Você nunca vai esquecer!

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BETHANY CALLAHAN

8:30 PM

Santa Monica, CA. Quinta-feira.

24 de Dezembro, 2015.

Mesmo sem muita vontade, e parando durante minutos, para brincar com o garfo em meu prato, eu terminei de comer o piru, que acompanhava a salada e o arroz com uvas passas, que estava no prato a minha frente, a alguns minutos. Era triste, nosso ceia de natal era triste, pelo menos para mim. Em nosso oitavo ano de natais e ceias tristes, aquela era a pior para mim.

"No seu aniversario de dezesseis anos, eu vou te mostrar o real significado de prazer"

Meu aniversario de dezesseis anos é amanhã, e essa frase rondava meus pensamentos, desde que eu abri os olhos pela manhã. Não que eu tenha dormido, na verdade fazem anos que eu não sei o que é uma boa e tranquila noite de sono.

Respirei devagar e engoli o que mastigava. Vi que os pratos do casal apaixonado em minha frente, estavam também vazios, então levantei, empilhei os pratos um em cima do outro e me dirigi até a cozinha, enfiando dentro da pia, entre as panelas sujas. Senti a presença de seu corpo atrás de mim, e seu perfume nojento denunciava que realmente ele estava, bem atrás de mim.

— Querida, lave os pratos, por favor. — Daniel pediu, com sua boca perto da minha orelha, prensando meu corpo contra  a pia, e colocou a travessa que antes tinha a salada, ali dentro também. Ele moveu o quadril ao encontro do meu, e pegou a bucha colocando em minhas mãos. Eu estava estática, com aquele nojo presente em mim.

Apenas consegui respirar quando ele se afastou, voltando para a cozinha, para provavelmente se despedir de sua amada mulher. Ceiamos mais cedo, por conta da viajem de Alicia, ela é comissária de bordo, e por culpa de sua profissão, não poderá passar o natal em família, na verdade, nossas refeições — quando ela está em casa — são sempre fora de horário.

Terminei de lavar a louça e sequei minhas mãos, andei em passos propositalmente lentos para a sala de jantar, me deparando com aquela cena que me enojou, meus — infelizmente — pais, se despediam aos beijos, enquanto ele segurava firme em sua cintura, as mesmas mãos firmes que pressionavam o travesseiro contra o meu rosto, para que meus gritos não fossem escutados.

Enfim o beijo acabou, e a mulher se virou para mim, então eu me ajeitei no batente da abertura que ligava a cozinha e a sala de jantar, me preparando para escutar seu discursinho podre de como ela me ama.

— Filha...

— Alicia.— respondi, da forma mais fria que consegui, tentando não demonstrar sentimento algum.

— Você não pode nem se esforçar um pouco para me chamar de mãe? Hum? Seu ódio não tem justificativa, filha, nós, eu e seu pai, sempre lutamos para o seu bem! Sempre foi tudo para o seu bem, Thany...

— Você tem que trabalhar, não tem? — mordi a parte interna de minha bochecha e virei o rosto, cruzando meus braços.

Se ela soubesse como me faz odia-la ainda mais, quando começa a falar essas merdas, pararia.

Pais, ao meu ver, protegem seus filhos dos monstros, sejam eles os que estão em baixo da nossa cama, ou monstros mascarados de pessoas, pessoas completamente ruins. E os meus pais não me protegeram, inclusive, eles me fizeram mal. Não faz sentido algum eu chama-los de outra coisa que não os seus nomes, Alicia e Daniel.

— Tudo bem. Eu não vou poder ligar a meia noite para desejar feliz natal e feliz aniversário, mas amanhã, eu ligo. — ela me abraçou e beijou minha testa, então me soltou e andou até seu marido, os segui até a sala e fiquei olhando minha mãe andar até o táxi, Daniel guardou as malas no porta-malas do carro e acenou para a mulher.

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