CAPÍTULO 30

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Dagoberto remexeu-se na cama. Sentia a cabeça pesada e o peito dolorido. Abriu os olhos. Tentou perceber onde se encontrava. Não conhecia aquele lugar. Quis levantar-se e não conseguiu. Estava fraco. De repente lembrou-se. Estava trabalhando no hospital quando sentiu uma dor violenta no peito, parecia que ia explodir, e perdeu os sentidos, não se lembrava de mais nada. Teria tido um enfarte? Olhou ao redor. Estava em um quarto comum, claro, simples, mas confortável e nada havia que indicasse um tratamento médico intensivo. Não havia aparelhos nem suporte de soro, nada. Perto da janela, pequena mesa com um vaso de flores, duas cadeiras e nada mais.

Que lugar seria aquele? Se seu estado não era grave, por que não estava em casa? Que fraqueza era essa que o impedia de levantar-se?

A porta abriu-se, e uma enfermeira jovem, de fisionomia agradável, entrou trazendo uma salva onde havia um copo contendo um líquido verde claro.

Aproximou-se do leito dizendo satisfeita:

- Bom-dia, Dr. Dagoberto. Como está?

Ele olhou-a admirado;

- Bom-dia. Onde estou? Que lugar é este?

- Você está em um lugar de refazimento. Beba isto. Vai sentir-se melhor.

- O que é? - Quem receitou isso?

- O douto Júlio. Pode tomar sem medo, vai lhe fazer muito bem.

- Não quero. Preciso ver esse médico e saber o que é que eu tenho, por que estou aqui, antes de tomar qualquer medicamento.

- Você está muito fraco e, se não tomar o remédio, vai custar muito a melhorar.

- Não me recuso a tomar o remédio. O que eu quero é saber o que é e para que ele serve. Não gosto de ingerir nada sem saber exatamente para que serve.

- Este é apenas um fortificante. Garanto que só lhe fará bem.

- Quero ver o médico que está me atendendo.

- Beba isso primeiro. Depois direi a ele que deseja vê-lo.

Ela estendeu o copo, e ele, fazendo uma careta, apanhou-o e cheirou tentando descobrir o que era. Ela sorriu dizendo:

- O gosto é ainda melhor do que o aroma. Vamos, beba.

- Tem certeza de que vai fazer bem?

- Tenho.

Ele ingeriu o líquido que lhe pareceu um refresco de gosto agradável.

- Não parece remédio.

- É apenas um fortificante.

- Aqui não há aparelhos nem controle, o que significa que meu estado não é grave. Porque esta fraqueza?

- Se fizer tudo quanto o doutor recomendar, vai melhorar rapidamente.

- Ainda bem. Tenho muitos compromissos e preciso voltar para casa o quanto antes. Não vejo telefones. Preciso dar alguns telefonemas. Poderia arranjar-me um?

- Não temos telefones aqui.

- Este lugar deve ser muito atrasado! Como vim parar aqui?

- Veio por causa do seu estado de saúde.

- E Norma onde está? Ela nunca me deixou só, deve estar aí fora esperando para entrar.

- Ela não esta aqui.

- É estranho! Estamos afastados de São Paulo?

- Sim.

- Vá,enfermaria, fale com o médico. Eu preciso saber o que estou fazendo aqui e qual é minha doença. Estou sentindo sono e desconfio que seu fortificante continha algum sonífero. Por que fez isso comigo?

Pelas Portas do Coração - COMPLETO - ZIBIA GASPARETTOOnde histórias criam vida. Descubra agora