Capítulo 16

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Parecia loucura que Laura pudesse um dia ter desconfiado das palavras de Carlos, com o passar dos dias desde o seu retorno só teve provas e mais provas de que Carlos era e continua sendo irrepreensivelmente um homem de palavra. Agora o que por tantos anos lhe parecera uma mistura de ilusões, decepções e sofrimento, passava a parecer nada mais do que um grande mal entendido, um vilão ardiloso.

Dentro de seu coração Laura não conseguia imaginar como tudo aquilo poderia de alguma forma se resolver ou acabar bem. Começava a acreditar na inocência de Carlos, mas já o havia acusado e não poderia mais retirar as duras palavra e maldições que lhe lançara. E mesmo que pudesse apagar tudo o que dissera e todas as acusações que fizera, estar com Carlos ainda era doloroso. Não podia se lembrar se houvera mais de dez noites durante todos esses anos em que Laura dormisse e não sonhasse com grandes olhos castanho, as vezes uma menina, as vezes um menino idêntico ao pai. Estar com Carlos era a sentença de lembrar-se constantemente do bebê assassinado em seu ventre.

O carro parou e ela percebeu que já estava em casa. Passava-se da meia noite e estava cansada de estar com Thomas, em seu coração nasceu um sincero desprezo pela sua falta de sensibilidade. Ela tentara dividir uma das coisas mais importantes de sua vida com ele e ele apenas havia ignorado tudo. Pela primeira vez começou a duvidar da comodidade de dividir a vida com aquele homem.

Se não havia nenhum amor ou sensibilidade da parte dele, então por que estava com ela? Por que a pedira em casamento? Laura não conseguia entender. Entraram em casa e Laura permanecia desconfortável, ela observou como aquele homem imponente coçava a cabeça, um sinal de nervosismo característico dele. – Bem... querida. Acho melhor irmos dormir. O jantar me deixou esgotado... e o... passeio... bem, estar com você é sempre maravilhoso.

Ele terminou sua fala desconcertada com um casto, porém rápido beijo na testa de sua noiva. Laura apenas acenou positivamente e Thomas parecia querer fugir dela. Ela observou seus passos apressados ao atravessar a sala e subir as escadas rumo aos quartos. Ela precisava de café. Nunca perdera essa mania, quando queria café não importava a hora, o dia ou o quão quente a cidade de Manaus poderia ser. Não havia problema sem solução ou desespero tão grande que uma boa xícara de café não ajudasse.

Já passava das duas horas da madrugada quando seu telefone começou a tocar. Nem sequer pensou quão inadequada era hora para receber uma ligação, estava um tanto fora de si devido ao sono que a acometia mesmo após sua segunda xícara de café. Atendeu ao telefone com a voz mais embargada e rouca do que pensava. – Alô. – É bom ouvir sua voz de novo querida...

A voz não era comum. Observou como era baixa e carregada de uma respiração tão profunda que era audível no telefone. Um sentimento de angustia lhe invadiu imediatamente e se estava com sono antes, já não o estava mais. – Quem está falando? – Uma coisa de cada vez querida. Você não muda mesmo não é Laura? Tantos anos... e você ainda não me deixa escolhas. Mas eu gosto do seu jogo. Gosto da dificuldade que você impõe. – Eu não sei quem é você, mas isso não tem a menor graça seu maluco, vai passar trotes para a sua avó! – Minha avó não fica acordada até tão tarde, sentada em sua cozinha tomando café... e nem usa esse seu vestido maravilhoso.

Ele a estava vendo! Ele realmente a estava vendo. A angustia agora se transformava em pânico enquanto Laura corria pela casa para verificar as trancas das portas e fechar todas as cortinas. Espiou pela rua, mas não viu nada, não viu ninguém. – Escuta aqui seu babaca assassino. Você não me conhece. Eu tenho tanto ódio e nojo da sua cara que mesmo que eu me torne exatamente igual a você, provavelmente, ainda assim, eu vou mata-lo!

O Tempo que estive aquiOnde histórias criam vida. Descubra agora