CAPÍTULO 7

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  No dia seguinte, o Dr. Morelli chegou ao hospital mais cedo do que de costume. Após uma noite em que custará a conciliar o sono, levantara disposto a examinar Rosa minuciosamente.
  Não podia esquecer os acontecimentos da véspera e repassara-os várias vezes procurando lembrar-se de todos os detalhes. Por mais estranhos que os fatos houvessem sido, ele temia deixar-se levar por uma ilusão. O que presenciara fora tão irreal que contasse aos colegas, o tomariam por loucos. 
  Por outro lado, já lera sobre vários fenômenos ocorridos com médiuns dos Estados Unidos, da Europa e até da Ásia.
  Em tudo – pensava ele – haveria alguma coisa natural para explicar o que acontecera longe da superstição dos ignorantes e do sectarismo da religião.
  Reconhecia, contudo, que era difícil estudar cientificamente esses fatos, muitas vezes adulterados pelas crendices, ou pelos excessos de credulidade, tanto quanto pelos negadores costumazes e céticos.
  Sentia a necessidade de fazer um estudo sério, honesto, mas de que forma? Como controlar  e analisar esses fatos se eles ocorriam espontaneamente, de maneira inusitada, não obedecendo a nenhuma forma de controle?
  Em todo caso, não pretendia perder aquela chance. Investigaria tudo. Dirigiu-se ao quarto de Rosa, ansioso para verificar seu estado.
  Bateu levemente, abriu a porta e entrou. Rosa, abatida, olhos fundos, triste, sentada no leito, tendo à frente uma bandeja com o café da manhã, não parecia interessada em alimentar-se.
  Amaury pacientemente tentava fazê-la ingerir um pouco de café com leite, que ela se recusava a tomar. Vendo-o entrar, Amaury tornou:
  – Ainda bem que chegou, doutor. Ela está debilitada, recusa a alimentar-se.
Morelli aproximou-se com ar de enérgica simpatia e perguntou:
  – Então, D. Rosa, sente-se melhor?
  Ela meneou a cabeça:
  – Nem um pouco.
  – Sente náuseas?
  – Não, senhor. Estou sem fome.
  Amaury alisou-lhe os cabelos com carinho.
  – Toma só um pouquinho, Rosa! O doutor disse que está em estado de acentuada fraqueza! Sua saúde nos é preciosa. Desejamos vê-la boa.
  Ela deu de ombros e respondeu com voz triste:
  – Para mim, tanto faz.  A vida não me parece uma coisa boa. É so luta sem recompensa nesse mundo de dor.
  – Não diga isso que nos entristece a todos. Precisa reagir.
  –  Para quê? – tornou ela com amargura.
  Os olhos de Amaury encheram-se de lágrimas. Morelli interveio:
  – Não se preocupe, Amaury. Se ela está sem fome, não insista. Vamos esperar um pouco mais. Se não se importa, gostaria de examiná-la. Poderia nos deixar a sós? Saia com sua filha, vão respirar um pouco de ar puro. Depois da noite que passaram, lhe fará bem. Eu vou fazer alguns exames simples e farei um pouco de companhia a ela até voltarem.
  Amaury  concordou esforcando-se para conter as lágrimas prestes a cair e saiu com a filha.
  Vendo-se a sós com Rosa, Morelli examinou-a delicada e minuciosamente e, com exceção da pressão arterial um pouco baixa o que era natural depois da crise que sofreram e da depressão, não registrou nada anormal.
  Ao final, sentou-se ao lado do leito disposto a conversar.
  – A senhora está bem agora, – disse – ontem nos pregou um susto.
  – Não sei se foi bom ter acordado.
  – Não diria isso se tivesse visto a aflição de sua família.
  – O que me prende à vida são os meus filhos.
  – O seu marido ficou muito preocupado com seu estado. É um marido muito carinhoso.
  – As aparências enganam, doutor.
  – A senhora parece magoada e está  sendo injusta com ele.
  – Um homem que ama sua mulher não anda de amores com outra.
  – A senhora não deve ser tão rigorosa. Nós, homens, às vezes cedemos as tentações do momento. Somos fracos, não temos a força da mulher, mas essa fraqueza, embora indesejável, não nos impede de amar. Seu marido a quer muito. Amava de verdade e de todo coração.
  – Não sei. De agora em diante vai custar muito para voltar a acreditar! Depois de tudo!
  – Devia perdoar, esquecer, tenho certeza de que depois de ontem esse fato não se repetirá.
  Morelli continuou conversando com ela mais algum tempo tentando convencê-la  a sair da depressão, mas não obteve nenhum resultado. Quando Amaury e a filha voltaram, o médico despediu-se e Amaury acompanhou-o. Uma vez no corredor, perguntou:
  – E então, doutor? Deu tempo para conversarem. Percebi que queria nos ajudar.
  – De fato. O drama que estão vivendo zensibilizou-me. Depois, sou amigo de Clóvis e de Juliana. Seu pai e eu somos colegas, mantemos relações de amizade há muitos anos. Infelizmente. Ente ela está muito deprimida. Não quero intrometer-me  no tratamento, há outro colega tratando dela, mas gostaria de acompanhar o caso de perto, ajudar.
  – É muita bondade sua, doutor. Não sei como agradecer o que fez por nós. Tencionava pedir-lhe que cuidasse dela. Não conheço o médico que nos acudiu no pronto-socorro. Se aceitar, ficaremos muito felizes. Todos nós confiamos no senhor. Interessou-se por nós, não é como os outros. Desculpe.
  – Não se preocupe. Aceito com prazer. O primeiro passo é não mimá-la demais.
  – Não posso, doutor. Dói-me o coração vê-la nesse estado por minha culpa. Nunca me perdoarei! Passarei toda a vida protegendo-a, fazendo tudo para que me perdoe. 
  – Sei como se sente, mas Juliana aconselhou-nos a não mimá-la será pior.
  – Até agora, doutor, não consegui entender como Juliana sabia de tudo. Meus filhos não sabiam, assim não poderiam ter lhe contado. Além do mais, eu notei que Rosa andava mudada, triste, amarga, cheia de indiretas, mas eu não sabia que ela havia descoberto aquela malfadada aventura. Maldita hora em que me meti com a Lucinda.  Se arrependimento matasse! Foi um caso banal, sem importância. Como Rosa descobriu? Sim, porque Juliana disse que ela sabe de tudo. Que vergonha! Meus filhos perceberam. Agora, quem contou a Juliana?
  – Juliana é uma pessoa especial. Achou que possui poderes incomuns.
  – O senhor acredita nisso? A cura de Rosa foi um verdadeiro milagre. Ela é uma santa!
  – Não exagere. O que aconteceu foi algo especial, inusitado, mas terá por certo uma explicação a seu tempo. Não vamos fantasiar.
  – Só sei que agradeci a Deus e abençoei Juliana. Seja como for, ela operou um milagre. Já ouvi contar casos assim, mas não acreditava muito. Sabe como é, a gente crê de um lado, mais duvida de outro. Agora aconteceu comigo. Não há como duvidar. Deus é grande!
  – É verdade. Rezar é bom, faz bem e acalma. Vou falar com o médico que a atendeu ontem. Pretendo receitar alguns remédios que ajudarão a sair da depressão. Chega de tristeza.  Quero ver todos de cara alegres, satisfeitos com a melhora. Isso sempre ajuda um doente. Esqueça as tristezas e desacertos. Agora é hora de alegria. Vou ver meus pacientes e voltarei mais tarde.
Morelli despediu-se e Amaury voltou ao quarto. O doutor tinha razão.  A tristeza não fazia bem a ninguém. Tentou imprimir um ar alegre à fisionomia e aproximou-se do leito com um sorriso.
  – Bom esse doutor Morelli. Pedi-lhe para cuidar de você. Ele aceitou. Confio nele.
  – Que bom, papai – comentou Glace animada pela disposição do pai. – Eu também confio nele. Não acha bom, mamãe?
  Rosa deu de ombros e não respondeu. Amaury aproximou-se do leito e e logo sentiu sua boa vontade esmorecer. Olhando o rosto desanimado da esposa, sentiu aumentar a angústia. Como seria sua vida com ela dali para frente? Teve ímpetos de sair dali, vontade de respirar ar puro, de livrar se daquele ambiente opressivo. Apesar disso procurou sorrir. Afinal, a culpa era dele. Por que se metera naquela confusão?
  Se ele era culpado, era justo que sofresse as consequências do seu erro. Engoliu o desagrado e esforçou-se para mudar o ambiente. Ensaiou uma conversação com Rosa que mal respondeu. Por fim, calou-se. Sentou-se ao lado do leito procurando ocultar a tristeza. O que fazer para melhorar as coisas?
  Glace, percebendo o que se passava, procurou cooperar. Não havendo sido bem-sucedida, apanhou uma revista, sentou-se a um canto e mergulhou na leitura.
Alguns dias depois, envergando seu uniforme branco, Dr. Morelli adentrou a sala de cirurgia. Ante os preparativos para o socorro urgente a um acidentado, não se pôde furtar a um gesto de compaixão diante do jovem, pálido, estendido na mesa cirúrgica.
  Fora solicitado para auxiliar Dagoberto e opinar. Aproximou-se. Dagoberto já se encontrava auscultando o paciente cuidadosamente, enquanto os outros dois preparavam o campo.
  – O que foi? – indagou Morelli ao amigo.
  – Um tiro. A bala alojou se no pulmão. Veja a radiografia.
  – Está mal!
  – Perdeu muito sangue.
  – Foi briga?
  – Não sei ainda. Acha que suportara?
  Morelli aproximou-se levantando a pálpebra do moço e olhando seu olho.
  – É uma pena. Tão jovem. Terá dezoito?
  – Acho que menos.
  – É a família?
  – O pai está ai fora. É so o que sei. Vou iniciar. Olhe onde a bala de alojou...
  – Hum!...
  – O que acha?
  – Rezar nessa hora seria bom!
  – Não brinque.
  Morelli pensou em Juliana. Ele não estava brincando! Ela dera-lhe a impressão clara de que seres em outra dimensão da vida podiam socorrer os mortais. Seria ilusão?
  Enquanto Dagoberto iniciava cuidadosamente a cirurgia, ele rememoração os acontecimentos de alguns dias atrás. A melhora de Rosa fora espetacular. Tivera alta vinte e quatro horas depois.
  Olhou o corpo jovem estendido, imberbe, comoveu-se.
  – Estou ficando mole – pensou. Um médico como ele, habituado durante tantos anos a presenciar os dramas do cotidiano, não podia impressionarar-se. Pensou no filho e a emoção voltou.
  Dagoberto continuava trabalhando, gestos precisos, dedos ágeis.
  – Não está aqui – resmungou decepcionado. – Movimentou-se. Vou explorar mais abaixo.
  – A pressão está caindo. Precisa apressar-se – avisou um dos médicos.
  – Se aí menos eu acho encontrasse! – disse Dagoberto.
  Continuou procurando sem êxito.
  – É melhor acabar! Ele está mal! Não vai suportar!
  – Não posso para agora! Preciso ir até o fim. Aplique Coramina.
  – Já apliquei. A respiração está por um fio!
  Morelli sentiu aumentar sua angústia. Por um momento imaginou se fosse o seu filho, ali morrendo. Movido por fortes impulso, colocou a mão sobre a cabeça do jovem e disse baixinho:
  – Meu Deus! Ajude! Juliana! Chame Dora para mim! Se for possível, salve está vida!
  Disse isso com tal veemência e emoção e sentiu que a palma de sua mão ardia em fogo.
  – Achei – gritou Dagoberto com alegria. – Aqui está!
  – A respiração parou – disse o anestesista assustado.
  – Santo Deus, – murmurou Morelli. – Dora, por favor, ajude!
  Fundo suspiro escapou dos lábios do jovem. Eles trocaram olhares assustados. Seria o fim? Logo notaram que a respiração voltará e em segundos ganhava ritmo normal.
  – Que alivio!
  – Ele respira!
  – Que susto!
  – Será que escapa?
  – É jovem, cheio de saúde, é um bom indício – disse Dagoberto satisfeito. – Vamos acabar logo com isso.
  Quando terminaram, Dagoberto e Morelli dirigiram-se a sala do café. Lá encontraram o anestesista. Os três, segurando a xícara de café, sentaram-se conversando.
  – Olhe, Dr. Dagoberto, pensei que ele fosse morrer ali. Sua respiração chegou a parar por uma fração de segundo. O senhor fez um trabalho de mestre, como sempre. Mas a reza do Dr. Morelli ajudou muito!
  – Rezar do Morelli! Que história e essa?
  – No momento crítico, ele rezou mesmo. Chamou o santo. E foi aí que o menino reagiu.
  Dagoberto riu bem-humorado.
  – O morelli? Nunca foi religioso. Ao contrário.  Vou mais à igreja do que ele!
  Morelli não respondeu. Gostaria de contar ao amigo o que acontecera, mas sabia que ele não acreditaria.
  Além do mais, prometera a Clóvis guardar segredo. Não podia prejudicar Juliana. Conhecia o amigo. Sabia que ele era cético e não acreditaria ainda que visse.
  – Seja como for, deu certo. Dr. Morelli, qual é o santo da sua devoção?
  – Não brinque com essas coisas – respondeu ele sério. – Pode seguir dar mal.
  O outro desculpou-se.
  – Não quis ofender... É que você botou a mão na cabeça do moço e rezou, e ele voltou a respirar. Logo...
  Digo interveio.
  – Dr. Oswaldo! Não sabia que era tão supersticioso!
  – Não é superstição! Sou um espiritualista. Creio na intervenção das almas do outro mundo.
  – Você está brincando! – estranhou Dagoberto.
  – Não. Não estou. Poderia jurar que o que se passou hoje conosco teve uma conotação especial.
  – É assim mesmo. – queixou-se Dagoberto. – Sempre a mesma história. Se o paciente morre, somos responsáveis, incompetentes; quando ele se salva, foi Deus que o salvou!
  – Também não precisa ofender-se. Fez um belíssimo trabalho, pode crer – elogiou Morelli.
  – Concordo, Dr. Dagoberto.  Aliás, gosto de trabalhar com o senhor por isso. Admiro sua perícia, sua capacidade. Mas, o paciente morreu e voltou à vida! Como explica isso?
  Morelli calou-se. Lembrava-se de sua emoção, da súplica veemente que fizera. Chamara Juliana, evocara Dora. Sentira calor em sua mão e logo o jovem voltara a respirar.
  Teria sido ouvido? Dora atendera seu apelo? Sentiu uma onda de emoção. Precisava certificar-se. Como?
  – Está pensativo, calado. O que é?
  – Nada, Dagoberto. Afinal o rapaz acabou levando a melhor. Não é bom?
  – Se é! Essa é uma vitória que me faz bem! Derrotar a morte. Nossa eterna inimiga.
  – Morelli, durante todo o dia, não conseguiu esquecer-se do acontecimento. Estaria exagerando? Teria mesmo sua evocação dado certo? Dora teria ouvido?
  Quando ia saindo do hospital, Dr. Oswaldo o esperava.
  – Importa de falarmos sobre o que aconteceu hoje?
  Morelli balançou a cabeça:
  – Não.
  – Posso fazer-lhe uma pergunta?
  – Faça.
  – O senhor é espiritualista?
  – Se quer saber se eu creio em Deus, acho que sim.
  – O senhor não entendeu. Não foi isso que perguntei. É espírita?
  – Não. Não sou religioso. Nesse campo, tenho uma opinião muito particular.
  – Perguntei porque eu sou espírita. Acredito que a vida continua depois da morte, em outros mundos, e os que se foram podem comunicar-se conosco.
  Morelli interessou-se:
  – Até há pouco tempo, não acreditava que isso fosse possível. Porém, aconteceram alguns fatos que me fizeram pensar...
  – Gostaria de falar sobre eles? Sou um estudioso do assunto. Interesso-me por pesquisas nessa área.
  – Verdade? Pois a mim também passaram a interessar. Não sou religioso, como já disse. Aliás, penso que certos fatos que nos parecem extraordinários, têm uma explicação natural.
  – É verdade. A mediunidade é condição natural do ser humano. Quer ir jantar comigo? Conheço um bom lugar, comida excelente, onde poderíamos conversar à vontade.
  – Aceito.
  – Vamos no meu carro, depois o trarei aqui de volta.
  – Está certo.
  Uma vez sentados no restaurantes, Oswaldo tornou:
  – Você comoveu-se com o caso do jovem.
  – Mais do que seria razoável. De repente, ao olhar para ele, tão jovem, cheio de saúde, ali, morrendo estupidamente, desejei ardentemente que se salvasse.
  – Isso já me aconteceu. Por vezes é difícil evitar a emoção.
  – É  verdade. Felizmente tudo terminou bem.
  – Ainda acho que tivemos um auxílio extra. O Dr. Dagoberto é eximio cirurgião, fez excelente trabalho e todos nós rigorosamente demos o melhor. No entanto, em certo momento, senti que não era o bastante. Ele estava mal e o que é pior, a bala escondida deslizando, prolongava demasiado a intervenção. Alguns minutos mais e seria difícil recuperá-lo. Foi aí  que você fez sua evocação e doou energia, colocando a mal na cabeça dele. Logo em seguida, a bala foi localizada e tudo se transformou. Sua intervenção foi providencial. Costuma a doar energia a seus pacientes?
  – Não.  Nem sei por que fiz isso. Foi a primeira vez.
  – Interessante. Como aconteceu?
  – Comovi-me. Por um instante imaginei meu filho ali, naquela situação e, então, pedi ajuda a Dora e tive vontade de colocar a mão ali.
  – Sentiu energia quente sair da sua mão?
  – Como sabe? – admirou-se Morelli. - De tão quente chegou a arder!
  – Você doou magnetismo curador. Energia para que ele tivesse forças para reagir.
  – Será?
  – Por certo.
  – Como sabe?
  – Estudo isso há anos. Posso explicar lhe o processo. Mas antes diga-me: quem é Dora?
  – Posso ter sua discrição?
  – Claro.
  – Ninguém sabe de nada sobre isso. É segredo.
  – Serei um túmulo.
  – Ultimamente tenho presenciado fenômenos estranhos. Por causa deles, passei a estudar este assunto.
  – É assim que todos nós começamos.
  – Aconteceu com você?
  – Sim. Presenciei alguns fatos que me lavaram a isso.
  – Nesse caso, talvez possa dar-me alguns esclarecimentos.
  – Talvez.
  Morelli contou tudo quanto sabia, sem dizer que era com Juliana. Ele ouviu com muito interesse e comentou ao final:
  – Que maravilha. Ao que parece, trata-se de excelente médium. Gostaria de estudar o caso.
  – Não é fácil.  Sua família não aceita a idéia, nem de leve. Não gostaria de causar-lhe problemas.
  – Um dia eles terão que render-se à evidência.  Pelo que sei, se ela traz mesmo essa missão, quando chegar a hora nenhuma força a poderá deter.
  – Não sei, não! É apenas uma menina. O que poderá fazer?
  – Ela? Talvez nada. Mas as forças espirituais, os espíritos que estão ligados a ela, farão o necessário. Você verá!
  – Você fala com tanta certeza!
  – Sei o que estou dizendo. Os espíritos superiores têm um magnetismo irresistível.  Quando eles querem, nada os conseguirá deter.
  – Pode ser mesmo. Os moços foram buscar as meninas, e os pais nem perceberam. Foram ao hospital, levaram-na de volta e tudo deu certo.
  – Pra você ver. É isso mesmo. Vamos ver qual será o próximo passo.
  – Acha que acontecerá de novo?
  – Certamente. Dora disse que ela tem essa missão. Logo... Gostaria de acompanhar quando ocorrer. Tenho visto casos bem interessantes. Se for a minha casa uma noite destas, terei o prazer em mostrar-lhe algumas pesquisas que tenho feito.
  – Irei com prazer. Será que Dora vai voltar?
  – Por certo. Prometeu ajudar o casal que ela atendeu.
  – Tenho medo de não estar lá  quando ela voltar.
  Oswaldo balançou a cabeça pensativo. Depois disse:
  – Tenho um pressentimento que ela fará isso quando estivermos juntos. Penso até que wla nos colocou lado a lado nessa cirurgia hoje.
  – Para quê?
  – Para que juntos possamos ajudá-la em sua missão.
  Morelli sentiu um arrepio percorrer-lhe o corpo.
  – Hoje não estou no meu normal, sinto arrepios! Terei febre?
  Oswaldo riu divertido.
  – Você não está doente. Esta apenas sensível. Registrou energias que estão a sua volta.
  – É estranho! Acha mesmo?
  Oswaldo explicou-lhe detalhadamente o que sabia sobre o assunto é terminou:
  – Somos constantemente envolvidos pelas energias que estão a nossa volta. Todos, uns mais outros menos, as registram, mas como não conhecem, procuram as mas diversas explicações para o fato. Quando você aprender a diferenciá-las, acabará por sentir o que ela representam.
  – Parece irreal! Será mesmo assim?
  – Por quê? Quantas coisas há a nossa volta que não conseguimos ver a olho nu! Entretanto, elas existem e interferem em nossas vidas. O ar que respiramos, os germes que nos fazem adoecer etc.
  Morelli ficou pensativo por alguns instantes. Depois considerou:
  – É verdade! Quantos mistérios haverá nesta vida que um dia ainda nos serão revelados?
  – Isso me fascina. Há muitas perguntas sem resposta em minha cabeça.  Muitas coisas inexplicável neste mundo. Levantar a ponta do véu, é fascinante para mim.
  – Posso compreender. Sinto a mesma coisa. Não posso aceitar que a vida seja apenas o que aparenta ser.
  – Ou o que imaginamos que ela seja!
  – Sempre foi inconformado. O sofrimento humano já me fez duvidar de Deus.
  – É agora?
  – Agora, começo a notar novas possibilidades. Não sei o que seja, nem aonde nos poderá levar, mas...
  – Nunca lhe ocorreu que nossa visão da realidade possa estar distorcida? Que além do que percebemos pode existir muito mais?
  – É possível. Tenho me perguntado de onde será essa Dora, que ser é esse que detém tanto poder nas mãos e por que nós escolheu para mostra-se. Onde viverá? Em que mundo? Existirá  mesmo? Será real? Não será apenas fruto da nossa fantasia?
  Oswaldo sorriu divertido e aduziu:
  – Posso entender seu ponto de vista. Para os padrões da nossa educação, pelo que estudamos na faculdade, pelo que a maioria convencionou aceitar como real, nada disso é possível.  No entanto, devo lembrar-lhe que os fatos contam mais do que as palavras. A realidade aparece e não se preocupa com o que os homens convencionar amanhã entre si acreditar.
  – É chocante!
  – É diferente. Sempre aconteceu, só que agora chegou a nossa vez. Desde que o mundo é mundo, esses fatos acorrem. São tão velhos quanto o mundo!
  – Você fala com tanta certeza!
  – Claro. Tenho investigado. Raras as pessoas que não tenham um "caso" na família para contar! Quando estiver mais familiarizado, perceberá que muitos não tocam no assunto só por receio de pareceram ridículos.
  Morelli riu com gosto.
  – Eu mesmo não teria coragem para contar o que aconteceu se você não me houvesse encorajado.
  – É isso que acontece. Esses fatos são mais comuns do que pensamos.
  Os dois prosseguiram conversando animadamente.  Só tarde da noite, Morelli voltou para casa. Estava emocionado e alegre. Embora mil perguntas se sucedessem em sua cabeça sem resposta, sentiu brotar no peito uma onda de alegria. Teria encontrado uma razão nova e melhor para viver? Excitado e pensativo, só muito tarde conseguiu adormecer.

NÃO SE ESQUEÇAM DE VOTAR...

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Pelas Portas do Coração - COMPLETO - ZIBIA GASPARETTOOnde histórias criam vida. Descubra agora