BETHANY CALLAHAN
10:03 PM.
Casa dos Bieber, Santa Mônica.Qui, 18 de agosto, 2016.
Duas semanas desde todo aquele pesadelo, o estupro no hospital, Daniel falsificado a droga do exame. Desde então, Alicia passou a me tratar como uma pessoa sem sentimentos, sem vontade própria, como um robô, robô qual ela somente alimentava e medicava, não perguntava como eu estava, ou coisas assim. Eles entraram em acordo de não me internar outra vez, mas voltaram a me medicar, os tais remédios que me apagavam por horas, e faziam com que eu me sentisse extremamente mal, fisicamente — mas não adiantava, já que eu cuspia os comprimidos, assim que me deixavam sozinha—.
Daniel foi demitido do hospital, alegaram que houve uma grande repercussão pela minha acusação e o pedido da minha mãe, exigindo o exame, então preferiram afastar ele do cargo, porque segundo Stephen, o diretor do Hospital, haviam pessoas que acreditavam em mim, e exigiram a demissão dele.
Eu só queria encontra-las!
Balancei a cabeça, afastando tais pensamentos e terminei de arrumar os livros e cadernos, então sai do quarto, jogando a mochila nas minhas costas. Desci as escadas, encontrando o casal na sala de jantar, conversando sobre algo que não me importava.
— Estou indo pra casa do Justin. — avisei, já que um dia desses, os idiotas fizeram um escandalo, por chegarem em casa e eu simplesmente ter "sumido", nem se ligaram em procurar na casa ao lado, onde eu estava sem avisar.
— Não volte tarde, filha. — Daniel me dirigiu a palavra, depois de duas semanas me ignorando e eu não sei porque, mas ainda me impressiona o quão bem ele atua.
— Sim, antes de ontem você voltou onze horas passadas! — Alicia disse, levantando com suas mãos ocupadas pelos pratos e se retirou indo até a cozinha.
Daniel levantou vindo até mim e me abraçou, eu achei que suas mãos iriam para minha bunda, ou ele simplesmente roçaria nossas partes intimas mas não, ele só me abraçou, uma abraço apertado e confortável, um abraço de um pai de verdade, e aquilo me desestabilizou de tal forma, eu só quis abraça-lo de volta e implorar para que ele me protegesse, me protegesse dele mesmo, mas eu nem me movi.
Aquela sensação era dolorosa emocionalmente, eu chorava calada, com seu abraço protetor, e por um segundo senti que ele nunca mais me faria mal.
Depois de um beijo na testa, ele beijou meus lábios e aquele balde de água fria foi despejado em minha cabeça, me fazendo gelar. Como ele pode me abraçar como um pai, e me beijar como um namorado, ou melhor, como um maldito abusador? Como ele consegue ser tão nojento?
Encarei seus olhos, limpando minha boca e sai de perto dele, indo até a porta de saída. Será que ele pararia, se tivesse noção de como deixa minha saúde mental fodida? Tem vezes que eu passo a noite em claro, chorando e me batendo. Eu não consigo mais me manter firme, antes eu tinha mais controle sobre mim mesma, agora eu não sei mais, eu imploro a Deus para que eu não acorde, quando consigo dormir. É, eu definitivamente desisti de mim mesma.
A única vitória dessas duas semanas, é que nesses quatorze dias, Daniel não me tocou, ele nem sequer havia me olhado antes de minutos atrás. Era um alívio, mas eu ainda não me sentia livre ou descansada, ainda não consigo dormir tranquilamente, com o medo de acordar com ele em cima de mim. Talvez o teste tenha o assustado de alguma forma e ele tenha desistido de me fazer sua boneca de carne, ou talvez ele esteja apenas esperando a poeira baixar, para tudo começar. Droga! Não quero pensar sobre isso, não agora.
— Oi Bethany.— Jazzy abriu a porta, e eu entrei, vendo a família reunida na mesa de jantar.
— Oi jazzy. Desculpa, eu não queria incomodar, é que na minha casa os horários são um pouco confusos.— falei, um pouco constrangida por ter chego naquele momento.
— Tudo bem, querida. Está servida?
— Não, obrigada.— sorri fraco.
— Vem Bethany.— Justin levantou vindo até mim, ele pegou minha mochila, a jogando no sofá e me puxou para a sala de jantar.— Você tem que experimentar a lasanha da minha mãe, sério.
Sentei ao lado dele, e Pattie me serviu. Justin colocou um pouco de salada para mim, e eu sorri ainda mais envergonhada com aquilo. Dei a primeira garfada, e de fato era deliciosa, eu observei rapidamente a família, e nossa, eles tinham tanta sorte de ter um ao outro. Jazmyn, a única menina, era protegida por todos eles, jamais fariam ou deixariam que fizessem mal a ela.
Eu engoli de forma dolorosa, pensando, será que se eu tivesse um irmão mais velho, ele me protegeria do Daniel? Ou ele seria mais uma vítima daquele nojento?
Resolvi parar de pensar naquilo, e logo terminamos de comer. Pattie recolheu as louças e eu levantei.
— Você quer ajuda para lavar, ou algo assim? — perguntei e ela sorriu, acariciando meu rosto.
— Não precisa querida, vão estudar, eu levo a sobremesa lá em cima.
— Obrigada, estava delicioso.
Agradeci e Justin puxou minha mão, saindo da sala de jantar, ele pegou a minha mochila e nós subimos as escadas para o seu quarto. Assim que entramos, ele abriu as janelas, pegou a mochila e sentou em sua cama, puxei o puff azul para perto e sentei em frente a ele.
— Você copiou todo o exercício de matemática? — perguntei, abrindo meu caderno da matéria que havia dito.
— Copiei sim, você já fez tudo?
— Eu nem copiei na verdade. Estava pensando em muitas coisas ao mesmo tempo.— sorri fraco.
— Oh meu Deus! Que tipo de exemplo estudantil você é?
— Cala a boca.— gargalhei empurrando sua perna e puxei o caderno dele, copiando os exercícios.
Eu estava me esforçando para entender o que Bieber escrevia, mas era difícil. Talvez a letra em uma receita de remédios fosse melhor que a dele.
— Puxa, eu acho que se ficar vesga, consigo entender sua letra.— comentei e cruzei meus olhos, o encarando vesga.
Ele começou a rir muito, e eu acabei rindo também, enquanto negava com a cabeça. Escrevi mais algumas linhas e olhei para ele, que ainda ria.
— Ok, eu sou um ícone da comédia adolescente.— me gabei.
— Você é muito trouxa, sabia.— ele empurrou minha testa com seu punho. Fiz uma careta, e voltei a copiar. Eu não conseguia me concentrar, olhei para o Justin outra vez, e ele estava distraído mexendo em seu celular.
Eu gosto tanto de como sou com ele, e de como ele é comigo. Quando estamos estudando, e fazendo nossas idiotices, é o único momento em que me sinto bem, normal. Ele me trata como uma garota normal, nós não falamos de problemas ou coisas ruins, apenas fazemos palhaçadas um para o outro e rimos muito juntos, e droga! Eu queria sempre essa sensação, essa sensação de que está tudo bem e minha vida não é um pesadelo. Essa sensação de ser uma garota normal de dezesseis anos.
— Ei.— Justin se inclinou para perto de mim e secou minhas bochechas.— O que houve?
Funguei e passei a língua entre os meus lábios, olhei para baixo. Eu me sentia apegada a ele de certa forma, por ser meu único "amigo", o único a me tratar bem, com respeito, conversar comigo, e isso me incomodava muito, me frustrava na verdade, porque quando tudo isso acabar, as aulas, a escola, Justin e eu não vamos manter essa amizade, e eu vou voltar a viver um inferno sem trégua.
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Hayran KurguMeu pai é um bom homem, ele vai todos os domingos a igreja, e é certo que abre sua carteira para a caixinha de ajuda de custo para os necessitados, gerenciada pelo padre. Meu pai é um bom homem, sempre que algum morador de rua lhe pede uma peque...