Capítulo 20 - Quem não deve, não teme.

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Se não tenho segredos,
Não tenho porque mentir.
Se você confias em mim.
Não tem o que temer.

Nany Carvalho – Sobre confiança. 
Em memórias poéticas, 2004.

        Era tarde de domingo Victor fechou a porta de casa e seguiu em direção à Praça dos Amores, estava sentindo uma enorme solidão no peito. Desde que seu pai morrera nunca mais pôde ter qualquer amizade, até os seus perfis nas redes sociais tiveram que ser desativados para que ninguém pudesse reconhecê-lo e mais uma vez ameaçá-lo, os únicos contatos que tinha no WhatsApp era de Angélica e Cléris. Angélica havia mandando para ele uma mensagem antes do almoço dizendo que teria ensaio de violino por todo o domingo e só retornaria para casa depois da cinco da tarde. Os seus ensaios de fim de ano sempre eram muito cansativos por se tratar de um recital, ele lamentou, mas compreendeu, entendia o quanto aquilo era importante para a namorada. Já Cléris saiu com Cibele para o cinema e por isso, não teria tempo de continuar o jogo que combinaram no dia anterior. Olga estava cuidando dos afazeres da casa como lavar a roupa e dar ao irmão todos os mimos possíveis ouvindo todas as suas lamúrias a respeito de seus medos.

Praça dos Amores.

           Sem ter o que fazer naquela casa que ele considerava tão solitária decidiu dar uma volta pelo condomínio, quem sabe encontrava alguém para que pudesse ao menos conversar? O universo parece ter captado o seu desejo ao passar pela casa de Mariane e ver Clara sentada em um dos bancos da praça com os seus fones coloridos ouvindo alguma música que provavelmente não fazia nem um pouco o seu estilo. Ela também se sentia sozinha, Mariane tinha saído com Vinícius para a pista de skate, Lavinha preferiu dormir ao invés de assistir com a prima um filme que estava esperando sair na internet, sua mãe estava trancada no quarto com dor de cabeça pela bebedeira do dia anterior e Carlos foi jogar vôlei de praia com alguns amigos no Leblon. Até o grupo Amigas do Condomínio no whatsapp estava parado, a única mensagem que recebeu foi uma foto de Cibele com Cléris no shopping da Barra comentando sobre o filme que iriam assistir e que ninguém comentou. Nem Ramon que sempre deixava alguma coisa em seu privado parece ter se esquecido dela, domingo era o dia em que ele treinava futsal com os amigos do CVM e sem dúvida esse foi o motivo que o fez desaparecer. Clara até chegou a abrir a sua janela do WhatsApp para lhe mandar uma mensagem, mas recuou por achar que fazendo contato com ele estaria dando-lhe alguma esperança de envolvimento afetivo e ouvindo a sua música no celular ela ficou enquanto visualizava algumas fotos de alguns amigos no Instagram até Victor puxar os seus fones.

Clara: Ai que susto! -Respondeu assustada-

             Clara sentiu um frio na barriga ao perceber que Victor havia tirado o seu fone de ouvido.

Victor: Estava toda distraída com o fone de ouvido. Qual música estava ouvindo? -Sentou-se ao lado da colega-
Clara: Você não deve gostar.
Victor: Provavelmente não, mas me diz mesmo assim.

            Antes que Clara dissesse que ouvia uma música de sua banda preferida ele já conseguiu prever que provavelmente a melodia fazia referência ao pop, "estilo" preferido das garotas de 14 anos.

Clara: Inconsolable do Backstreetboys.
Victor: É. Eu não gosto. -Confirmou- Agora que lembrei que ainda não anotei o seu número no meu celular.

          Clara assustou-se com o comentário de Victor. Por qual motivo ele queria o seu número privado em sua lista de contatos?

Clara: E por que você anotaria o meu número no seu celular?
Victor: Para nos falarmos? -Disse sarcástico- Brincadeira. É que eu gosto de enviar correntes e meus contatos já me bloquearam aí preciso de novos.

O milagre de uma lágrima - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora