Capítulo 23 - O Inferno são os Outros

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Por: Tatiana Castro

"Você dá um pouco de amor

Nós poderíamos ter sido qualquer coisa

Que nós quiséssemos ser

E não é tarde demais pra mudar

Eu deleitar-me-ia em pensar sobre isso

Talvez você concorde que nós realmente devemos [...]

Sim, essa decisão era nossa.

Ficou decidido que nós somos mais fracos separados,

Deixe a amizade duplicar nossos poderes [...]

Mas se nós tentássemos, nós aprenderíamos a suportar [...]

Flores da terra

Quem pode mesmo supor quanto

Um amigo de verdade vale a pena? [...]

Talvez confiando

Se nós tentarmos compreender

Não tenho dúvida

Isso deve valer a pena

Os bons amigos tendem a te fazer sorrir [...]

Deixe a amizade duplicar nossos poderes [...]

Você dá um pouco de amor

E tudo volta para você

Você sabe que será lembrado

Pelas coisas que você diz e faz [...]".

(Paul Williams, 1976. in: You give a little love)

Kira Krovopuskov  


— Qual é o problema com Ignestans? – desabafo, abandonada com Wolf no deque de madeira nos fundos da casa que, supostamente, abrigou Sangsue – Eu não alertei para permanecermos unidos?

— Esse demônio que se dane! – O lobo grunhe as palavras entre os dentes serrados e apoia-se na balaustrada simples que circunda o pequeno terraço.

A construção carece de manutenção e range sob o peso do grandalhão. A propriedade inteira aparenta abandono, a não ser pelos indícios de uma recente contenda na sala de estar. O que um alto capanga de Dmitri fazia aqui? Atualmente, essa casa não passa de um esconderijo?

— Precisamos do Ig, por mais que você odeie esse fato – exaspero-me com a falta de cooperação daqueles que deveriam ser meus comparsas, mas não passam de dois teimosos incontroláveis. – Se não fosse por ele, nem saberíamos do envolvimento de Sangsue e Ray "não sei do que".

— Ainda não confirmamos nada – Wolf discorda, sem se dignar a encarar-me. Apenas perscruta o gramado seco do quintal árido a luz da lua. – Só temos a palavra de Ignestans sobre a importância desses caras e sei muito bem que a palavra de um demônio não vale nada.

Não me dou ao trabalho de replicar, pois a esperança em conseguir informações sobre Dmitri e o atentado esvai-se com a partida de Ig e o desdém de Wolf. Volto para a sala revirada e passo direto para a cozinha adjacente. Esse é único cômodo intocado em nossa busca por pistas. Uma grande mesa retangular de quartzo branco serve de ilha central. Eletrodomésticos e utensílios modernos destoam do mobiliário antigo e rústico. A despensa está abastecida, assim como a geladeira está abarrotada com frutas frescas e sangue engarrafado. É obvio que a casa não serve somente de abrigo para vampiros. Que raios acontece aqui?

A Fortaleza VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora