Capítulo 23 - Vivências.

134 3 4
                                    

O que é certo mesmo,
É que temos que viver a cada momento,
Sonhando, chorando e nos emocionando.
Nada aqui é certo.

Autor desconhecido.

               O momento que Ventura mais gostava que era tomar café com a sua família tem se transformado em uma situação atormentadora. O que se configurava como uma situação de conversas e risadas tornou-se um abismo silencioso onde ninguém mais conseguia manter um diálogo por cinco minutos sem que houvesse brigas ou provocações.
            Na noite anterior, Sônia enquanto se preparava para dormir contou ao marido que Angélica havia ido com Victor passear no Jardim Botânico e que estava muito feliz ao lado do namorado. Ele imediatamente chamou a atenção da esposa por permitir que a filha fique quase que o dia inteiro com o companheiro. Em sua visão não era nada saudável ficarem tanto tempo juntos, Ventura já vivenciou a mesma situação com Érika e temia que Angélica sofresse tanto quanto ele caso o namoro não desse certo.
          Em um silêncio ensurdecedor Sônia, Ventura e Angélica tomavam o café da manhã juntos na enorme mesa da sala com várias guloseimas colocadas por Cíntia. Enquanto comia, Angélica não parava de vasculhar por notificações no celular e isso provocava em Ventura um tremendo incômodo, a filha sequer o olhou nos olhos quando sentou a mesa. Sônia por sua vez já parecia estar acostumada com todo aquele clima hostil que nem se importou em puxar algum assunto que pudesse promover um diálogo satisfatório.

_ Como foi o passeio ontem, Angélica? Sua mãe me contou que foi com o Victor ao Jardim Botânico. -perguntou Ventura tentando romper o silêncio.
_ Foi bom. -respondeu ela sem dar mais detalhes.

              Ventura estranhou a fala seca da filha, em outras situações ela não hesitaria em gastar as suas duas mil palavras diárias tagarelando sem parar sobre o passeio que fizera dando todos os detalhes para o pai com extrema alegria que sempre a atrasava para a escola.

_ Antes você me daria mais detalhes.
_ Antes foi antes. -respondeu Angélica continuando a olhar o celular.
_ E o seu namorado gostou?
_ Gostou.

              Ventura respirou fundo entristecido com todo o desprezo da filha e voltou-se para Sônia.

_ A gente podia ir a um recital um dia não é, amor? -perguntou ele a esposa.
_ Eu não entendo de música como você e a Angélica. -respondeu Sônia.
_ Não precisa entender. Eu só quero uma companhia para ouvir uma boa música. Podíamos ir nós quatro. O Victor adora piano.
_ Eu acho ótimo! -entusiasmou-se Sônia.

        Angélica silenciou-se e não demonstrou qualquer reação frente ao comentário do pai.

_ E você filha? -insistiu Ventura em uma resposta.

            Angélica colocou o celular sobre a mesa e fitou o pai um tanto revoltada.

_ Acho que está sendo ridículo em ficar criando coisas para sair comigo. Eu não quero fazer nada com você. Entende isso de uma vez! -usou de seu tom rude.

             Ventura não conseguiu esconder o seu semblante triste frente àquela fala da filha.

_ Se quiser não te chamo mais para nada. -disse entristecido.
_ Eu agradeceria.
_ Tudo bem.

             Angélica pegou o celular sobre a mesa e se retirou da cozinha. Sônia olhou para a filha e para o marido que estava completamente chateado com toda a situação que se deu naquele momento para ele tão importante.

_ Tura, eu sinto muito por tudo isso. -lamentou Sônia.
_ Eu sinto muito mais. -disse com um lamento na voz e seu olhar baixo.
_ Vou conversar com a Angélica, ela não pode te tratar dessa forma.
_ Deixa Soninha. -sorriu- Eu vou para o HUE, qualquer coisa é só me ligar. -despediu-se da esposa com um beijo em seus lábios, levantou-se da mesa e saiu da cozinha.

O milagre de uma lágrima - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora