Capítulo 14: Não é Ela

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Por Sandy Azevedo

Wolfgang

Eu estava invocado. Óbvio que eu sabia o quanto era arriscado confiar em um vampiro, inimigo direto da minha raça, ainda mais esse desgraçado que não teve pudor algum em dizer que capturou meu pai. Mas essa era a parte que me ligava a ele: meu pai. Eu nem sabia que ele poderia estar vivo, e esse idiota é o único capaz de me dizer onde ele está.

Vivo sozinho por décadas desde que minha tribo foi dizimada. Nem passou pela minha cabeça que meu pai, que havia morrido antes do massacre, pudesse estar vivo. Isso só prova o quanto continuo imaturo para minha raça. Odeio essas coisas mundanas e modernas, pois sempre temi esquecer minhas origens e me tornar escravo daquilo que era para ser apenas um auxílio. No entanto, começo a questionar-me se a Mãe Terra não me permitiu continuar recluso, pois sabia que eu era incapaz de enfrentar o mundo. Se de fato for isso, parece que ela mudou de ideia agora.

Fui jogado na fortaleza inimiga com a premissa que era para meu bem. Quando vi que Dmitri me aprisionou no carro, eu iria quebrar tudo, mas aí uma doce voz me envolveu quase suplicando para que não a matasse. Ela é filha daquele fodido. Eu poderia chantagear Dmitri, bem como imagino que ele fará com meu pai, caso esteja vivo. Mas há algo nela que me impede de agir assim. Eu não queria olhar para ela. Sua pele alva lembra-me muito o último dia em que estive com Edelina. Sacudi a cabeça tentando me livrar dos pensamentos. Em um certo momento perdi-me em seus seios fartos e tive que me recompor. Ela estava dialogando. Sempre quis saber por que mulheres falam tanto. Será que já fizeram essa pesquisa? Hoje, tudo se prova com pesquisa. Vai saber?!

Chegamos na fortaleza do maldito e meu instinto protetor fez com que colocasse todo meu corpo imponente para tentar bloquear o sol. No fundo preciso reconhecer sua beleza e simpatia. Em nada tem a ver com Dmitri. Pelo que entendi, ela odeia tanto ele quanto eu. Isso é excelente, pois quero estrangulá-lo assim que pôr os olhos nele.

O dia já estava clareando e o sol mostrava sua majestade. Eu não tenho problema nenhum com dia ou noite. Isso me dá uma certa vantagem. A fortaleza de Dmitri estava cheia de capangas. Não era para menos. Além do seu alto cargo no governo russo, ele é líder desse clã e das máfias russas pelo que soube. Ele consegue estar em quase todas as instâncias e com altos cargos. O que me impressiona é como ele é capaz de ter em sua equipe: vampiros, lobisomens e demônios...

Fomos encaminhados para a ala dos quartos. Ficamos em quartos 'lado a lado'. A fortaleza tinha tons brancos e vermelhos em sua maioria. O chão era de um piso parecido com espelho. Nas laterais, janelas altas com proteção solar mostravam o mundo lá fora. É como ser um lobisomem prisioneiro, olhando um atirador com munição de prata do outro lado de um vidro à prova de balas.

Tentaram pegar meu embornal. Tive que rosnar a ponto de soltar saliva em um dos guardas. Kira o pediu que nos deixassem em paz. Não gostei nada de saber que ela estaria no poder. E se ela e o pai estavam em conluio? E se tudo isso fizesse parte de um plano maior? Eu mesmo não acredito nessas hipóteses, mas estou falando de inimigos declarados. Se ela estiver no poder, de certo seremos inimigos.

Não sei o que pensar ou fazer. A fortaleza mostrava-se silenciosa. Provavelmente a maioria dos capangas, por serem vampiros, estavam dormindo, agora. Eu poderia aproveitar isso e fugir, mas além de uma briga enorme, o problema de saber informações sobre meu pai continuaria.

– Pensa Wolfgang! Pensa! – dizia para mim mesmo em um murmúrio baixo, enquanto batia minha cabeça em uma das grandiosas janelas.

– É mais fácil achar as respostas aqui dentro, e não lá fora. – Virei-me de supetão, esperando esmurrar alguém com o susto que levei.

A Fortaleza VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora