Capítulo 16 - Feminismos.

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      Passou-se poucas horas após o almoço, o relógio marcava três da tarde e junto com Marlene, Érika saiu para tomar um café rápido e degustar o gostoso pão de queijo recheado com frango e queijo que havia na cafeteria. Ao contrário dos outros dias a segunda feira não foi marcada por reuniões longas e trabalhos enfadonhos, era início de outubro e todas as pendências já haviam sido resolvidas no final do mês que passara e elas podiam se dar ao luxo de terem alguns minutos longe das contas ao menos, foi essa a desculpa que Marlene usou para fazer com que a melhor amiga desgrudasse daquele monte de papéis sobre sua mesa. Érika era extremamente compulsiva com o trabalho e se dependesse dela só comeria quando chegasse em casa sabe-se lá que horas.

_ Como está a sua casa com a nova hóspede? -Comeu um pão de queijo em uma das cestinhas sobre a mesa -perguntou Marlene.
_ Não houve muitas mudanças exceto um prato a mais na mesa. -Deu um gole em sua xícara de café.
_ Então a chegada da Lavínia não foi tão ruim assim? -provocou a amiga.

        Érika percebeu a provocação de Marlene e logo retrucou. A amiga não iria conseguir provar que ela estava errada em ter se recusado a aceitar Lavinha em sua casa.

_ Isso não me faz mudar de ideia a respeito do Carlos ter permitido que a sobrinha morasse conosco. –defendeu-se- Para mim isso foi uma imprudência, mas como sempre você acha que é exagero meu.
_ Não acho que é um exagero. Só acho que você é preocupada demais. Se a sobrinha do Carlos der problemas ele que terá que se resolver com o irmão depois.

         Érika fitou Marlene com um olhar irritadiço.

_ E você acha que os problemas do Carlos não me afeta?
_ Não deveria. -respondeu Marlene com tranquilidade.
_ Eu sou uma mulher casada! 
_ Você é uma mulher controladora. 

      Érika deu um suspiro entediado, Marlene iria novamente começar a falar sobre seu jeito controlador em relação a sua vida social e pessoal e do quanto isso atrapalhava seu convívio com todos que faziam parte de sua vida.

_ Não faz essa cara que você sabe que é verdade. -continuou- Érika, as pessoas não precisam tanto de você como você acha que precisam. -Pegou mais um pão de queijo sobre a mesa- Sabe quem precisa de você? Sua filha e ela você acha que sabe se virar muito bem.
_ Clara sempre teve o Carlos. Nunca precisou de mim para nada.
_ Será que não foi por que você sempre achou isso e deixou sob a responsabilidade dele toda a educação dela? -perguntou Marlene enquanto mastigava.
_ Afinal, o que você quer com essa conversa? 
_ Eu sou sua amiga Érika. Minha tarefa é falar a verdade que você não quer ver e nem ouvir.
_ Para quê?
_ Para ver você feliz e principalmente, porque eu quero a minha amiga de antes de volta.

       Érika baixou o olhar e deu um suspiro pesaroso.

_ Sinto muito. -bebeu o resto do café que havia em sua xícara.
_ Não é possível não é? Naquela época você namorava o Ventura.
_ Você cismou com isso! -Comentou Érika indignada.
_ Eu te conheço amiga. Ter terminado aquele relacionamento foi o fim da sua felicidade. –Disse em um tom entristecido e voltou-se para sua xícara de café.

       Érika não conseguiu retrucar a amiga e um silêncio se formou na mesa em que estavam. Marlene tinha razão ao dizer que o término com Ventura foi a pior escolha que poderia ter tomado, eles eram muito apaixonados e tinham muitas coisas em comum. Mesmo com seu jeito dominador Ventura sabia lidar com ele muito bem e esse que todos consideravam um defeito e um dificultador para uma boa relação com os demais nunca foi motivo de brigas entre eles. Ventura com seu jeito gracioso conseguia até fazer algumas brincadeiras em relação a sua forma de ser que obviamente a irritava, mas que ao mesmo tempo tirava todo o peso que causava na relação. Ele era realmente um artista capaz de transformar qualquer situação desagradável em agradável apenas com uma piada que chegava até a arrancar-lhe algumas risadas. Érika por mais que tentasse não conseguia resistir aos comentários cheios de graça de Ventura. Aquele homem a compreendia melhor que ela mesma e sabia exatamente como agir para desfazer aquela cara de poucos amigos que fazia sempre que era contrariada, totalmente o contrário do que vive agora em seu relacionamento com Carlos que só faz recriminar seu jeito de ser e lembrá-la do quanto a afasta das pessoas como se já não soubesse do fato. 

O milagre de uma lágrima - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora