CAPÍTULO 26

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Marcelinho chegou em casa mais cedo e não encontrou Vera. Irritado, desabafou com a mãe:

— Você deveria ter me dito que ela não parava em casa. Se eu tivesse sabido antes, não teria passado por esse vexame.

— Sua mulher não atende o que digo. Depois você também nunca está em casa. No escritório, aparece pouco.

— A Vera tem saído todos os dias. Sabe onde vai?

— Sai  sempre com a Nice. Antes me dava satisfações, agora não diz nada.

— Você deveria ter me contado.

— Tenho bastante problemas no escritório. Estou ficando cansada de tomar conta dos negócios. Penso que está na hora de você assumir o trabalho. Não vou poder fazer tudo sempre.

— O problemas agora é Vera, não eu. Ela tem ido todas as tardes no escritório do Dr. Jonas, primo de Nice.

— Um escritório é um lugar de trabalho. O que vão fazer lá?

— Isso que preciso saber. O Dr. Aguiar perguntou se ela está trabalhando lá. Já pensou que vergonha? Minha mulher, empregadinha em um escritoriozinho de advocacia?

Laura olhou -o admirada:

— Não pode ser. Vera não teria essa coragem!

— Se não é isso, pode ser coisa pior. Ela não está respeitando meu nome. Se o Dr. Aguiar falou, é porque os comentários andam circulando. Veja, são quase sete horas, e ela ainda não chegou. Isso não pode continuar. Tenho que tira tudo a limpo.

Quando Vera chegou dez minutos mais trade, encontrou o marido à sua espera. Vendo-a, foi logo dizendo:

— Já passa das sete, onde foi até esta hora?

Vera olhou-o séria e respondeu:

— Por que pergunta? Nunca perguntei onde você vai até de madrugada  todas as noites.

— Não seja mal-educada. Sou seu marido e não estou gostando dos comentários que ouvi. Você vai me dizer o que vai fazer naquele escritório todos os dias.

— Trabalhar — respondeu ela, calma.

— Trabalhar?! Ainda fala com essa calma? Desde quando você precisa disso? Quer me envergonha perante toda sociedade?

— Não vejo por quê. Estou aprendendo uma profissão honesta e não me envergonho disso.

— Não posso acreditar! Por que está fazendo isso? Quer me desacreditar?

— Não. Quero encontrar um novo caminho. Estou cansada da vida fútil que temos levado. Pretendo mudar. Construir meu futuro de outra forma.

Marcelinho abanou a cabeça negativamente.

— Você está louca. Esqueceu da sua posição, do meu nome e tudo mais? Você é rica, não precisa humilhar-se dessa forma. Está querendo vingar-se de nós, só pode ser isso. Uma idéia dessas só pode ser para me atingir.

— Pode pensar o que quiser. Mas estou fazendo isso por mim e pelo Martin. Nosso casamento acabou há muito tempo. Sinto que não posso continuar vivendo na dependência de vocês. Não sou um parasita. Sou uma pessoa, inteligente, capaz. Preciso cuidar da minha vida.

— Você vai acabar com isso agora. Está proibida de sair de casa a não ser com mamãe ou comigo.

— Esforçei-me para conseguir esse emprego. É bom e não vou deixá-lo porque você quer.

— Se tentar fazer isso, vai se arrepender. Você ainda não sabe do que serei capaz.

— Não pretendo brigar com você. Somos pessoas civilizadas. Você faz o que quer da sua vida e eu tenho o mesmo direito. Não estou disposta a passar o resto dos meus dias como uma sombra, vivendo das sobras que vocês me dão para salvar as aparências. Estou cansada. Quero viver. Sou moça, bonita, ainda posso refazer minha vida e ser feliz. Não vou deixar que me destruam.

Pelas Portas do Coração - COMPLETO - ZIBIA GASPARETTOOnde histórias criam vida. Descubra agora