar imediatamente e você vem correndo, mas se você capota com seu carro e quase morre, nem sequer lhe passa pela cabeça me ligar e dizer "Oi! Estou vivo sabe. Você provavelmente irá me ver destruído por ai, mas não se preocupe, estou bem". E em que diabo estava a sua cabeça para acidentar-se assim?
Passado o susto Carlos apenas riu. – Você está rindo? Não se atreva... – Ele riu um pouco mais alto dessa vez. – Eu não acredito! Você é um idiota! – Laura xingou lhe enquanto virava-se de costas novamente e se apoiava no balcão de braços cruzados. – Ei! – Ela virou bruscamente descruzando os braços. – Que é?! – Se está preocupada comigo basta dizer. Diga-me para tomar cuidado, diga que me quer bem. Eu atenderei seu desejo.
Laura riu debochadamente enquanto dava a volta no balcão para parar na frente de Carlos. Teria batido nele se não estivesse suficientemente machucado. – Escute aqui...! – Escute você! No que eu estava pensando? Eu estava pensando em você! Desde que nos conhecemos eu só me ferrei! Sempre foi assim Laura. Seu pai me odiava, nosso bebê foi assassinado ainda no seu útero, você me acusou de ter matado nosso filho, quinze anos! Laura, quinze anos que eu esperei pra ver o seu rosto! E quando você aparece... é para se casar! Caralho! Eu estava pensando em você nos braços do seu noivo e imaginando se na cama com ele você geme como gemia comigo!
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Tempo que estive aqui
RomanceLaura era uma menina doce, aberta e muito inteligente. Jamais se imaginou que a jovem promissora fosse se apaixonar por Carlos, ainda que o jovem fosse tão exemplar quanto Laura. Dominada por um pai ciumento e incentivada por um tio muito romântic...