Capítulo 8: Me diga com quem tu andas e te direis quem és

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    Por: Sandy Azevedo 


    Um vampiro ou um louco? Não sabia ao certo, mas sabia que não estava gostando disso. Ele ainda estava sentado em minha mesa. Olhava para os lados enquanto eu ia andando calmamente para a janela. Não havia muito o que olhar em minha humilde residência. Havia a mesa no centro, um velho sofá a esquerda. Abaixo da janela uma pequena mesa com meu rádio a pilha, um relógio de cuco na outra parede... Nada muito deslumbrante, mas a simplicidade pareceu aguçar sua mente.

– Não sei quem é você e pouco me importa. Percebo que é um vampiro astuto, pois me encontrou e conseguiu adentrar minha casa, mas do mesmo jeito que entrou, estou mandando você sair. – disse apontando a arma para a porta.

– Não posso. Se eu ir embora sem você, não estarei fazendo o certo. E mesmo que não queira vir comigo, a justiça humana virá atrás de você, pois é o único parente vivo de Theodor Wendlinger.

– Eu já disse que não tenho pai. Aliás, como sabe o nome dele? – perguntei intrigado. Agora estava diante da janela. Minha mãe me ensinou que o sol queima os vampiros, mas eu sei que isso não se aplicará a ele, pois é madrugada, infelizmente.

– Sei disso porque seu pai e eu somos ou éramos amigos. E ele me disse que se algum dia acontecesse algo com ele, para procurar você.

– Mas ele morreu. – disse em estado de choque.

– Sua tribo achou que ele havia morrido, mas na verdade ele tinha sido capturado. Por mim. – respondeu com a cara mais lavada do mundo. Eu não sei se quero matar ou gritar. Por fim urrei. Fiquei feliz por saber que meu pai podia estar vivo, mas também com ódio por ele nunca ter se preocupado comigo. Os sentimentos, pensamentos e lembranças duelam em minha mente e uma dor de cabeça já está se formando.

Não pode ser verdade. Ele é um vampiro esperto. Todos sabem que vampiro é inimigo de lobisomem. Alguma coisa não se encaixa. Lembro-me como se fosse ontem...

***

– Não aguento mais isso! – entrei chutando a porta da sala. Minha mãe e meu avô estavam reunidos com os líderes discutindo mais algum assunto importante, porém nesse momento, todos levantaram sobressaltados. Ao me avistarem olharam compreensivamente. Era época de lua cheia e adolescentes, como eu, ficávamos raivosos e descontrolados. Mas eu era de linhagem pura e isso atrapalhava ainda mais. Fui furioso para meu quarto e bati a porta. Escutei alguns passos e minha mãe chegou.

– O que foi dessa vez, meu filho? – perguntou sentando-se na minha cama, enquanto eu abraçava minhas pernas, sentado próximo a cabeceira da mesma.

– Eles não param de ironizar sobre meu pai. – bufei em ódio.

– Você já deveria ter se acostumado a isso. – disse passando, carinhosamente, a mão sobre minha canela. Encolhi no mesmo instante, afastando-me dela.

– Ninguém se acostuma com o que é ruim. Todos tem liberdade de serem o que quiserem. Nós estudamos o reino vegetal, animal, humanos e criaturas. Cada um tem sua liberdade, menos eu. Já nasci com o destino traçado e vivo às escuras, sem saber sobre meu passado. Isso não é justo. – virei meu rosto em aborrecimento. Segurava as lágrimas, pois minha posição na tribo não me permitia fraquejar.

– Ai meu filho... – suspirou Mayla, minha mãe. – Você sabe que em anos de lobisomem, vocês atingem a maturidade por volta dos 30, dependendo da linhagem. Você só tem 15, mas vou ser obrigada a adiantar isso. Não é o correto, pois você só tem metade da idade necessária, mas vou te contar tudo, ou pelo menos, o suficiente.

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