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Rebeca deixou o rapaz drogado no celeiro e andou de volta para casa. Entrou pela porta da cozinha, nos fundos, e viu seus pais terminando de comer e conversando. Tentou fingir que estava normal. Para ela, isso parecia impossível, mas pelo jeito estava agindo como sempre.

— Ei, já tirou muitas fotos? — Seu pai, Roberto, perguntou sorridente. — Está funcionando direitinho?

— Sim, sim. Está funcionando. Obrigada. — Sorriu, encostando na pia. — Mãe, é hoje que você vai no mercado?

— Sim, por quê?

— ... meu shampoo está acabando. — Pensou rápido.

— Tudo bem. Quando formos você escolhe...

— Se importa se eu ficar em casa? — Cortou sua mãe. — Eu... tenho muita lição hoje. E um trabalho para entregar amanhã.

— Ah... tudo bem. Então anota a marca que você usa, eu sempre esqueço.

— Tá...

Rebeca correu para eu quarto, no segundo andar. Rasgou um pedaço de folha de caderno e anotou o que queria. Voltou para baixo e deu o papel para sua mãe. Seu pai estava saindo, e sua mãe o seguiu.

— Cuida da louça para mim? — perguntou antes de sair.

— Claro.

— Ok, obrigada. — Deu um beijo na filha. — Qualquer coisa me liga.

— Tudo bem. Se cuidem.

Rebeca ficou olhando da janela da sala até o carro sair de vista. Assim que saiu, correu para cima e foi até o quarto de seus pais. Procurou onde sua mãe tinha deixado a sacola de roupas para doação, e logo a achou. Devia ter uns cinco quilos de roupas ali.

Desceu com a sacola e a deixou em cima da mesa junto com sua câmera, e depois correu para o celeiro. Entrou e viu o garoto dormindo.

— Ei. — O cutucou no braço. — Acorda.

Ele abriu os olhos e observou o lugar, tentando reconhecer, e olhou para Rebeca. — Tive um pesadelo horrível.

— Qual?

— Sonhei que as pessoas tinham te pego junto de Margareth.

— Quem é Margareth?

Ele suspirou. — Eu realmente preciso me recuperar para te ajudar.

— Vem, meus pais já saíram.

Rebeca ajudou o garoto a se levantar, e os dois andaram devagar para a casa.

— Me diz, se você perdeu a memória como enfeitiçou um pobre casal para que eles pensassem que você é filha deles?

— Você misturou o quê? Cocaína, LSD, crack, cogumelos...?

— Hmm... Faz tempo que você não faz cogumelos, não é? — questionou, pensativo.

Se aquilo fosse um filme, provavelmente Rebeca olharia para a câmera com cara de "é sério isso?". — Fica quietinho, vai.

— Desde quando tem uma casa desse tamanho ali?

— Não sei, quando eu cheguei ela já estava aí — ironizou.

— Hmm...

Rebeca abriu a porta e entraram. — Você quer tomar banho ou comer primeiro?

— Quero tomar banho... Mas temos que encher a tina.

— Para quê?

— Para tomar banho.

Ela então ajudou o garoto a ir até o banheiro, próximo das escadas. Os dois entraram, e Rebeca deixou o garoto sentado no vaso sanitário, enquanto ele olhava tudo atentamente. Ela abriu as torneiras da banheira, que ficava debaixo do chuveiro.

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