8.2

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Aos poucos, Rebeca sentia cada parte de seu corpo. As pernas no chão frio, as costas, e a cabeça encostada em algo quente. Depois, sentiu algo passando pela lateral de seu rosto... Algo leve e quente. Algo que ela conhecia.

Devagar, abriu os olhos.

A primeira coisa que viu foi o livro em seu peito. Então percebeu que o que passava por seu rosto era a ponta dos dedos de Aloys.

— Aloys...? — Olhou para cima.

— Finalmente. — Aloys se inclinou sobre ela, sorrindo. — Você está bem?

Rebeca sentou-se, ainda segurando o livro. — Sim, estou. — Olhou a capa, passando a mão sobre ela. Ela queria tanto ter conversado mais com... Ele.

— O que ele te falou? — Maria perguntou.

— Nada que respondesse minhas dúvidas. Ele apenas falou que sou a mesma, mas não sou a mesma.

— Faz sentido. — Aloys falou, dando de ombros. Olhou para o livro. — Podemos ver, finalmente, o livro?

Rebeca olhou para baixo. Aloys e Maria sentaram ao lado dela, e ela abriu a capa.

As folhas estavam em um tom de amarelo meio marrom, com as bordas desgastadas. A primeira página estava vazia. A segunda também. A terceira também, assim como a quarta, a quinta, a sexta...

— Não tem nada aqui?! — Rebeca perguntou alto, frustrada, passando mais páginas. — Não acredito que não tem nada. O que é isso, Aloys?!

— E-eu não sei. — Pegou o livro e olhou as páginas. — Era... Era para estar tudo aqui. Todas essas páginas estavam cheias de anotações...

— Gente, vocês estão vendo como esse livro é velho, né? — Maria falou. — É normal as escritas se apagarem com o tempo.

— Não é possível. — O pegou de volta. — Depois de todo esse tempo, e não tem nada aqui. Guardião, o que é isso? — questionou alto.

De repente, a pouca luz que havia no corredor apagou. As paredes foram substituídas pela mesma galáxia repleta de estrelas. A máscara surgiu na frente deles.

— Não tenho nada a ver com isso. — Ele parecia se divertir com a situação.

— Como não? — Rebeca se pronunciou. — Por que não há nada aqui?

Uma mão branca surgiu, fazendo um gesto para o livro, que flutuou até ficar em um nível um pouco mais alto que os olhos dos três, e as páginas passaram sozinhas.

— As informações desse livro estão protegidas — disse como se fosse óbvio. — Um feitiço que você conjurou. — Apontou para Rebeca.

— Mas... por quê? Se você disse que eu o invoquei para cuidar do livro...

— Este foi o primeiro feitiço que você fez antes de me invocar. Você não queria que qualquer um pudesse ler o que continha aqui, então fez esta proteção. Você me invocou no momento que fugia, já que tinha medo que alguém que pudesse quebrar a proteção invisível pudesse lê-lo facilmente.

— Isso que é ser cuidadosa. — Maria disse.

O guardião balançou a máscara uma vez, como se concordasse com ela.

— Nós precisamos ver o que tem aqui. — Rebeca olhou para o guardião. — Aloys precisa, na verdade. Então desfaça esse feitiço, por favor.

— Não posso.

— Por que não?

— Não tenho autoridade para tal. Nem conhecimento de como fazê-lo.

— Mas você consegue ler, não é?

Através do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora