Capítulo 29 - Uma Ponte para o Anjo

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Por: Tatiana Castro

"Às vezes eu sinto que não tenho um companheiro

Às vezes eu sinto como se fosse meu único amigo

É a cidade em que vivo, a cidade dos anjos[...]

Eu dirijo em suas ruas,

pois ela é minha companhia

Eu ando pelas suas colinas

pois ela sabe quem eu sou

Ela vê minhas boas ações e ela me beija com o vento

Eu nunca me preocupo, isso é uma mentira

Eu não quero mais me sentir como me senti naquele dia

Me leve ao lugar que amo, me leve até o fim [...]

É difícil de acreditar

Que não há ninguém lá fora

É difícil acreditar que eu estou sozinho

Pelo menos eu tenho o seu amor,

a cidade que me ama

Sozinho como eu estou,

juntos nós choramos

Eu não quero mais me sentir como me senti naquele dia

Me leve ao lugar que amo, me leve até o fim [...]

(Debaixo da ponte do centro da cidade)

É onde eu derramei um pouco de sangue [...]

Eu não me cansava [...]

Esqueci do meu amor [...]

Eu entreguei minha vida, sim, sim, sim".

(Red Hot Chili Peppers, 1991. in: Under The Bridge - álbum Blood Sugar Sex Magik)

Kira Krovopuskov

As devidas providências são preparadas para recepcionar-me no departamento de investigações de Moscou. Já com a lua firme no céu estrelado adentro em um edifício sóbrio sem identificação na fachada, em cumprimento ao acordo costurado por Nikolai com o chefe interino da instituição governamental.

Assim como o esperado, minha aparição, cercada por guarda-costas da Fortaleza chama atenção. Uma dúzia do que poderiam ser clones de Irina e Vladmir estão atarefados em suas baias de trabalho em um grande pavilhão. Os mesmos uniformes e cortes de cabelo que os dois possuíam um pouco antes de explodirem-se em um prédio similar são replicados a exaustão nos burocratas do governo russo. Contudo, apenas identifico poucos seres noturnos e alguns lobos entre eles. Seriam súditos de meu pai, como o casal que me confiou a caderneta com os segredos do poder acumulado pelo líder do clã?

— Obrigada por comparecer prontamente ao nosso chamado – sou saldada por um distinto senhor, com seus cabelos loiros mesclados com os brancos da idade ou adquiridos pelo peso do dever vindo com a alta patente. — Estamos em alerta e o chefe interino não pode ausentar-se da sede.

— É meu prazer ser útil ao meu país – minto descaradamente, enquanto sou levada a uma ampla sala reservada.

Oriento os meus seguranças particulares a ficarem a postos no corredor do lado de fora do escritório, enquanto aguardo sozinha que o chefe interino dê as caras. Ainda não sei em quem posso confiar na Fortaleza depois de encontrar aquele covil hostil. Será que meus seguranças são leais a mim ou ao tal Ed? Nessa altura tudo é possível.

O escritório é tão estéril quanto o grande salão. Na parede oposta à porta há algumas prateleiras de madeira com linhas retas atrás de uma escrivaninha igualmente tediosas, mas perfeitas para ocultar câmeras e microfones. Tenho que ficar alerta e não comprometer-me ou a ninguém. Evito essa parte da sala e acomodo-me na grande mesa de reuniões próxima a porta.

A Fortaleza VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora