Capítulo 10

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AMANDA


Burra.

Era algo que eu me dizia uma e outra vez, repetidamente sem parar. Eu tinha um certo orgulho de mim mesma, fiz a saída da vitória naquele corredor com a cabeça erguida e sem derramar uma lágrima se quer. Claro que ninguém, principalmente Maluma, não precisava saber que eu estava caindo em pedaços desde que fechei a porta do meu quarto.

Cada lágrima era como um punhal, entrando e saindo do meu coração. E ultimamente chorar era a única  coisa que eu sabia fazer. Naquela noite senti câimbras terríveis e não desci para o jantar, mas ainda assim eu pude escutar, a risada meiga e suave de Daniela ao passar em meu corredor. A vida era assim, um dia a felicidade é sua, no outro é de outra pessoa.

Minha mãe costumava me dizer, o que os olhos não veem o coração não sente, infelizmente talvez ela não sabia, que o cérebro tinha munição suficiente para fazer um estrago sozinho. Suspiro. O que eu estava fazendo com a minha vida? Eu estava completamente sozinha. Sem família. Sem amigos. Sem ninguém. Eu só tinha a mim mesma. Um leve cutucão me fez acariciar minha barriga delicadamente. Eu tinha que amadurecer pensar nos dois anjinhos que eu estava colocando no mundo. Eu tinha que ao menos comer alguma coisa.

Colocando meu velho moletom da faculdade, calço minhas sapatilhas com dificuldade. Meus pés estavam tão inchados que a parte de trás não encaixava o que me fez pisar sobre ela na hora de caminhar.

Sinto um pouco do vento frio em meu pescoço e estremeço ao imaginar fantasmas em uma casa daquele tamanho. Era apenas algo estúpido que passou por minha cabeça, já que eu tinha coisas piores que fantasma para me preocupar. Sigo com o olhar uma câmera no final do corredor. Ela parece focar-se e desfocar-se conforme me aproximo. Com outro suspiro de derrota, escolho o corredor mais próximo de chegar a cozinha – também próximo do quarto de Maluma – e começo a descer as escadas lentamente para chegar ao segundo andar.

E como se eu já não tivesse muito o que pensar, pequenos gemidos me fazem paralisar por um momento. Ouço meu coração batendo rapidamente e engulo em seco fechando fortemente meus olhos. Já sinto as pequenas gotículas de água formando-se por baixo de minhas pálpebras e um aviso ressoa em cada poros do meu corpo, um grito instintivo pedindo-me para voltar. O quarto de Maluma ficava no segundo andar não muito longe da escada, ele não poderia? Poderia?

Subo novamente as escadas e volto-me para o próximo corredor, afastando-me dos gemidos que escuto. Preferindo caminhar pelo caminho mais longo para chegar a cozinha . Mesmo que isso tenha me afastado dos gemidos, eles ainda pareciam ressoar e intensificar-se dentro de minha cabeça.

Eu não queria pensar, eu não queria imaginar e mesmo assim, como um mais um são dois, eu não poderia negar o inevitável. Entreguei um suculento bombom trufado em uma bandeja e isso acarretaria em problemas mais cedo ou mais tarde.

Quando chego à cozinha sento-me em um banquinho e começo a respirar pela boca uma e outra vez. Sinto a cor sumindo de meu rosto conforme encaro uma faca de prata deixada sobre a bancada. Forço-me a comer algumas bolachas de nata enquanto canto uma canção triste sobre um dia de outono em minha mente.

Mais do que reconhecer a derrota o ser humano precisa sustentar a dor por meio de provas reais, sofrer por antecipação era pior do que sofrer por constatação. Tirando uma força que eu não tinha me dirijo para o corredor de Maluma, lembrando-me uma e outra vez que eu o havia entregado, eu havia admitido que não éramos bons juntos, que ele não era o melhor para mim. Eu não tinha o direito de saber... de saber...

...Oh baby....

Paraliso.

...Sim, bebe, assim...

Dou alguns passos para perto de sua porta e estremeço ao ouvir as respirações pesadas.

Livro 2 - Doce RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora