Wolfgang
Por: Sandy Azevedo
— Eu parei de correr e vou lutar até o fim, mas preciso do apoio de ambos ao meu lado. Estão comigo? – perguntou a ruiva sussurrando e com os olhos brilhando.
— Eu estou, oh querida rainha do clã russo – bajulou Ignestans ganhando um bufar de minha parte e um sorriso sarcástico de Kira.
Seguimos correndo as escadas fétidas, grudentas e com alguns ratos, da masmorra em direção ao barulho incessante de guerra no piso superior.
Em relação a pergunta de Kira, eu não respondi. Antes de toda essa confusão de atentado revirar minha vida mais do que eu reviro o esterco para curtir em minha floresta, era tudo calmaria. Quando me jogaram em plena Triberg, na Alemanha ainda adolescente para salvar e perpetuar a prole dos lobisomens líderes eu não tinha ideia do quão importante isso era. Hoje sendo um homem feito, percebo o quanto isso significa.
Ainda jovem, conheci Edelina. Meu amor por ela era acanhado, até porque ela era humana e eu um mostro visto pela humanidade. Mas ela era insistente e mesmo eu me afastando, ela ia atrás de mim buscando afeto. Eu tinha meus hormônios, afinal. Ainda assim, sempre a respeitei. Primeiro porque fui criado assim, segundo porque ela também havia sido criada assim, terceiro porque sempre fui tímido e não tive nenhuma instrução de pai ou mãe sobre conquistas, flertes e mulheres.
Kira é tão fogo quanto seu cabelo. Em uma única jogada já estávamos compartilhando os corpos. De forma meio bruta de dizer, é como se Edelina fosse a pureza e Kira a perdição. Todo esse atentado, a descoberta do meu pai estando vivo, que boa parte da minha vida era uma mentira controlada por Dmitri, tendo a companhia de um demônio e uma vampira a qual me deitei... Tudo isso estava sendo demais para mim. O único consolo, por mais irônico que seja, era a presença quase imperceptível do tal anjo sempre por perto.
Eu não queria manchar aquilo que Edelina foi para mim por uma mulher que jurava ser contra o pai, mas estava agindo semelhante a ele liderando e ditando ordens. Eu sempre soube que seria líder da minha tribo. Tribo essa, que o desgraçado do pai de Kira destruiu. Mas olha que curioso, eu estava ajudando seu império se reerguer em nome de sua filha, enquanto ele fazia meu pai de refém. Estava sendo difícil separar as coisas.
Uma flecha raspando a minha orelha me fez acordar para a realidade da guerra dentro da Fortaleza Vermelha. Mais um fato irônico, pois além de arrancar um pouco de sangue, como sugere parte do nome do lugar, eu que nunca fui líder estava aqui, pronto para guerrear em nome de um clã que destruiu o meu. Sinceramente, minha luta interna não estava mais comigo e sim, em busca do paradeiro do meu pai, se isso significa me aliar aos inimigos, infelizmente eu teria que ceder.
Coloquei Kira atrás das minhas costas e Ignestans veio ao meu lado. Sabemos que o objetivo central de qualquer guerra é atingir o rei, nesse caso, Kira. Apesar de ela estar com uma espada nas mãos, cabelos desgrenhados, uma calça apertada preta e uma blusa branca tingida com respingos de sangue, não podia negar a beleza em toda essa confusão. Ela assumiu bem o papel de rainha, pena que eu não sabia se era aliado ou servo. De todo modo, o momento era de luta por sobrevivência.
Olhei de um lado a outro e o salão estava coberto por barulho de espadas, socos e fumaça. Transformei, a princípio, apenas a visão para a de lobo e tentei enxergar em meio ao caos. Pelo parâmetro geral, haviam mais aliados do que inimigos. Isso seria ótimo. Informei a Kira enquanto tentava localizar o desgraçado do Nikolai e sua flecha maldita. Sabia que estávamos em sua mira.
Quando o encontrei, percebi que estava com o arco e flecha apontados para mim. Dei um sinal a Ignestans e senti o cheiro do medo. Nikolai sabia que estava perdendo e só matando Kira poderia vencer, mas isso não aconteceria. Eu não deixaria!
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A Fortaleza Vermelha
VampireTrês criaturas distintas habitando a Europa e agindo discretamente entre os humanos. Tudo estava em equilíbrio, até que um atentado terrorista faz com que as histórias estejam conectadas tão intimamente que, demônio, vampira e lobisomem terão que lu...