CAPÍTULO 17

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Apesar de não haver dormido bem, Dagoberto levantou-se cedo na manhã seguinte. Sentia-se aguniado, triste, peito oprimido. Norma olhava o marido com preocupado. Ela também sentia-se angustiada. Não queria que Juliana fosse internada, mas sabia que Dagoberto não iria desistir. Sentar-se à mesa do café, ao lado do marido, sem dizer palavra.
- Juliana já acordou? - indagou ele.
- Ainda não. É muito cedo.
- Vá acordá-la. Quanto antes acabarmos com isso melhor.
Norma relutou:
- Não seria melhor esperarmos mais um pouco?
Ficarei vigilante e não permitirei que ela saia só. Irei levá-la ao colégio. Farei tudo que precisar.
Dagoberto meneou a cabeça:
- Não adianta. Ela está doente e precisamos tratá-la. Não podemos perder tempo. Quanto antes, melhor. Se houvéssemos percebido na infância, certamente ela não teria ficado do jeito que ficou. Sei que é difícil, mas é para o bem dela. Vamos mande chamá-la.
Norma ia responder-lhe mas desistiu. Chamou a a criada e pediu-lhe que acordasse Juliana e lhe pedisse para se vestir. Voltar e sentou-se novamente ao lado do marido.
- Não vai tomar seu café? - indagou ele.
- Agora não. Estou sem fome.
Dagoberto olhar para ela, procurando aparentar otimismo:
- Não fique assim. Ela só vai ficar lá alguns dias, e logo estará de volta, curada. Pense nisso.
- Dona Norma, Juliana não está no quarto!
- Já levantou? Veja se está no banheiro.
A criada abanou a cabeça negativamente:
- Não está, não. Já olhei tudo. Acho que ela saiu.
- Não pode ser - disse Norma. - Ainda é muito cedo! Aonde iria a esta hora?
Dagoberto interveio:
- Procure-a, Norma. Não desejo me atrasar. Veja onde esta menina se meteu.
Norma procurou por toda parte, foi ao quarto de Juliana e assustada percebeu que suas roupas haviam desaparecido. Olhou o maleiro e a mala também não estava. Correu chamar o marido:
- Dagoberto, venha aqui imediatamente. -Vendo-o entrar no quarto, continuou: - Juliana fugiu de casa!
- Fugiu?!! Não pode ser! Ela não faria isso! Vamos procurar melhor.
- Já procurei. Ela levou as roupas e sua mala desapareceu. Veja.
Abriu o guarda-roupas e estava vazio. Dagoberto não se conformou:
- Você lhe disse que iriamos interná-la! Eu lhe pedi para não lhe contar! Está vendo o que fez?
Norma indignou-se:
-Você está enganado. Eu não lhe disse nada! Por que me acusa?
- Só você sabia o que pretendíamos fazer. Ninguém mais. Se ela fugiu, foi porque descobriu tudo. Só você sabia.
- Outras pessoas também sabiam. O Dr. Bueno e até o Dr. Morelli. Por que eu?
- Espero que esteja dizendo à verdade. Seja o que for, eu vou descobrir - respondeu Dagoberto tentando controlar-se a raiva. Se o Morelli estivesse metido nisso, iria à polícia! Não teria nenhuma contemplação.
- Para onde teria ido? - indagou Norma preocupada.
-Para casa de alguma amiga. Aonde iria sem dinheiro?
- Juliana não é ligada às amigas. Talvez tenha ido pedir ajuda a Vera. - Só espero que ela não tenha medito o Morelli nessa história. Ligue para Vera e veja se sabe de alguma coisa.
Enquanto Norma apressava-se em telefonar, Dagoberto começou revistar tudo e percebeu que ela levara roupas, objetos de uso pessoal, mas deixará o material do colégio. Norma voltou dizendo:
- Vera não sabe de nada. Ficou muito assustada com o que lhe contei.
- Ela nunca teve muita afinidade com Vera. Já com o Clóvis... Ele sabia de tudo e acobertava. Vamos acordá-lo. Vai ver que sabe onde ela está.
Foram ao quarto de Clóvis e enquanto Dagoberto abria as janelas, Norma o chamava:
- Acorde, Clóvis. Juliana sumiu.
Ele abriu os olhos e logo percebeu que eles já haviam dado pela falta de Juliana. Sentou-se na cama, fingindo não entender e dizendo:
- O que foi, mãe? Aconteceu alguma coisa? Dagoberto aproximou-se dizendo com energia:
- Onde está Juliana?
- Juliana? Por que? Ela não está no quarto?
- Não, é você deve saber para onde ela foi. Vá falando. Onde ela está.
- Como posso saber?
- Você sabia de muitas coisas e não nos conto. Sua irmã sumiu, e é melhor contar logo onde ela está antes que as coisas se complicarem.
- Eu não sei.
- Você ontem chegou tarde, - interveio Norma - notou alguma coisa diferente?
- Não. Eu saí com o Cláudio e fui dar uma volta, encontrei alguns colegas da faculdade e ficamos conversando. Quando eu voltei para casa, tudo estava silencioso e não havia nada diferente. Vim dormir e acordei agora. Vai ver que ela saiu, foi dar uma volta. Sabem como Juliana é. Gosta de andar por aí sozinha.
- Ela levou a mala e as roupas. Juliana fugiu de casa - disse Dagoberto irritado. - Acho que você sabe onde ela está.
- Eu não sei de nada. Não acho que ela tenha fugido de casa. Por que faria isso?
- Ela não queria ir fazer tratamento no hospital - esclareceu Norma.
- Que loucura! Ela não tem dinheiro. Para onde iria? Não está com a Vera? - tornou ele.
Dagoberto, desconfiado, olhava Clóvis que, com receio de ser descoberto, fingia com perfeição.
- Já falei com Vera - disse Norma. - Levanta-se. Vai nos ajudar a procurá-la.
- Procurá-la? Onde? Não tenho a menor idéia! - disse Clóvis.
- Isso mesmo. Levante-se - tornou Dagoberto. - Vamos sair à procura dela e quando a encontrar, ela vai saber que isso não se faz. Não se demore, estarei esperando.
Clóvis levantou-se e rapidamente tratou de lavar-se e vestir-se. Dentro de poucos minutos, estava na sala.
- Vá tomar seu café. Não sei a que horas voltaremos. Enquanto isso vou dar alguns telefonemas.
Clóvis abedeceu e Dagoberto ligou para casa do Dr. Morelli. Foi Armando que atendeu:
- Meu pai saiu cedo hoje. Tinha um caso urgente. De lá, ia direto para o hospital.
- Pode informar-me que o caso é esse que ele foi atender tão cedo?
- Não sei. Quando acordei, ele já havia saído. A criada informou-me que ele recebeu um chamado urgente. Posso ajudá-lo em alguma coisa?
- Não, obrigado. Preciso falar com ele mesmo. Vou procurá-lo no hospital.
- Faça isso. Ele estará lá com certeza.
Dagoberto desligou o telefone desconfiado.
- E então? - perguntou Norma.
- Acho que Morelli está metido nisso. Ele saiu cedo e o Armando não sabe onde foi. Disse que ele teve um chamado urgente.
- Pode ser verdade.
- Pode. Mas pode ser também que Juliana lhe tenha pedido ajuda. Ela deve saber que ele era contra sua internação. - Dagoberto passou a mão pelos cabelos nervosamente. - A que ponto chegamos! Minha filha pedindo ajuda a um estanho, contra seu próprio pai.
- Juliana pode ter ficado assustada. É uma criança ainda. Não sabe bem o que está fazendo - disse Norma.
- Não sabe, mais vai saber. Estou disposto a tudo. Irei a polícia.
- Não faça isso, Berto! Espere mais um pouco mais. Ela não tem dinheiro. Logo estará arrependida do que fez. Tenho certeza de que ela vai aparecer.
- É. Pode ser. Vamos sair para procurar na casa daquelas pessoas que a chamaram. Certamente a acobertariam. Antes vamos ao hospital. Quero falar com Morelli e suspender minhas consultas de hoje.
- Se quiser, eu posso procurar em outros lugares. No colégio dela, falar com as colegas.
- Não, senhor. Você vai comigo. Quero você debaixo dos meus olhos.
- Credo pai, até parece que não confia em mim!
- Não confio mesmo. Você é tão desmiolado quanto ela.
Clóvis fez cara de aborrecido. Na verdade estava com muito medo. Não dava mais para pensar se estavam certos ou errados, agora, o melhor era fazer de conta que não sabia de nada mesmo.
Eles saíram e Norma, coração apertado, não sabia o que fazer. Uma hora depois, Vera chegou. Norma abraçou-a aflita:
- Ainda bem que você veio. Estava para morrer de aflição!
- Fiquei assustada. Que história é essa, Juliana fugiu de casa mesmo?
- Fugiu. Levou todo roupa. Saiu sem ninguém ver. Não sei como pôde fazer isso. Seu pai está inconsolável.
- Posso imaginar. Venha, sente-se aqui e conte tudo. Quem sabe podemos descobrir alguma coisa.
Depois de acomodadas no sofá da sala, Norma começou:
- Você sabe que Juliana sempre foi esquisita. Bem que eu alertava o Berto, mas ele dizia que estava tudo bem.
- Sei. Mas o que aconteceu? Por que ela teria fugido de casa? Ela tem namorado?
- Namorado? Claro que não.
- Pode ter sido isso. Ela pode haver se apaixonado e terem fugidos juntos.
- Meu Deus! Isso seria ainda pior. Não. Não penso que tenha sido isso. Ela nem gostava de namorar. O Dr. Armando andou em volta dela, mas segundo sei, ela cortou-lhe as asas, dizendo-lhe que só sairia com ele por amizade.
- Ele é bonitão! Além disso, excelente partido. Sei de meia dúzia de garotas que adorariam um convite dele.
- Juliana não sabe apreciar essas coisas.
- Ela pode haver se apaixonado por alguém proibido. Um homem casado. Esses homens são tão fúteis!
- Que horror! Nem diga uma coisa dessas! Juliana nunca faria isso, tenho certeza.
- Se não foi isso, o que foi?
- Ultimamente ela não estava bem com aquelas manias de curar as pessoas. Deu no eletro que ela tem elevado grau de disritmia cerebral. Está manhã, Dagoberto pretendia interná-la no hospital para um tratamento.
Vera deu um pulo:
- Então foi por isso! Ela teve medo. Claro. Não encara menos. Eu também teria. Odeio hospitais.
- Eu não queria, mas o Berto disse que era preciso. Alguns dias e ela voltaria curada.
Vera meneou a cabeça pensativa:
- Mãe, eu tenho pensado muito em Juliana ultimamente. Ela percebe coisas que vão acontecer. Tenho conversado com uma amiga que entende de espiritismo, e ela me disse que Juliana pode ser médium.
- Que bobagem! Nem repita isso na frente de seu pai!
- Juliana me disse várias coisas surpreendentes nunca errou. Lembra-se do Dr. Vasconcelos? Como ela podia saber que ele estava lá caído, se ninguém ainda sabia?
- Não gosto de falar dessas coisas. São coincidências, nada mais.
- A Glória disse que esses casos precisam ser estudados pela ciência. Papai bem que poderia fazer isso.
- O Dr. Morelli queria, mas seu pai não acredita nisso e não deseja ver Juliana metida com esse tipo de coisa.
- Mas ela já está metida nisso. E agora, o que ele pretende fazer?
- Saiu com Clóvis para procurá-la. Pensa que o Dr. Morelli pode ter algo a ver com isso. Ele tentou convencer o Dr. Bueno a não autorizar a internação de Juliana.
- Papai é muito radical. Isso pode prejudicar Juliana.
- Não diga isso, Vera! Seu pai é um homem bom e só deseja o bem de Juliana. Não se esqueça que ele é um médico renomado e respeitado. Sabe o que está fazendo.
Vera suspirou dizendo:
- Espero que sim. Já pensou o que pode acontecer a Juliana, inexperiente, sozinha, sem dinheiro, andando por aí?
- Meu Deus! É só nisso que penso! Onde estará? Se ela não aparecer até a noite, seu pai pretende ir à polícia.
- Eu já pensou que ele deveria colocar um anúncio no rádio, no jornal, dizendo para ela voltar, garantindo que não pretende mãos interná-la. Aí, ela apareceria.
- Ele jamais fará isso. Vai pôr a polícia à sua procura e pretende processar quem a estiver escondendo. Ela ainda é menor de idade.
As duas continuaram conversando. Vara ficou fazendo companhia para a mãe, esperando por alguma notícia. No fim da tarde, Dagoberto e Clóvis voltaram sem haver conseguido nada.
- Ela deu alguma notícia? - perguntou Dagoberto assim que entrou.
- Nada - respondeu Norma angustiada. - E vocês, descobriram alguma coisa?
- Não. O Morelli garante que não sabe de nada e realmente saiu cedo para atender a um chamado. Eu pedi, ameacei, fiz o que pude, mas ele foi irredutível. As pessoas que procuramos ficaram tão surpreendidas e pesarosas com a notícia que estou inclinado a pensar que não sabem de nada mesmo. Ninguém a viu, ela sumiu. Passamos no colégio, e Clóvis conversou com algumas garotas com as quais Juliana tinha alguma amizade, enquanto eu falava ao diretor. Não descobrimos nada. Ela ontem assistiu normalmente às aulas. Ninguém soube informar nada. Como é possível? Uma pessoa não pode sumir assim! Principalmente sem dinheiro. Alguém a está ajudando e quando e quando eu descobrir, vai se haver comigo.
- Acalme-se, Dagoberto. Vocês almoçaram? - indagou Norma.
- Nem pensei nisso. Estou arrasado - respondeu Dagoberto.
- Vou preparar um lanche para vocês.
- Vou tomar um banho e desço em seguida.
- Eu também - disse Clóvis.
Vera, que o observava, pediu:
- Espere um pouco, Clóvis.
- O que é?
- Juliana tinha algum namorado?
- Que eu saiba, não.
- Pode sei isso. Ela pode ter fugido com alguém.
-Não acredito nisso. Estou cansado e com fome. Vou tomar meu banho e já desço.
Clóvis saiu satisfeito por livrar-se das perguntas da irmã. Ela sentia pena da preocupação dos pais, mas estava disposto a cumprir o que prometera a Dora. Mesmo porque, se falasse, seria responsabilizado. A essas horas, Paulo já teria levado Juliana para longe e ninguém descobriria nada. Seu pai pretendia prestar queixa à polícia. Estava assustado, e se eles descobrissem a verdade? Lembrou-se de Dora e acalmou-se um pouco. Ela lhe dissera que nada aconteceria. Ele confiava. Ela nunca havia falhado.
Depois do lanche, Dagoberto queria procurar a polícia, mas Norma lhe pediu para esperar mais um pouco. Tinha esperanças que Juliana voltasse para casa.
- Ela pode estar correndo perigo! - disse ele nervoso. - Uma menina que nunca saiu de casa, andar por aí, sabe-se lá com quem! Não dá mais para esperar. Vou a polícia agora mesmo.
- Juliana sempre foi ajuizada - tornou Norma. - Se ela saiu de casa, deve ter ido para a casa de alguém. Não iria ficar pela rua sozinha.
- Mamãe tem razão. Juliana sempre se portou bem. Nunca foi de se envolver com pessoas de má índole. A polícia vai fazer alarde e isso pode afastá-la ainda mais - interveio Vera.
- Se ela fosse tão ajuizada como vocês dizem, não teria feito o que fez - respondeu Dagoberto irritado.
- Espere pelo menos até amanhã cedo. Acredito que ela vai voltar.
- Está bem. Não quero que digam que sou radical. Mas a responsabilidade é de vocês se acontecer algo coisa a ela nesse meio tempo. Se ela não aparecer até amanhã cedo, darei queixa à polícia.
Vera não arredou pé. Ligou para casa e avisou que passaria a noite ali. O ambiente estava tenso, e Clóvis fez companhia à família, preocupado. Estava com muito medo. Momentos havia em que ele pensava:
- E se tivesse feito mal? E se acontecesse alguma coisa ruim com Juliana?
Mas logo lembrava-se das palavras de Dora e se acalmava. Eles estavam atentos a qualquer ruído. Quando o telefone tocava, todos corriam. Mas as horas passavam e nenhuma notícia de Juliana.
Norma queria que os filhos dormissem, e Vera estendeu-se no sofá da sala, enquanto Clóvis recostou-se em uma poltrona. Assim que dia clareou, Dagoberto, abatido e cansado, procurou a polícia, levando um retrato de Juliana. Lá, teve que responder a várias perguntas dessas informações. Por fim, o delegado lhe disse se Juliana não tinha nenhum namorado e estava com medo de ir para o hospital, o melhor que ele tinha a fazer era publicar nos jornais que não pretendia mais interná-la. Que ela podia voltar para casa sem medo.
- Não posso fazer isso - disse ele. - Assim que eu puser as mãos nela, terei que interná-la. Ela está doente e precisa de tratamento. Se estivesse bem, não teria feito o que fez.
- O doutor é quem sabe. Estou falando com a experiência de muitos anos nesta delegacia. Seria a maneira mais fácil de fazê-la voltar para casa.
- Eu gostaria que o senhor pusesse algum investigador à procura dela.
O delegado coçou a cabeça pensativo, depois disse:
- Infelizmente, doutor, nós não dispomos de muitos investigadores. Claro que vamos procurá-la, mas nossos homens estão trabalhando em casos graves de assassinato, assaltos. Precisam prender criminosos que estão soltos e que representam perigo para sociedade. Não podem deixar isso para procurar uma mocinha que fugiu de casa.
Dagoberto mordeu os lábios para não dar uma resposta malcriada. Não estava habituado a ser tratado com dureza. Tentou contornar:
- Eu recompensarei muito bem a quem conseguir descobrir onde minha filha está. Pode dizer isso a seus homens.
- Deixe o retrato comigo. Vou reproduzir e distribuir a todas as delegacias e carros.
Dagoberto saiu um pouco desanimado. O delegado não dera muita importância ao caso, é ele temia que não tomasse as providências adequadas. Chegou em casa, triste e nervoso. Confiou suas dúvidas à família.
- Não lhe disse para fazer isso? Seia uma boa solução - disse Vera convicta.
- Não posso mentir para Juliana. Quando a encontrar, ela vai mesmo para o hospital. Agora mais do que nunca estou convencido de que ela está realmente doente.
Vera sacudiu a cabeça não concordando. Norma interveio:
- Não seria melhor esquecer essa idéia de hospital e tratá-la em casa mesmo? Eu não a deixaria um só momento.
- Do jeito que vocês falam, até parece que o culpado sou eu! Sei o que estou afirmando. Juliana está doente e precisa trata-se. Se não o fizer, o seu estado pode agravar-se.
Norma, angustiada, com o coração oprimido, não disse nada. De que adiantaria? Conhecia Dagoberto. Quando ele dizia uma coisa, nada o demoveria.
Vera foi para casa com a promessa de ser avisada assim que houvesse alguma notícia. Clóvis não foi a faculdade. Cláudio o procurou para saber o que estava acontecendo. Dagoberto, vendo-o, foi dizendo:
- Preciso conversar com você. Sei que andou acobertando as fantasias de Juliana. Talvez sabia alguma coisa sobre seu desaparecimento.
- Juliana desapareceu?
- Fugiu de casa. Sabe alguma coisa sobre isso?
- Eu?! Não.
- Esteve com ela nestes dias?
- Não. Nem sabia que ela havia fugido. Por que será que fez isso?
- Isso é o que eu gostaria de saber. Alguém deve tê-la ajudado. Não tinha dinheiro nem nada. Você não sabe mesmo onde ela está ? Se souber algo, vá falando, por que a polícia já está investigando e vai prender quem a estiver acobertando.
- Eu não sei de nada Dr. Dagoberto.
- Você andou com Clóvis acobertando as loucuras dela. Juliana está doente e precisa de tratamento.
- O senhor pode falar o que quiser, mas ela curou minha mãe e toda minha família é muito agradecida por isso. O Dr Morelli é testemunha. Agora, quando à fuga, eu não sei de nada.
Dagoberto fixou Cláudio nos olhos e não disse mais nada. Ele parecia-lhe estar sendo sincero. A sós com Clóvis no quarto, ele perguntou assustado:
- O que aconteceu realmente?
- Papai queria internar Juliana e ela fugiu de casa.
- Como? Para onde foi, você sabe?
- Não.
- Hum! Isso me parece coisa de Dora. Estou certo?
- Está. Só posso lhe dizer isso.
- Compreendo. Quando puder, você fala.
- É. Quando descobrir a verdade, eu conto. Até agora, não sabemos de nada. Ela sumiu sem deixar vestígios. Procuramos em todo lugar possível. Onde será que ela está?
Cláudio ia retrucar, mas Clóvis fez ligeiro gesto e ele entendeu:
- É uma pena. Se minha irmã, eu também estaria como você.
- Tenho esperanças de que ela se arrependa e volte para casa.
Clóvis havia percebido um leve ruído no corredor e desconfiou que alguém, possivelmente seu pai, estivesse ouvindo a conversa.
- É. Ela voltará com certeza. Onde irá sem dinheiro? Posso fazer alguma coisa para ajudar?
- Não sei. Já a procuramos em todos os lugares possíveis. Nada. Se tiver alguma idéia, me avise. Estamos sem saber o que fazer.
Cláudio despediu-se, e Clóvis acompanhou-o até a rua. Vendo-se a sós, ele voltou ao assunto:
- Você sabe mais do que disse. O que aconteceu realmente?
- Não posso dizer nada agora. Dora me pediu.
- Ela está em segurança, certamente.
- Sim. É só o que posso dizer.
- Quero que saiba que estou pronto a cooperar. Se precisarem, é só chamar. De mim, ninguém saberá nada, pode ficar sossegado.
- Sei disso. Não sei como as coisas vão correr. Estou nervoso, mas Dora garantiu que Juliana não podia ser internada.
- Ela sabe o que diz.
- Há momentos em que fico com medo. Se meu pai descobre, me mata.
- É. Eu não queria estar na sua pele. Mas ele não vai descobrir nada. Dora nunca errou até agora. Tudo quanto disse foi certo.
- É verdade.
- Se precisar de mim, é só chamar. Amanhã você vai à faculdade?
- Acho que sim. Vamos ver como as coisas correm.
Ele despediu-se, e Clóvis entrou em casa. Dagoberto o olhou dizendo desconfiado:
- O que vocês tanto conversaram lá fora?
- Ele estava me contando o que caiu na aula de hoje - mentiu ele. - Eu perdi  uma prova.
- Por que não me disse que tinha prova?
- Esqueci. Depois do que aconteceu, não tenho cabeça para pensar em estudar.
- Acho bom estudar apesar de tudo. Não pode perder mais um ano.
- Sim, senhor. Vou para meu quarto tentar recuperar o tempo perdido.
O que ele queria era livrar-se de sermão de Dagoberto. Quando ele estava contrariado, sempre a cobrança era maior.
Uma vez no quarto, Clóvis estendeu-se na cama pensando nos últimos acontecimentos. Por que seu pai era tão teimoso? Se ele houvesse concordado em ouvir Juliana, em pelo menos dar chance a que Dora mostrasse o que pode fazer, se fosse como o Dr. Morelli que pretendia estudar cientificamente o assunto, eles não teriam chegado a essa situação. Reconhecia que a intransigência do pai provocara todo o problema.
Juliana era diferente das outras pessoas. Ela veira ao mundo com uma tarefa especial. O que seria? Ela seria como os santos da igreja que curavam como Juliana. Sua irmã seria também uma santa?
A esse pensamento, Clóvis sentiu um arrepio percorrer o corpo. Juliana, quando normal, era como todo mundo. Não tinha nada diferente, a não ser o gosto de ficar sozinha, impróprio para sua idade, principalmente em uma mulher.
O que ainda estaria para acontecer? Com a cabeça cheia de perguntas que não conseguia responder, Clóvis, só tarde da noite, conseguiu adormecer.

NÃO SE ESQUEÇAM DE VOTAR...

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Pelas Portas do Coração - COMPLETO - ZIBIA GASPARETTOOnde histórias criam vida. Descubra agora