Capítulo 12: Reencontro com o Mistério

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Por: John Kviatkoski

Ignestans

 E então os fios rubros fogem do meu campo de visão. Estou muito frustrado, mas o trabalho tem de continuar.

O gás que meu corpo mortal e limitado respira, está me destruindo. A exaustão me domina, mas sigo caminhando. Eu ouço toda dor, gemido, grito, choro ao meu redor. Assim como também sinto vidas se desvanecendo embaixo de toneladas de escombros. A foice negra não move-se tanto assim há algum tempo.

Como previsto, não é complicado obter almas em uma situação como essa. As pessoas não se importam com o perigo do contrato, apenas querem que tudo fique bem. O único cuidado que estou tendo, é com os outros demônios. Há muitos. Sinto a presença e a fome de todos.

Ainda continuo com o pensamento de subir de cargo, para de fato, ficar acima dos demais de uma forma oficial. Pois superior, eu já sou. Mostrando aos meus "superiores" o belo do trabalho que faço, posso subir na maldita gigantesca hierarquia.

Aproximo-me de um homem agachado no chão, encostado em um monte de concreto prestes a cair a qualquer momento. Suas mãos velhas e esqueléticas pressionam sua cabeça em desespero. Perdeu alguém. Mais um para fechar o acordo infernal.

Com dificuldade, caminho pela destruição, esbarrando em bombeiros e policiais. O que move meu corpo agora é o ódio, desejo por poder, sangue e os pequenos pães que comi hoje.

O homem está em frangalhos. Há cortes em toda pele exposta, como o rosto, braços e pescoço. Treme violentamente enquanto seus olhos miram com terror um ponto inexistente.

Quando já estou com o discurso totalmente pronto na mente, uma mão pálida surge acima das do homem. De forma bastante afetuosa, o aparentemente​ jovem se ajoelha ao lado do homem em terror e então diz:

— Vamos, meu senhor. Temos que sair daqui. Vou ajudá-lo.

E então lança-me um olhar malévolo, que interpreto como: suma daqui.

Me afasto, não há para quê brigar por apenas uma alma, ainda mais neste estado. Exceto esse problema com o outro demônio, a obtenção de almas segue fluida.

A trajetória pelas almas mortas não está sendo solitária como eu estou habituado. Além da imagem de minha futura grandiosidade — fonte de minha energia há anos —, agora igualmente encontro os traços da vampira de pouco tempo atrás. Aqueles olhos, aquela expressão de controle e poder me causa certa irritação, mas também, o fascínio. Derrubar mulheres com esse olhar é uma das coisas que mais me agrada. Mulher difícil. Apesar de faltar muito para o fim da noite, estou um tanto ansioso pelo seu chamado. Seria uma pena tal carne abaixo do sol do amanhecer.

E então, sinto algo que me faz recordar de um encontro que ocorreu há mais de trinta anos. Paro de andar. Ao invés de procurar almas ao meu redor, me concentro nesta criatura, um demônio. O que ele está fazendo aqui? Ou, o que eles estão fazendo aqui? Dois deles são vampiros e conheço-os.

Dos dois vampiros não me foi dito nomes, mas de Endrom, o demônio, ainda está claro em minha mente. Os vampiros foram os que me seguraram, e Endrom, o que iria acabar com minha existência, a pedido de Sangsue. Aquilo me intriga até hoje.

Movo a cabeça em direção à presença das tais criaturas. E ali vejo, três sombras entre o caos. Olham para o horizonte enquanto conversam animadamente sobre algo que consigo captar só poucas palavras. Coisas como: "... floresta de...", "... resultando nessa perfeição que ele...", "... o levante de outra base sobre a qual..." e muitas outras coisas das quais eu tão pouco encontro sentido. Vendo o trio ao longe, parecem amigos conversando sobre a festa do final de semana.

A Fortaleza VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora