Capítulo 6: Supremacia do Fraco

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Por: John Kviatkoski

Hector fuma seu Gauloises, enquanto dirige sem vontade pela rua praticamente vazia, há apenas algumas pessoas abrindo suas lojas. Eu consigo encontrar preguiça em cada ação do fotógrafo.

Se passaram quatro dias desde que entrei no Le sang et l'âme. Eu consegui a vaga no jornal sem problema nenhum. Fico me perguntando quem compra essa merda. Eu nunca ouvi falar desse jornal. Não é muito popular, apenas algumas pessoas da região o lê. Não costuma acontecer coisas muito emocionantes por aqui, até a chegada de Sangsue.

Hoje, Hector e eu vamos buscar informações sobre um lamentável ocorrido no Rio Saona, que está intrigando os policiais e a população do local. Algo pouco comum na região, onde há apenas notícias de festivais e coisas do gênero. Apenas pessoas velhas e tediosas se interessam, legal da minha parte mudar um pouco esse cenário.

Hector é um humano, porém, conhece a existência de criaturas como eu. Ele sabe que está levando um demônio em seu carro e isso não lhe preocupa nenhum pouco. É um cara esquisito. Trabalha no jornal há quinze anos. Descobriu que a maioria dos seus colegas de trabalho são vampiros e demônios naquele mesmo ano, mas ele não se surpreendeu. Trabalha até hoje como se nada tivesse acontecido. Não entendi exatamente, mas foi o que me disseram.

Sempre desanimado com tudo, ignorando tudo a sua volta e simplesmente tirando fotografias do que lhe mandam. Sua câmera balança pateticamente onde está pendurada no espelho retrovisor interno. O chão é formado por uma camada de cinzas, restos de cigarro, tampas de garrafas de cerveja e embalagens de coisas diversas. O lugar fede muito, mas não tanto quanto Hector. A rua onde está o Le sang et l'âme parece muito cheirosa em comparação a este homem, mas é boa gente, pois sempre fica calado independente da situação.

Tem uma barba escura com alguns fios brancos. Não é possível ver seus olhos, pois está usando um óculos escuro. Seu cabelo é desgrenhado, longo e sujo, coberto por um boné vermelho rasgado em várias partes.

Eu posso definir Hector como uma mistura de viking e caminhoneiro.

– Vamos parar aqui... – disse Hector, enquanto dirige até algo, que imagino ser uma padaria. Joga o cigarro pela janela e desliga o carro. – Estou com fome.

– Ah, sim...

– Vai querer comer algo? Tô brincando.

As piadas de Hector perdem 99% da graça, pois continua com o rosto inexpressivo. Nós demônios apenas se alimentos porque utilizamos de um corpo humano que necessita de alimentação. Com o descanso é o mesmo, também repousamos. Não sentimos o gosto de bebidas e comidas. Porém, alguns de nós bebe. O álcool nos faz efeito, mas apenas em quantidades um pouco maiores, o mesmo vale para algumas drogas.

– Vai logo.

Espero dez minutos Hector tomar seu café da manhã. Ontem também foi assim. Terei que me acostumar e pensar em algo para fazer em dez minutos a partir de hoje. Ele volta para o carro, acende outro cigarro e dá a partida, como se minha existência ali fosse algo insignificante. Gosto disso.

– Falta muito? – Pergunto enquanto olho o cenário pela janela mudando rapidamente enquanto Hector acelera seu velho Ford Escort.

– Não.

E realmente estamos perto, praticamente chegamos. Vejo um número maior de pessoas e algumas viaturas da polícia e outros órgãos. Hector diminui a velocidade e estaciona.

– Vamos, Michael. – Retira a câmera pendurada no espelho retrovisor e coloca no pescoço. Estico a mão para pegar um caderno de anotações que está no banco de trás e saímos do carro.

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