CAPÍTULO 9

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Morelli entrou em casa e foi direto ao quarto de Armando. Este, vendo- entrar apressado, admirou:
- Já em casa? Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu. Diga-me, você tem visto Juliana?
- Algumas vezes. Por quê?
- Essa menina é especial! Precisamos estudá-la, conhecê-la melhor.
- O que foi?
- Lembra-se do caso de D. Rosa?
- A que estava em coma?
- Essa mesmo.
- O que aconteceu, ela baixou no hospital novamente?
- Não. Nada disso. Ao contrário. Ela se transformou radicalmente, graças a Juliana.
Armando deixou a escrivaninha onde examinava um compêndio e levantou-se.
- Não exagere, pai. Juliana é uma menina inteligente, mas inexperiente.
- Não estou exagerando nem um pouco nem um pouco. Eu e o Oswaldo passamos em casa de D. Rosa na semana passada, e as coisas iam de mal a pior.
- Como assim?
- Ela estava deprimida, queixosa, acamada, passando mal. A família infeliz, sem saber mais o que fazer. Um quadro dos piores. Aí, o Oswaldo, que entende de espiritismo, fez uma oração e pedimos a ajuda de Dora.
- Dora?
- Não se lembra? Foi esse o nome que Juliana deu. Ele concluiu que ela estava interessada no caso já que havia tirado Rosa do coma e que por certo nos ajudaria.
Armando riu francamente:
- Pai! Não acha que estão deixando levar por uma fantasia?
- Não hora, eu não acreditei muito, mas o Oswaldo estava tão convicto, e ele é uma pessoa muito séria, que não recusei. Acontece que rezamos no quarto de D. Rosa, pedimos a Dora e fomos embora. Hoje, resolvemos passar por lá. Estou boquiaberto.
- É?
- Juliana apareceu lá. Conversou com a família, quis falar a sós com D. Rosa, e como por encanto tudo mudou. Nossa paciente está ótima, recuperou a cor saudável. Parece até que rejuvenesceu. Nunca vi como igual. Nem parece a mesma pessoa.
- Ela estava bem fisicamente. Claro que o problema era sentimental. Ela pode ter decidido mudar. Pode haver cansado de ser infeliz. Juliana não teria nada com isso.
- Engana-se. Foi Dora que conversou com eles, e a mudança ocorreu a partir daí.
- Acredita mesmo nisso? E uma história muito fantástica.
- Mas aconteceu. Juliana não se lembra de nada.
- Isso é o que me intriga. Como pode não se lembrar? Não estará fingindo?
- Com que finalidade?
- Não sei. Como pode agir e depois esquecer? Terá ausências?
- O processo não é esse. Ela ganha lucidez e maturidade quando nesse estado. Sabe até o que pensamos.
- Não vai me dizer que acredita em espíritos! Não se deixe dominar pela superstição! Há de haver uma explicação científica o fato, se é que ele ocorreu.
- Quanto a isso, não posso negar. D. Rosa recuperou-se totalmente. Você precisava ver! Nem parece a mesma pessoa. Espirituosa, alegre, carinhosa e bem-humorada! Não me contive. Quando ela me serviu um pedaço delicioso de bolo de coco que fizera, disse admurado:
- D. Rosa! Como está bem-disposta! Remoçou!
- Sinto-me bem. Sou uma pessoa muito feliz. É a felicidade que me faz bem.
- Ela está mais linda do que nunca! - interveio Amaury com satisfação. - Se eu não é cuidar, ficarei para trás.
- Então, reparei que ele de fato estava mais arrumado e desconfio até que andou pintando os cabelos. Até a casa estava mais bonita. Cheia de flores. Olha, só vendo para crer.
- Como sabe que foi Juliana?
- Eles me falaram. Ela conversou com todos, repreendeu-os, mostrou-lhes coisas que não estavam percebendo. Enfim. Foi ela. E eu gostaria de saber como isso acontece. O que há por trás dessa menina. Ela é diferente, pode crer.
- Isso eu sei. Ela não é como as outras de sua idade. Não fala futilidades. É equilibrada, segura. Eu diria até meio ingênua. Não posso imaginá-la aconselhando problemas familiares. Como poderia? Que experiência teria para isso?
- É por isso que desejo saber o que há. Você mesmo percebe algo de especial.
- Essa coisa da intervenção de espíritos e que me parece fantasiosa. Como eu disse, ela é segura, equilibrada demais para manter essas excentricidades.
- E se for verdade? E se existirem mesmo esses espíritos, não poderiam envolvê-la?
- Pai! Estamos falando sério! Somos médicos. Não podemos nos iludir.
Morelli abanou a cabeça pensativo.
- Não sei, não. Ultimamente tenho estudado, percebido e sentido coisas tão diferentes que não ouso negar mais nada. O fato de não podermos explicar como certos fatos ocorrem, não quer dizer que devamos negá-los ou ignorá-los, fingindo não vê-los. Ao contrário. Estudando-os. Falando neles, admitindo a possibilidade de todas as hipóteses é que chegaremos à  verdade.
- Mas... espíritos, pai!!!
- E aí? Será mesmo que a vida acaba com a morte do corpo? Eles podem continuar a existir em outro lugar, em outras condições. Neste mundo, nada se perde, tudo se transforma. Por que só o homem não faria parte desse processo?
- Vejo que está convencido.
- Não ainda. Mais investigo e estou muito inclinado a aceitar essa hipótese.
- Cuidado. Esse assunto é fascinante e pode iludir com facilidade.
- Não, eu. Sabe como sou questionador. Não aceito as coisas sem provas. O que me impede é a teimosia de Dagoberto. Não posso falar-lhe francamente. É materialista. Jamais aceitaria.
- Nesse caso, por que não apela para Dora? Já que acredita nessa hipótese, por que não a evoca e pede ajuda?
- Como assim?
- Peça-lhe para facilitar as coisas com relação ao Dr. Dagoberto ou com Juliana.
- De que forma?
- Não sei. Não acha que ela deu jeito na D. Rosa? Então. Ela poderá ajudar o Dr. Dagoberto a mudar.
- Não sei se vai funcionar.
- Sempre poderá tentar.
- Talvez eu faça isso. Falarei com o Oswaldo. Agora, penso que você poderia ajudar-me. Ela simpatiza com você. Procure-a. Observe-a.
- O que me pede não é decente. Gosto de Juliana. É uma moça boa. Não gostaria de envolvê-la de nenhuma forma.
- Têm medo de que ela se apaixone por você?
Armando sorriu:
- Tenho medo de me apaixonar por ela. Tão cedo não desejo envolver-me.
- Então é isso! Faça isso por mim.
- Veremos. Essa história e muito estranha.
- Encontrou o meu motivo. Faça o que eu não posso fazer.
- Tentarei. Mas desde já afianço que usarei de cautela.
- Certamente. Agora vou procurar o Oswaldo. Trocar algumas impressões.
Depois que o pai saiu, Armando deixou de lado o livro e estendeu-se no leito pensativo. Seu pai não era ingênuo bem crente. Contudo, o tema era discutível. Havia muita superstição em torno dele e não faltavam pessoas fantasiosas e crentes. Quanto a isso, no hospital apareciam casos lamentáveis de curandeirismo. Ele compreendia que a medicina convencional não conseguia resolver todos os casos, curar todos os males e, por razão, os pacientes procuravam agarrar-se as novas esperanças. Como dizer a uma pessoa que a medicina não vai conseguir curá-la e exigir que ela aceite esse limite?
Havia entre colegas até certa tolerância quanto às práticas religiosas. Elas davam conforto e acalmavam o doente. Mas, no fundo, tratava-se apenas de efeito psicológico, sem eficácia. Auto-sugestão. Só isso. Assim, ele admirava-se quando alguns diziam-se atendidos em suas preces.
Alguns, na hora da morte, chegavam a ver vultos e luzes. Mas isso não passava de sugestão, claro.
Como acreditar em pessoas doentes, algumas em estado alterado de consciência? Por outro lado, as pessoas confortavam-se, e esse era um benefício real. Contudo, não era o bastante para aceitar essas presenças como verdadeiras.
Os homens desejam tanto que isso seja verdade que criam essas fantasias - pensou ele. - Era preciso manter o equilíbrio e não se deixar enganar.
Conversaria com Juliana francamente. Resolveria essa questão de uma vez por todas. Não seria bom para ela envolver-se com essas coisas. Se ninguém falara, ele falaria. Por que não?
No dia seguinte, foi à sua procura na saída do colégio. Juliana apareceu no portão, vendo-o, sorriu levemente. Armando aproximou-se:
- Saí há pouco do hospital e como era seu horário, esperei para cumprimentá-la. Como vai?
- Bem. E você?
- Também. Gostaria de conversar um pouco, tem tempo?
- Tenho.
- Vamos indo até a praça. A tarde está bonita.
- É verdade.
Lado a lado foram caminhando devagar. Apesar do outono, havia flores no jardins.  Sentaram-se em um banco, e Juliana esperou que ele falasse.
Armando, após algumas frases banais, abordou o assunto que o preocupava.
- Juliana, você às vezes muda o comportamento, fala diferente, como se fosse outra pessoa. Já percebeu isso?
Ela franziu o cenho admirada:
- Por que diz isso?
- Por que há momentos em que você muda. Fica diferente. Por que faz isso?
- Não sei o que você está dizendo. Ao contrário, minha mãe zanga-se, porque eu não sou como minha irmã. Sou quieta, gosto de observar, de pensar.
- Comigo você pode ser sincera. Pense bem. Talvez esteja infeliz com alguma situação e por isso assuma outra personalidade. Sabe, isso é natural na adolescência.
- Engana-se. Sinto-me perfeitamente bem. Sou muito feliz. Amo a vida! Agradeço todos os dias poder enxergar as belezas do mundo, sentir o perfume das flores, a alegria de viver! Meu silêncio não é de tristeza, mas de amor e de paz. De harmonia e de aceitação.
- Quer dizer que não percebe quando muda de atitude? Comigo mesmo já aconteceu. Você fala coisas diferentes do seu habitual. Depois, de repente, volta ao normal como se não houvesse nada.
- Só se você se refere à minha distração.  Não é falta de interesse, mas as vezes parece-me desligar a cabeça e passear por outros lugares, como em um sonho.
- É não percebe o que fala nesses momentos?
- Eu falo? Como poderia? Sinto-me em outro lugar.
- Onde?
- É difícil explicar. É como em sonho, mais muito real, ando por lugares, campos, vejo flores diferentes das que há por aqui. Aspiro deliciada seus perfumes e, nesses instantes, desfruto completa felicidade. É como se estivesse no paraíso.
Os olhos de Juliana brilhavam como que fixando paisagens maravilhosas, e seu rosto refletia singular beleza.
Armando sentiu a sua sinceridade e pensou: - o que estaria acontecendo realmente? Como ela entraria nesse processo?
- O que significa Dora para você?
Juliana fixou- o admirada.
- Você a conhece?
- Quem é ela?
- É uma amiga querida que me visita em sonhos.
- Você sonha com ela?
- Sim. Nós encontramos durante a noite e conversamos. Ela me orienta e ensina muito.
Armando fixou Juliana nos olhos ao dizer:
- Juliana. Isso é uma ilusão. Na verdade, Dora é uma criação da sua mente. E é preciso esquecê-la para que você possa sair desse problema.
- Problema? Você não entendeu nada. Eu não tenho nenhum problema. Goze de boa saúde e sou feliz. Quem lhe disse que tenho problemas?
- Sabe, Juliana, as pessoas fantasiam muito. Isso que acontece com você, está sendo mal interpretado. Alguns acham que você tem curado pessoas.
Juliana sorriu:
- Estão enganados. Eu nunca fiz nada disso.
- Você foi ao hospital ver D. Rosa, e eles acham que ela saiu do coma por sua causa.
- Não me lembro de nada disso.
- É dizem mais. Até meu pai anda intrigado. Acha que você foi à casa de D. Rosa, e ela mudou, recuperou-se. Ficou boa. É verdade?
- Eu fui lá? Bem... a Glace falou comigo na escola, minha mãe disse que eu saí com ela. Mas eu não me lembro.
- Viu?
- O quê?
- Precisa se cuidar. Como saiu e não se lembra? Ainda acha que está bem? Precisa ir à um médico especializado.
- Fala como meu pai, - tornou Juliana, levantando-se. - A ele, eu tenho que obedecer. Não posso escapar. Porém, a você, não.
- Espere aí. Sou seu amigo. Há de convir que o que lhe aconteceu não é normal.
- Sou assim desde que nasci. Sempre vivi muito bem. Por que quer me colocar numa fôrma? Eu sou como sou e não como se convencionou na sociedade. "Normal", para mim, é ser robô, viver escravo das conveniências, é copiar o "modelo", é viver desempenhando um papel. Pensei que você já soubesse disso. Estava enganada.
- Não pensei ofendê-la.
- Não ofendeu. Mostrou apenas o quanto estamos distanciados.
- Gostaria de continuar seu amigo. Pensei que pudesse sugerir alguma coisa. Desejo o seu bem.
- Como sabe o que é o meu bem? Até agora, você só falou como médico, como pessoa convencional. Seu coração permaneceu mudo, sufocado pelas regras que colocou em sua cabeça. Saiba que elas são frágeis demais para tocar meus sentimentos. Sua boca fala dos preconceitos que povoam seus pensamentos, do seu materialismo que os compêndios justificaram, do padrão cultural de uma sociedade infeliz e atormentada. Muitas vezes me apiedou, sinto-me impressionada com o volume de inteligência e de energia distendidos com banalidades, com ilusões que nunca trarão felicidade. Você cultura idéias destrutivas de uma sociedade que se distancia a cada dia do bem-estar, da felicidade, da saúde e da alegria. E você nem a mim, que encontrei tudo isso, que cultivo o prazer de viver, para querer que eu entre nessa loucura coletiva da qual você ainda não conseguiu sair?
Armando abriu a boca e fechou de novo sem encontrar palavras para responder. Não esperava que ela se colocasse nesse tom onde não havia arrogância nem raiva, mas firmeza e convicção.
Sentiu-se envergonhado. A dignidade dela o fizera perceber o quanto fora indelicado.
- Juliana, - disse por fim - desculpe. Eu realmente não tenho condições de sugerir nada. Só gostaria de ajudá-la. Gosto de você. Aprecio sua maneira de ser. Não gostaria de vê-la envolvida com coisas duvidosas.
- Não fale do que não entende. Pode se arrepender.  Agora, preciso ir.
- Espere. Não gostaria que saísse aborrecida comigo. Não quero perder sua amizade.
- Nesse caso, aprenda a ser você mesmo quando estivermos juntos. Aprecio sua companhia quando deixa o coração fala. E quanto a mim, se puder gostar de mim do jeito que eu sou, poderemos ser amigos.
- Amigos, então. Vamos andando, eu a acompanho até em casa.
Durante o trajeto, Armando procurou conversar sobre assuntos amenos. De regresso a casa, ele, imprecionado, não conseguia esquecer as palavras dela.
Juliana revelara-se madura e objetiva, longe da ingenuidade que ele lhe atribuíra. Suas palavras, firmes e seguras, intrigavam-no. Ela não fora visitada pela dor. Era uma menina cercada de cuidados, de conforto, saudável. Se houvesse passado pelas experiências que ele tivera, visto o que ele vira no hospital, por certo perderia muito da sua certeza sobre a felicidade.
Apesar disso, sua atitude, não se deixando influenciar pelo que lhe dissera, revelava vontade e personalidade.
Envergonhado, lembrou-se de que se colocara na posição de orientador. Juliana rebelara-se com com dignidade. Armando sorriu ao recordar-se:
- Como sabe o que é o meu bem? Até agora você falou como médico, como pessoa convencional.
Era verdade. Ele até usará o mesmo tom do consultório. "Convencional". Sim. Ele não só se colocara na postura do que sabe mais, como daquele que tudo pode.
Quantas vezes, ao assumir esse papel diante de um paciente, se sentira apenas convencional? Haviam lhe ensinado que nesse papel o médico não pode emocionar-se lá.  Deve mostrar-se seguro, ainda mesmo quando não fez o diagnóstico.  Sim. Compreendia o quanto fora inadequado. O caso de Juliana era-lhe desconhecido.
Com que lucidez ela o fizera perceber o quanto estava sendo preconceituoso.
- Meio pai está certo - pensou. - Ele pelo menos não foi radical.
Por outro lado, ela mesma dizia não se recordar de nada. Seria verdade? Teria dupla personalidade?
Armando não conseguia pensar em outra coisa. Quando o pai chegou, tarde da noite, foi encontrá-lo ainda acordado.
Vendo luz em seu quarto, Morelli entrou, e Armando relatou-lhe o que acontecera. Ele ouviu em silêncio e ao final considerou:
- Teria sido Dora? Juliana não gostava muito de falar.
- Não. Foi ela mesma. Perdi até o jeito.
- Pudera! Intrometeu-se na vida dela.
- Têm razão. Para mim, ela era uma menina ingênua e fácil de conduzir. Pensei que poderia ser iludida com facilidade por essas fantasias.
- Já descobriu que não é assim.
- Ela está muito segura. Em todo caso, isso não torna verdade o que ela diz.
- O que torna verdade é o que ela faz. Para mim, o que me intriga, são os fatos. Eu os presenciei. Como esquecer  esse detalhe?
- Pai, cuidado. Temos que ser realistas.
- Nada mais real do que os fatos.
- Podem ter sido apenas coincidências.
- Vejo que Juliana disse bem. Seu materialismo é avassalador. Você nem consegue enxergar os acontecimentos. Tem preconceitos demais.
- Você também!
Morelli desatou a rir!
- Salve Juliana. Enxergou em alguns segundos mais do que nós dois juntos a vida inteira.
- Desse jeito não dá para falar com você!
- Não se irrite. Afinal, conseguiu acalmá-la?
- O pior é que ela estava calma. Disse tudo com maturidade. Sem raiva. E eu senti que, ao contrário do que pensava, minha amizade para ela não vale muito.
- Isso o aborreceu?
- Um pouco.
- Nunca aconteceu antes.
- Não é isso. É que eu percebi como Juliana pensa. Se eu tentar conduzi-la ou impor minhas idéias, me afastará com facilidade.
- Ela não me parece tão inteligente.
- Para relacionar-se socialmente, não. Mas, para amizade mesmo, ela é. Reparou como ela anda sempre só?
- É verdade. Dagoberto queixa-se muito dessa atitude dela.
- Comigo ela mostrou-se diferente desde o princípio. Pensei que me apreciasse. Cheguei a supor que estivesse interessada em mim. Temi envolver-me, já que ela é tremendamente atraente. Mas hoje descobri que estava enganado. Ela me empurrou para fora de sua vida com facilidade. Se gostasse de mim, não faria isso. As mulheres não agem dessa forma nunca.
- Juliana é especial.
- É diferente.
- E agora? O que vai fazer? Ela cortou relações?
- Não. Isso, não. Desculpei-me, é claro! Acompanhei-a até em casa. Despedimos-nos cordialmente.
- Nesse  caso, não há problema. Poderá voltar a vê-lá.
- Mas, não tocarei nesse malfadado assunto. Se quer investigar, não conte comigo. Por que não fala com ela?
- Eu? Quem sabe. De uma forma mais discreta. Veremos. O que eu não vou é  desistir. A cada dia sinto mais interesse. Hoje pedimos ao espírito de Dora que nos ajude e esclareça.
- Fizeram isso mesmo?
- Não foi o que nos sugeriu?
- Não pensei que levasse a sério.
- Por que não? Afinal ela parece bem interessada. Não se encontra com Juliana em sonhos?
- Pai! Acredita nisso?
- Nessa altura não creio nem descrevo.  Eu quero é saber. Seja o que for, eu desejo descobrir. E para chegar a isso, entro no jogo deles.
Armando sacudiu a cabeça negativamente.
Apesar da sua incredulidade e das tentativas para esquecer Juliana, só de madrugada foi que ele conseguiu finalmente adormecer.

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Pelas Portas do Coração - COMPLETO - ZIBIA GASPARETTOOnde histórias criam vida. Descubra agora