CAPÍTULO 28

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Sentada em sua sala de trabalho, Juliana entretinha-se em examinar os tópicos que pensava abordar com o grupo à noite. Educar o espírito era para ela a tarefa mais importante e que realizava com prazer, contando com ajuda direta de Dora que revisava suas anotações, acrescentando novos aspectos ou ampliando e esclarecendo os temas de forma objetiva e prática.

Ajudar as pessoas a se conscientizarem da realidade, tornando-se lúcidas e assumindo a responsabilidade sobre a própria vida, era fundamental. Juliana pensava que quando a dor e a infelicidade, a doença e os dramas se instalavam na vida de uma pessoa, era muito mais complicado e difícil poder ajudar. Todos desejam encontrar a felicidade e fazer o melhor, mas ignoram como fazer isso. Enveredam pelas ilusões, impressionam-se com as crenças erradas da sociedades e só vão descobrir que elas não servem quando houverem amargado anos de sofrimento, que poderiam ser evitados, se melhor informada, houvesse optados por outros caminhos.

O caso de Vera era um deles. Julian percebera que desde o começo que seu casamento não daria certo.

Cada um se casara com suas ilusões, esperando do outro coisas que eles não tinham condições de dar. Nesse caso as cobranças eram inevitáveis. Vera fora corajosa e resolvera modificar o rumo de sua vida. Quantas mulheres estariam morrendo um pouco a cada dia, presas as compromissos assumidos erroneamente, esperando que como por milagre as coisas mudem sem querer admitir que isso nunca vai acontecer?

Aconselhada por Paulo, Vera aceitara ficar por algum tempo em sua casa em Campos de Jordão. Nas primeiras hora da manhã seguinte, eles viajavam para lá. Enquanto Paulo conversava com os caseiros, tomando providências para que nada faltasse aos hóspedes, Vera arrumava seus pertences no quarto, conversando com Juliana.

— Nunca vou poder pagar o que vocês estão fazendo por mim.

— Não precisa se preocupar com isso.

— Nunca conheci alguém como Paulo. Culto, fino, educado. É compreensivo, bondoso, mas ao mesmo tempo, firme. Consegue Consegue colocar os fatos de uma forma clara. Neste momento, na confusão que estou envolvida, isso me ajudou muito. Na verdade seria muito difícil nesta altura enfrentar uma briga com Marcelinho. Ele haveria de querer nos levar à força, ou pelo menos o Martin. Enfrentar isso seria muito doloroso para mim. Seu marido vale ouro.

Juliana sorriu:

— Sei disso.

— E além disso, a ama muito. Nota-se como seus olhos brilham quando a fitam. Você conseguiu a felicidade, aproveite e faça tudo para conservá-la. as desilusão é triste e dói muito.

Juliana baixou os olhos e não respondeu. Vera estava enganada. Paulo não a amava como mulher. Se isso fosse verdade, naqueles anos de convivência ele teria tentado aproximar-se mais dela. Ele sentia carinho, amizade, só isso. Quantas vezes ela sentira vontade de acariciá-lo, de beijá-lo, de dizer-lhe que o amava? Mas temia que ele se envolvesse, pela amizade que sentia, pela afinidade das idéias, sem amá-la verdadeiramente. Se isso acontecesse, ela se afastaria. Não teria condições de suportar. Ela não desejava isso. Queria estar o tempo todo a seu lado. Preferia deixar as coisas como estavam a ter que separar-se dele. Por essa razão, não queria que ele percebesse o quanto ela o amava.

Eles voltaram a São Paulo no dia seguinte, e Vera os abraçou com lágrimas nos olhos.

— Trate de aproveitar essas férias para refazer-se. Quando as coisas estiverem resolvidas, e você voltar, terá que trabalhar bastante — observou Paulo.

— Sobretudo, não se torture com o que já passou. — Você virou uma página da sua vida. Está se dando uma chance de encontrar uma vida melhor. Por isso, ao invés de relembrar o passado, faça planos para o futuro, sempre pensando no bem — sugeriu Juliana.

Pelas Portas do Coração - COMPLETO - ZIBIA GASPARETTOOnde histórias criam vida. Descubra agora