A partir daquele noite, os acontecimentos se precipitaram em casa de Dagoberto. A notícia da cura da pequena Cristina se propagou e muitas pessoas começaram a procurar Juliana para que as curasse. Dagoberto fazia tudo para impedir, proibindo-a terminantemente de atender qualquer pessoa. Mas era inútil. Quando ele menos esperava, ela saía sem ninguém percebesse e ia atender os chamados.
Dagoberto esbravejava, proibia, mas não adiantava. Quando falava com Juliana, ela se surpreendia. Aquilo era enlouquecedor. Clóvis a ajudava, e ele ameaçou até de expulsão de casa, se ele continuasse. O Dr Morelli tentou por várias vezes conversar com Dagoberto sobre o assunto, mas ele nunca permitiu.
Submeteu Juliana a uma série de testes e exames. Finalmente, encontrou alguma coisa em que se segurar: Juliana era portadora de disritmia cerebral. Com o resultado de eletroencefalograma, ele procurou o Bueno para discutirem o caso.
- Ela já sofreu algum ataque?
- Têm ausências. De repente fala coisas como se fosse outra pessoa e depois não se lembra de nada.
- Isso pode ser um sintoma, mas nos exames que fiz, Juliana mostrou-se muito equilibrada.
- Mas agora tem se comportado de forma inconveniente. Sai por aí querendo curar as pessoas. Sabe como é. Há muita gente crédula, ignorante. Tento contê-la, mas está difícil. As pessoas a procuram e ela vai. Não posso ficar vinte quatro horas ao lado dela. Tenho pensado bem e acho que o melhor seria interná-la por um tempo.
Bueno balançou a cabeça pensativo:
- Não é um caso para internação.
- Pois eu acho que é. Talvez um tratamento de sonoterapia conseguisse melhorar essa disritmia.
- No caso de Juliana, não seria adequado. Ela é uma pessoa calma.
Dagoberto impacientou-se:
- Diz isso porque não tem que vigiá-la todo o tempo.
- Fale com ela. Tente convencê-la. Seria melhor.
- É um favor que estou pedindo. Não sabe como me sinto vendo-a daquele jeito.
- Não devia dar tanta importância ao caso. Muitas coisas acontecem na adolescência. Os jovens têm muita imaginação. Alguns assumem outra personalidade. Querem ser adultos. Você diz que ela pretende curar as pessoas?
- Ela diz que as cura.
- Vê? No fundo ela gostaria de ser como você. Ela o admira. Deseja curar para que você a admire.
Dagoberto sacudiu a cabeça negativamente:
- Não. Não é isso, não. Ela nunca demonstrou interesse pela minha profissão.
- Mas no inconsciente dela, existe uma admiração e ela gostaria de ser igual a você. Isso é da idade vai passar.
- E a disritmia?
Bueno pegou o eletroencefalograma e o examinou cuidadosamente.
- Olhando este eletro, fico admirado como ela nunca teve nenhum ataque. Só vi exames como este em epiléticos.
- Viu como tenho razão? Precisamos tomar uma providência, antes que ela fique pior.
- Vou receitar um medicamento.
- Eu preferia interná-la.
- Deixe o exame comigo. Vou estudá-lo e depois lhe darei uma resposta.
Naquela noite, Clóvis foi acordado por Juliana. Ela estava de camisola, em pé ao lado de sua cama.
- O que foi Juliana? Aconteceu alguma coisa?
- Preciso de você.
Clóvis conhecia aquele tem. Quem estava ali era Dora. Imediatamente sentou-se no leito, acendendo o abajur:
- Para quê?
- Juliana não pode ser internada. Você precisa falar com o Dr. Morelli.
- Juliana internada? Quem disse isso?
- Seu pai está tomando providências para interná-la. Procure o Dr. Morelli em meu nome e peça-lhe para intervir.
Clóvis estava pálido. Seria possível que seu pai chegasse a tanto?
- Tem certeza do que está afirmando?
- Tenho. Ele quer que o Dr. Bueno a interne por causa do eletro. Mas não há nada de errado com ela. Você precisa me ajudar.
- Está bem. Farei o que me perde.
- Amanhã cedo, procure o Dr. Morelli e dê o meu recado. Juliana não pode ser internada. Não há nada de errado com ela.
- Está bem. Irei.
- Obrigada. Talvez tenha chegado a hora de precisaremos mais do seu auxílio. Podemos contar com você?
- Claro. Farei tudo para ajudar.
-Deus o abençoe. Não tema. Nós estaremos ajudando.
Juliana retirou-se e Clóvis levantou-se, foi à cozinha tornar um copo de aguá. Na manhã seguinte iria procurar o Dr. Morelli. Ele não duvidava que Dora estivesse falando a verdade. Seu pai, com certeza estaria tentando impedir Juliana de continuar.
Sempre jugara o pai justo e criterioso. Admirava-o por isso. Mas agora, ele estava se mostrando radical. As provas estavam ali e ele não queria ver. Fora testemunha de que ele telefonara para casa de Cristina no dia seguinte e constatara que a menina estava muito bem. Ela fora curada por Dora! Por que ele era tão incrédulo? Se acreditava em Deus, se vivia falando nisso, se respeitava as religiões dos pacientes, por que não aceitava que a cura espiritual pudesse acontecer?
Juliana era uma menina inocente e pura. Tranquila e de bem com a vida. Nunca a vira queixar-se de nada, tudo estava sempre bem para ela. Por que Deus não podia curar através dela? Ele que sempre fora meio descrente, se rendera às provas que presenciara. Por que seu pai não se dignava pelo menos a examiná-las? Por que não agia como Dr. Morelli que se interessava em descobrir como aconteciam esses fenômenos? Ele afirmava que tudo era natural e que o fato de não sabermos como eles ocorriam é que nos dava a impressão de milagres. Quantos fenômenos da fisica pareciam milagrosos aos homens de antigamente?
Clóvis deitou-se e não conseguiu mais dormir. Estava preocupado com o futuro. Detestava a faculdade e aquela inércia o atormentava. Gostaria de trabalhar, ganhar seu dinheiro para poder assumir sua própria vida, casar com Estela e ser feliz.
Ultimamente, ela não estava bem. Andava deprimida, angustiada. Sentia-se mal. Não Conseguia dormir à noite. Quando a via pálida e indisposta, ele se culpava. Ela não era assim antes. Fora depois do aborto que ela começara a sentir-se mal. Claro. Violentara seus sentimentos de mulher. Ele a amava e não queria que ela sofresse. Às vezes arrependia-se por não haver assumido. Mas ao mesmo tempo, sentia que não tivera outra saída.
E se acontecesse novamente? Ele não teria mais coragem de fazer tudo de novo. O que precisava era se casar com ela e resolver definitivamente a questão. Mas como fazer isso? Faltavam três anos para terminar seu curso, e ele sabia que mesmo que chegasse a isso, seria dificil arranjar um bom emprego. Alguns colegas que se haviam formado, lutavam para conseguir um lugar ao sol, sem conseguir.
Clóvis sentia-se desanimado e tão cedo não via possibilidade de solução. Sabia que para deixar a faculdade teria que sair de casa. Seu pai não consentiria. Como sustentar-se? Ele queria trabalhar, mas não tinha nenhuma profissão. Seu pai falara que, sem profissão, ele iria morrer de fome. Talvez ele exagerasse, mas se seus amigos que se formaram tinham dificuldade, ele que não sabia fazer nada, não conseguiria arrumar um emprego.
Estava acostumado com vida boa, confortável, Estela tambem. Ele não podia baixar o padrão. Remeteu-se na cama inquieto. Antes tivesse nascido pobre. Teria se acostumado ao trabalho duro e sem escolha.
Quando finalmente conseguiu dormir, teve pesadelos. Acordou cedo e lembrando-se do pedido de Dora, levantou-se imediatamente. Norma, vendo-o à mesa para o café, comentou:
- Que aconteceu, está doente?
- Tenho que irado para a faculdade - mentiu ele.
Dagoberto, perdido em suas preocupações, tomava seu café em silêncio. Clóvis precisava ir ao hospital ver o Dr.Morelli, sem que seu pai o visse. Se ele soubesse, ficaria muito nervoso.Tomou o café e subiu para o quarto apanhar alguns livros para disfarçar. Quando desceu, ouviu a voz do pai, dizendo na copa:
- Deixei O eletro de Juliana com o Bueno. Ele vai me dar uma resposta hoje. Quero iniciar logo o tratamento. Nesses casos, quarto antes melhor.
- Sinto o coração apertando. Juliana pode ser tratada em cara mesmo. Não gosto da idéia de internação. Ela pode piorar.
- Não confiram mim? Acha que faria alguma coisa que pudesse prejudicar Juliana?
- Claro que não. Mas interná-la...
- Ela sai sem que possamos vê-la. Precisamos impedi-la de fazer isso.
- Eu poderia tomar conta dela todo o tempo.
- Eu sei. Mas o melhor é cortar o mal pela raiz. Curá-la de uma vez. Ela ficará lá por algum tempo e quando sair, estará curada. Você vai ver.
Clóvis não quis ouvir mais nada. Dora tinha razão. Era verdade mesmo que Dagoberto queria internar Juliana. Que horror! Ele precisava impedir isso. Procurou o Cláudio e contar-lhe o que se passava. Juntos foram ao hospital procurar o Dr.Morelli. Fechados em seu consultório, Clóvis deu-lhe o recado de Dora.
- Não pode ser verdade! - comentou Morelli. - Dagoberto não chegaria a isso! Juliana não é caso de internação. Deve haver um engano.
- Não há engano algum. Agora há pouco quando eu estava no hall para sair, ouvi ele dizendo à mamãe que ela ia ficar curada se ele a internasse.
Morelli indgnou-se:
- Ele não pode fazer isso. Eu o impediei.
- Quando ele decide alguma coisa... não sei, não. Meu pai é muito teimoso.
- Mas o Bueno não fará isso. Vou procurá-lo. Pode deixar comigo.
- Estou com muito medo, doutor Morelli. Dora disse que Juliana não pode ser internada.
- E não será. Ele vai me ouvir.
- Não lhe diga que eu estive aqui. Ele vai ficar muito zangado se souber quee fui eu que lhe contou.
- Fique tranqüilo. Se estiver com Dora, diga-lhe que vou fazer o que puder. Obrigado por ela haver se lembrado de mim.
Clóvis saiu com o amigo, olhando cuidadosamente por todos os lados com medo que Dagoberto os encontrasse. Uma vez no carro, suspirou fundo:
- O que foi? - indagou Cláudio. - Está com medo que ela seja internada?
- Estou. Mas não é só. Estou cansado desta situação. Me sinto inútil. Não sei fazer nada.
- Você é um estudante. Terá uma profissão.
- Da qual eu não gosto nada. Sou um incapaz. Se ao menos eu conseguisse estudar... mas eu pego aqueles livros e sinto sono, não consigo entender porque tenho que aprender todas aquelas coisas.
- Faça um esforço, seu pai que vê-lo formado.
- Ele quer. Mas não sei se chegarei lá. Depois, mesmo que me formei o que farei? Não gosto daquele tipo de vida.
- Você foi quem escolheu essa faculdade.
- É, eu escolhi.Foi a que me pareceu menos enfadonha.
Cláudio meneou a cabeça, dizendo:
- Você não tem feito mesmo. Eu gosto e pretendo acabar com os estudos. Trabalhar na área de publicidade. O Nicolau está trabalhando e adora. Você não gostaria?
- Não sei. Pode ser que fazendo alguma coisa mais interessante eu acabe por gostar. Estudar, eu não gosto. É teoria e mais teoria. Uma loucura. Eu sou da ação, quero mais é fazer coisas não ficar toda veda enchendo a cabeça com idéias.
- Se não fizer isso, não terá experiência para o trabalho.
- O que eu queria mesmo era trabalhar, ganhar meu dinheiro, ser indenpendente, comandar minha vida.
- Isso leva tempo.
Os dois foram para a faculdade. O dia transcorreu calmo. Juliana foi à escola como sempre, é a noite Clóvis sair com Cláudio para dar uma volta. Estela não podia sair, e os dois foram a uma sorveteria. A noite estava quente e a casa estava lotada, mas Cláudio avistou Paulo, sentado em uma mesa com um amigo. Aproximaram-se, foram convidadosamentar.
A conversa alegre generalizou-se. A certa altura, Paulo perguntou:
- Você não falou mais naquele assunto. Resolveu?
Clóvis suspirou resignado:
- Tive que resolver. Não havia outro jeito.
- Jeito havia, mas vocês preferiram não enfrentar.
- Até parece. Nós nos amamos e vamos nos casar. Se eu já fosse independente, não teria feito isso. Esse é meu maior desejo.
- Casar? - brincou Paulo.
- Ser independente. Casar também. Fazer o que me desse na telha sem ter que prestar contas a ninguém. Estou farto de fazer só o que meus pais querem.
- Você fala, mas sabe que não tem coragem para isso - disse Cláudio em tom de desafio. - O melhor é estudar mais, acabara faculdade é pronto. Assim, arranja um emprego e sai de casa.
- Esse é meu problema. Detestosterolar aqueles livros. Acho que não vou conseguir me formar nunca.
- Se não gosta, por que continua na faculdade? - disse Paulo.
- Por que o pai dele e se ele recusar, vai para a rua - esclareceu Cláudio.
- O que tem isso? Aí você se tornaria independente. Não é o que mais deseja? Não há nada pior do que ser obrigado a fazer uma coisa que se detesta - prosseguiu Paulo com voz calma.
- É que eu precisaria trabalhar. Meu pai não me daria mais nenhum níquel. Não tenho uma profissão. O que eu poderia fazer? Não arranjaria nenhum emprego.
Paulo olhou-o sério por alguns instantes, depois respondeu:
- No Brasil, a maioria das pessoas que trabalham e se sustentam, não conversaram uma universidade. Nunca pensou nisso?
- Em minha casa - tornou Clóvis - nunca se cogitou sequer da possibilidade de viver sem fazer uma faculdade. Meu pai diz que quem não tem profissão, morre de fome.
Paulo sorriu levemente:
- Conheço alguns bacharéis que não ganham nem para comer. Se quer saber, não é o diploma que faz um bom profissional. É preciso muito mais. Há quer haver qualidade, especiais. Primeir, a pessoa precisa fazer o que gosta. Segundo, ser caprichoso no que faz, terceiro, aprender cada vez mais para ser cada dia melhor.
Clóvis abanou a cabeça desanimado:
- Então, meu caro, estou perdido! Nunca vou conseguir o que pretendo.
- Por que se desvaloriza dessa forma? Você é jovem e cheio de entusiasmo pela vida. Tem saúde, disposição. Porque não desiste logo de cursar essa faculdade? Está anulado sua força, perdendo tempo. Você é homem de ação. Por que não tenta descobrir alguma coisa que você goste de fazer e começar por aí? - enfatizou Paulo.
Os olhos de Clóvis brilharam.
- Ah! Se eu pudesse! Iria trabalhar com carros. É o quer mais gosto na vida. Mas isso não é profissão.
Paulo deu de ombros:
- Como não? Há muita gente trabalhando com eles. Desde a montagem até as agências de vantagem. Sem falar dos pilotos de corridas, ou dos táxistas.
Eles riram gostosamente.
- Gostaria de ver Clóvis dirigindo um táxi! - brincou Cláudio. - Mataria os passageiros de sustos!
- Pense. Não se torture inutilmente para satisfazer os outros ainda que eles sejam as pessoas que mais ama. Nunca vale a pena.
Clóvis saiu dali pensativo. Se ele ousasse! Deixar aquela obrigação tão enfadonha e fazer o que realmente lhe desse prazer! Pelo seu pensamento passaram com detalhes todos os modelos famosos de carros que conheça. Tinha em casa muitas revistas especializadas com as quais se distraía sempre que podia, inteirando-se das novidades do mercado.
Quando chegou em casa, passava da meia-noite. Procurou abrir o portão sem fazer ruído como de costume para que o pai não o visse. Dagoberto sempre criticava seus horários noturnos. A casa estava às escuras e todos certamente dormiam. Quando se preparava para guardar o carro, a porta abriu-se e Juliana, vestida, apareceu na soleira.
Assustado, Clóvis aproximou-se indagando:
- Aconteceu alguma coisa?
- Sim. Precisamos de sua ajuda. Não guarde o carro, vamos precisar dele.
- Alguém precisando de ajuda?
- Sim. Juliana. O doutor Morelli não conseguiu nada. Pretendem interná-la amanhã cedo.
Clóvis sentiu um aperto no coração.
- E agora, o que vamos fazer?
- Vamos embora daqui. Juliana já fez a mala. Eu a avisei e ela concordou. Vá ao quarto dela e a apanhe.
Trêmulo, Clóvis não pensou em nada. Ele sabia que Dora sempre estava com a razão. Subiu sem fazer ruído, apanhou a mala de Juliana e levou para o carro. Juliana o esperou fechar tudo e entraram no carro. Então Clóvis foi acometido de medo.
- Nós não podemos fazer isso - disso assustado. - Para onde iremos? Se meu pai descobre, me mata! Acho melhor voltar. Falaremos com ele, Juliana se recusará a ser internada, enfim, enfrentaremos a situaçao. Afinal, papai vai entender. Ele não pode fazer isso.
- Ele pode e fará! Vocês não terão condições de impledir. Por isso vim. A hora da mudança chegou. Você não deve temer. Não queria ser independente? Chegou a hora de realizar o sonho.
- Você sabia! - respondeu ele com o coração batendo forte.
- Sim. Acalme-se. Tudo vai sair bem.
- Para onde vamos? Não temos muito dinheiro, e papai com certeza vai nos procurar por toda parte. Juliana é menor de idade!
- Faz dezoito anos semana que vem.
- É verdade. Não seria bom procurar o Dr. Morelli?
- Não agora. Juliana precisa ficar em lugar onde ninguém suspeite. A casa do Dr. Morelli será um dos lugares em que seu pai irá primeiro. Ele soube que o Morelli tentou evitar a internação de Juliana e até se indispôs com ele.
- Então, aonde iremos?
- Vá a casa de Paulo. Sabe onde é?
- Sei. Mas o que lhe direi?
- Vamos até lá.
Clóvis obedeceu. Quando chegaram ao local, Dora tornou:
- Agora preciso ir.
- Não vai falar com ele?
- Não. Você diz que foi Dora quem o mandou pedir-lhe ajuda. Ele saberá o que fazer. Pode deixar Juliana com ele. Depois, volte para sua casa e faça de conta que não viu nada. Não diga a ninguém o que se passou. Aconteça o que acontecer.
- Não será melhor ficar com Juliana? Deixá-la aí com Paulo, ele mora sozinho no apartamento. Não posso fazer isso. E se ele se aproveitar de Juliana?
- Conheço Paulo e garanto que ela não corre perigo algum a seu lado. Preciso de você em casa para acompanhar tudo que vai acontecer. Quando for a hora, você terá sua independência, como deseja. Nós o ajudaremos. Somos muito reconhecidos pela sua cooperação.
- Me ajudará na faculdade?
- É isso que você quer?
- Na verdade, eu não gosto de estudar.
- Encontraremos coisa melhor. Agora eu vou embora. Juliana está a par de tudo.
Juliana bocejou e espreguiçou-se um pouco. Depois, segurou o braço de Clóvis, dizendo:
- Obrigado por estar me ajudando.
- Nunca falamos sobre Dora. Você sabia de tudo?
- Eu conhecia Dora. Ela é uma grande amiga minha de outras vidas. Às vezes quando deixo meu corpo, vou ao encontro dela em outra dimensão, onde ela vive, e conversamos muito. Eu a adoro!
- Juliana! Você diz isso com tanta calma! É verdade mesmo? Você conversa com essas... com esses... com eles? Quem são? Onde vivem?
- São pessoas que já viveram neste mundo e seus corpos de carne morreram, voltaram ao seu mundo de origem. Não sabia que todos viemos de um lugar em outro plano de vida e que, ao morrermos, a ele voltaremos?
Clóvis estava arrepiado e sem saber o que dizer. Juliana continuou:
- Isso é natural. É a grande verdade da vida que alguns já sabem, mais a grande maioria pretende ignorar
- Por que nunca me disse nada?
- Até ontem a noite, eu sabia muitas coisas vagamente. Eu ia ao encontro de Dora e conversávamos muito. Mas quando eu voltava ao corpo, acordava , esquecia quase tudo. Hoje à noite, quando me deitei, saí do meu corpo e viajei para o astral, sem perder a consciência. Encontrei-me com Dora em um lugar maravilhoso, cheio de flores luz. Conversamos e ela me explicou tudo. Pediu-me para sair de casa. Era chegada a hora de começar minha missão, para qual eu me preparei antes de nascer.
- Ela quer que eu procure o Paulo, um amigo meu, e lhe peça para ficar com você, apesar do que ela disse, estou relutante.
Juliana sorriu tranqüila.
- Não se preocupe. Ela me disse que Paulo é um dos nossos. Ela me disse que Paulo é um dos nossos. Ele também costuma ir ao encontro de Dora e trabalha sob a orientação dela. Vai dar tudo certo.
- Estou arrepiado. Não sei o que fazer. Quando papai descobrir, vai querer me matar.
- Não tema. Quem trabalha a favor da luz, sempre estará protegido. Confie. Papai pensa que está fazendo o melhor. Ignora muitas coisas, ainda não consegue entender. Precisa de tempo. Um dia compreenderá. Agora vamos. Você precisa voltar para casa. Foi o que Dora pediu.
Um pouco relutante, Clóvis desceu do carro e tocou a companhia. A luz acendeu e logo Paulo apareceu na soleira:
- Clóvis! Como vai?
- Desculpe acordá-lo. Preciso muito falar-lhe. Vim a pedido de Dora.
- Dora? - admirou-se ele. - Você a conhece?
- Sim. Ela me pediu que viesse procurá-lo. Precisamos da sua ajuda. Minha irmã veio comigo.
- Claro. Vamos entrar.
Clóvis chamou Juliana, apresentando ao amigo. Convidados a entrar, sentaram-se na sala.
- Acordei você? - indagou Clóvis ainda um pouco constrangido.
- Não. Eu estava lendo ainda. Nem sempre vou dormir cedo. Mas Conte-me, como conhece Dora?
- Através de Juliana. Elas são amigas. Vou contar tudo.
Clóvis contou tudo quanto sabia, como fora envolvido com Dora é todas as curasse que presenciara, a intransigência do pai e a necessidade de evitar a internação de Juliana.
- Certamente, uma internação dessas no caso dela, não só seria inútil, como a faria sofrer sem necessidade. Eles costumam aplicar sedativos e medicamentos fortes que podem até ajudar aos que estão realmente doentes, mas não é o caso de Juliana.
- Eu não queria vir. Estou constrangido. Afinal, você não tem nada com isso. Não sei se vai querer envolver-se em um caso desses. Juliana fará dezoito anos na semana que vem. Ainda é menor de idade. Seja franco. Se acha que isso pode complicar sua vida, procuraremos outro lugar.
Paulo meneou a cabeça negativamente.
- Vieram ao lugar certo. Confio em Dora. Quando ela pede uma coisa, eu faço porque sei que ela só que o melhor.
- Ela pediu para Juliana ficar sob sua proteção e para eu voltar para casa. Quer que eu fique lá para controlar o que acontece.
- Está certo. Ficaremos aqui esta noite e amanhã iremos embora. Tenho uma casa em um lugar especial que será um excelente esconderijo para ela até que as coisas se esclareçam. Fique tranqüilo. Eu o colocarei a par de tudo. Lá tenho excelente caseiros, gente boa, dedicada e de confiança que a tratará muito bem. Depois veremos com Dora o que será preciso fazer.
- Sinto o coração apertado. Juliana e tão criança! Estaremos agindo certo? - tornou Clóvis preocupado.
- Não tema, Clóvis. Tenho a certeza de que é para o nosso bem. Anseio por iniciar meu trabalho. Sinto-me feliz e agradeço a vocês pela ajuda que estão me dando. Não vão se arrepender - tornou Juliana.
Clóvis aproximou-se dela, beijando-a nas faces com lágrimas nos olhos.
- Você é minha irmãzinha muito querida - disse.
- Embora você nunca me tenha dito isso, eu sempre soube. Obrigada. Eu também gosto muito de você!
Paulo abraçou Clóvis, dizendo sério:
- Pode ir tranqüilo. Cuidarei de Juliana melhor do que você. Quando a bomba estourar, será bom você não aparecer por aqui. Podem desconfiar. Se der, telefone, se não puder, eu entrarei em contacto com você. Precisamos ser muito discretos. Não o deixarei em contacto com você. Precisamos ser muito discretos. Não o deixarei sem noticias. Vá com Deus.
- Está bem. Tomara que estejamos fazendo o bem.
- Estamos. Tudo vai dar certo - disse Paulo.
Acompanhou o amigo até o carro, dizendo-lhe palavras de ânimo. Apanhou a mala de Juliana e voltou para sala.
- Vou colocar sua mala no quarto de hóspedes.
- Eu o acompanho.
- Deve estar cansada. Precisa descansar, porque amanhã sairemos logo cedo. É melhor viajar antes que o sol esquente.
- E antes que descubram minha fuga.
Depois de deixar a mala no quarto, cuidando que ela ficasse confortavelmente instalada, Paulo perguntou:
- Vamos tomar um chá, comer alguma coisa?
- Aceitarei um chá. Acho que preciso de um.
- Venha comigo. Tenho algumas ervas especiais, de sabor muito agradável. Gosta de chá?
- Gosto.
Foram à cozinha, conversando animadamente. Juliana sentia-se muito à vontade ao lado de Paulo. Parecia-lhe conhecê-lo de longa data. Depois de tomar o chá, Juliana quis se recolher e Paulo acompanhou-a até a porta do quarto.
- Durma bem e não se preocupe. Amanhã será outro dia.
- Sim. Amanhã começarei um vida nova. Ficarei tudo quanto sempre sonhei realizar. Viverei livre, sendo o que eu sou, vivendo como sei viver. - Apanhou a mão de Paulo, beijando-a levemente e continuou: - obrigada. Ser-lhe-ei eternamente grata por tudo quanto está fazendo por mim.
- Não precisa me agradecer. Conhecê-la foi um privilégio. Farei tudo que puder para ajudá-la em suas tarefas. Pode contar comigo, para o que der e vier.
Havia um bilho de alegria nos olhos de Juliana e tanta luz em seu rosto que Paulo, mesmo depois de haver se recolhido e deitado para dormir, não conseguia esquecer. Comovido e feliz, pensou em Dora com alegria e gratidão. Satisfeito e sereno, não tardou a adormecer.NÃO SE ESQUEÇAM DE VOTAR...
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Pelas Portas do Coração - COMPLETO - ZIBIA GASPARETTO
SpiritualA maioria de nós está repleto de modelos sociais de felicidade. Todos queremos ser certos e adequados. E, assim, nos obrigamos a agir contra os impulsos de nossa verdadeira natureza. Pensando fazer o melhor, acabamos por nos conduzir ao vale do de...