Capítulo 29 - Mensagens na madrugada.

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No capítulo anterior, dois policiais encontraram Angélica e Victor.


Angélica sentiu um frio na barriga quando ouviu o policial avisar sobre a detenção. Mais uma vez levaria uma bronca do pai por ter que resolver os seus conflitos com a justiça.

_ Por quê? -perguntou ela em um misto de medo e apreensão.
_ Vocês fugiram de casa e ainda estão portando bebida alcoólica. -constatou um policial pegando as garrafas jogadas no chão.
_ Isso é meu! Eu comprei! Devolve. -reclamou Angélica com irritação.
_ Não sabe que é ilegal fazer uso de bebida alcoólica antes dos 18 anos? -questionou ele.

As duas mochilas estavam sendo reviradas por outro policial. Victor estava tão apavorado que mal conseguiu levantar-se do chão, já Angélica segurou-se para não partir para cima daquele que considerou um verdadeiro estúpido. Ele jogava com violência todos os seus pertences pessoais como se fossem dois criminosos e não dois adolescentes.
Quatro cartelas de Codeína pela metade caíram no chão. O policial que revirava as mochilas pegou-as e olhou para Angélica. Estava entre os seus pertences junto a um punhal. Ela não esboçou qualquer afeição que mostrasse o seu desespero, mas sabia que a partir daquele momento estava encrencada.

_ Isso é algum tipo de droga? -perguntou outro policial mostrando as cartelas.
_ É remédio, seu estúpido! Não uso drogas. -respondeu Angélica com rispidez.

A resposta sem qualquer apreensão dada por Angélica fez com o policial se irritasse. Ela além de ter sido pêga em flagrante portando remédio, bebida alcoólica e arma branca não demonstrou nenhum respeito pelo representante da lei que só estava cumprindo a sua função.
Em um passo lento e um olhar ameaçador ele aproximou-se, segurou a face de Angélica para que o encarasse e quem sabe, o respeitasse.

_ Me chama de estúpido de novo que eu posso esquecer que você é uma riquinha de apenas 14 anos e te tratar como uma bandida. -disse ameaçador.

Nenhuma reação Angélica sentiu diante daquela fala. Nem medo, nem raiva e nem desespero. Ela apenas manteve os seus olhos fixos ao daquele senhor de mais ou menos 40 anos, com a testa suada pelo calor e bafo e café esperando a sua próxima atitude ou ameaça.

_ Pára Angélica! A gente está errado. -disse Victor com a voz trêmula.

Ele sim estava apavorado com os dois policiais ao seu lado. Um deles havia levantado-o do chão e revistado toda a sua vestimenta em busca de algo que pudesse o incriminar. A arma que trazia pendurada na cintura o fazia estremecer dos pés a cabeça. Por duas vezes já esteve com uma delas apontada para a sua cabeça e só não teve os miolos estourados a pedido de Olga.
Angélica sentiu seu braço doer quando foi levantada do chão, arrastada e jogada no banco traseiro junto com Victor. Que raiva sentiu com tamanha violência. Nada a deixava mais irada do que ser tratada como uma criminosa. Ter tido o seu corpo tocado por quem considerava asqueroso lhe trouxe profunda repulsa. Se tivesse em posse de sua mochila não hesitaria em ameaçá-los com o punhal nem que isso lhe custasse à vida, mas não tinha nada. Só os seus golpes aprendidos nas aulas de defesa pessoal.

_ Entrem no carro. -ordenou um dos policiais.
_ Quem fez a queixa? -perguntou Angélica no banco traseiro.
_ O seu pai, Ventura Alves. -respondeu o policial na direção.
_ Tinha que ser. -resmungou ela.

Victor estava amedrontado e triste talvez, mais triste do que amedrontado. O carro da polícia e a sirene ligada fez com que rememorasse a última vez que se viu na mesma situação, quando foi levado para a delegacia para prestar depoimento sobre a morte do pai. Fôra ele quem encontrara o corpo pendurado na árvore ao fundo do quintal. Ter entrado naquele carro e prestado longas três horas de depoimentos o fez sentir como um criminoso. Era assim que ele se sentia, como um criminoso.

O milagre de uma lágrima - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora