Capítulo 20

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Laura abriu os olhos e piscou algumas vezes até que sua visão se adaptasse a escuridão do quarto. Uma silhueta formou-se na escuridão. Viu o homem de grande estatura em pé quase que de costas para ela. Primeiramente inundou lhe o terror gélido e parecia amassar seu estômago. Com mais alguns segundos pôde reconhecer a forma daquele homem, mas o terror estranhamente não diminuiu. Laura percebeu que ele segurava o seu telefone e permanecia inteiramente interessado no que quer que estivesse lendo.

Lembrou-se então de como acordara. Ele havia dito que chegou uma mensagem para ela. Laura pôde ver o sorriso macabro surgir após o termino da frase. Ela sabia o quanto Thomas era ciumento e não seria aquela a primeira nem a última vez que o vira mexendo em seu telefone. Mas desde que voltara para Manaus, Laura sentia-se culpada e agia como uma. Nunca tivera motivos para sentir medo de Thomas, mas a verdade é que agora sentia. Em Londres, Laura se permitia controlar completamente. Estava perdida e precisava de alguém que lhe dissesse o que vestir, o que comer, com quem sair, conversar ou de quem manter distancia. Sentia-se protegida, mas com Carlos em sua vida começara a desejar novamente a liberdade que sentia com ele.

Dois homens tão diferentes. Thomas não era um homem ruim, mas carregava o peso de uma família tradicional, uma empresa mundial e sua personalidade europeia. Carlos era livre independente de sua posição social ou responsabilidades. Mesmo tendo amadurecido, mesmo tendo se tornado pai, ainda era o mesmo, sua essência ainda era a mesma. Laura olhava e só via seu menino perdido pela saudade da mãe e com mágoa do pai.

Ela fingiu que continuava dormindo, os olhos entreabertos, enxergando apenas vultos na escuridão. Abriu lentamente os olhos conforme ele deixava o celular novamente na sua cabeceira e caminhava para fora de seu quarto. Sentou-se em sua cama enquanto tentava recuperar o fôlego. Nem notara que segurava a respiração. Agora puxava e soltava o ar com desespero. Cambaleou até a sua porta. – Idiota! Custa trancar a porta? Sou muito idiota!

Xingou-se em sussurros. Trancou a porta e caminhou até seu telefone. Pegou seu telefone e entendeu. Carlos havia mandado mensagem. Concluiu que estava ferrada antes mesmo de ler a mensagem. Passaram muitas possibilidades pela sua cabeça. Estava preocupada que Carlos poderia ter escrito algo referente a quem quer que lhe esteja perseguindo, ou sobre o seu aborto, sobre a sua mãe. Mas o que mais lhe preocupava era que ele tivesse escrito algo sobre o seu antigo relacionamento ou sobre o beijo em seu escritório. – E se ele tiver se declarado em uma mensagem? – pensou. Já não eram dois adolescentes covardes para que ele se declarasse por uma mensagem. Mas Laura estava eufórica com a possibilidade, talvez até mais do que uma adolescente ficaria.

Estava protelando para ler a mensagem, pensar nas possibilidades lhe dava tempo. Mas por fim, o fez.

[Vamos nos resolver quando tudo isso acabar, mas até lá não esqueça de tomar cuidado e qualquer coisa, por favor, me ligue]

Sentiu a adrenalina passar pelo seu corpo, a saliva e a voz apertarem sua garganta, o estômago contrair-se, o corpo suar e as lágrimas brotarem nos cantos dos seus olhos. Os pés grudaram-se ao chão e não havia ar suficiente no quarto para que respirasse. Já podia ouvir os sons de trovões anunciando a tempestade por vir. Thomas não iria suportar esse tipo de situação por muito tempo. Carregava a possessividade no sangue.

Laura voltou a negar para si mesma que ainda desejasse estar com Carlos. Imperativamente ordenou-se a acreditar que amava Thomas acima de tudo e que ele merecia ser amado por ter estado ao lado dela por todo esse tempo sem ao menos fazer perguntas. Pensou em diversas maneiras de tentar desculpar-se por ter acusado Carlos de tanta monstruosidade, mas estar com ele não parecia uma opção.

O Tempo que estive aquiOnde histórias criam vida. Descubra agora