Enfim, acabou.

1K 59 13
                                    


BETHANY CALLAHAN

5:18 PM

Residência Callahan

Eu ainda estava em estado de choque, minhas mãos tremiam, enquanto eu chorava soluçando. Aquele desgraçado parecia ter congelado no tempo, encarando Alicia, e ela também, parecia estar processando aquele momento, mas eu queria ajuda! Eu precisava de ajuda.

- Mãe...- repeti, encostando a cabeça no travesseiro, enquanto sentia aquele desconforto horrível.

- Meu Deus! O que aconteceu? O que houve com ela?- perguntou, sentando perto de mim e agarrando meus ombros enquanto me balançava.

- Me ajuda.- pedi, entre os meus soluços desamparados.

- Ela está pálida! Daniel! O que aconteceu? Me fala, Bethany! Fala comigo.

Eu senti um embrulho no meu estômago e virei a tempo de vomitar o chão do quarto. Alicia pegou a lata de lixo, fazendo com que o chão não sujasse tanto.

- Alicia, precisamos conversar, agora! - aquele ser desprezível falou, agarrando o braço dela. Eu cuspi na lata de metal e segurei a mão dela.

- Fica aqui comigo.- eu estava implorando com os meus olhos.

- Alicia, agora! - Daniel foi agressivo, praticamente arrastando ela para fora.- Ela está fora de controle! Ela está totalmente fora de controle! - gritou, e eu sentei na cama, prestando mais atenção no que eles falavam.

- Vai me dizer que ela está naquele estado por que quer? Óbvio que não! Ela precisa de ajuda, ela quer falar comigo, e eu vou lá agora...- vi a maçaneta girar e a porta abriu um pouco, mas logo provavelmente Daniel a bateu. Eu levantei, andando até lá é encostei meu ouvido na madeira.

- Eu estava tomando banho, quando escutei ela gritar desesperadamente. Corri até aqui e ela estava... Ela estava penetrando o cabo da escova de cabelo, enquanto sangrava! Você acha que foi fácil para mim, ve-la daquele jeito?

Meus olhos estavam completamente arregalados, enquanto as lágrimas eram ainda mais frequentes. Abri a porta com força e agarrei minha mãe pelos ombros, negando com a cabeça, várias vezes.

- É mentira.- minha voz mal saia, eu estava ofegante, sufocada.- É mentira dele, você não pode acreditar! Eu juro...

Falei apertando seus braços e sacudindo ela.

- Filha, me solta, calma, tá tudo bem...

- É MENTIRA DELE! ELE ME ESTUPROU, ELE ESTAVA ME ESTUPRANDO, ATÉ VOCÊ CHEGAR.- gritei, em pânico. Aquilo era absurdo demais para ela acreditar.

- BETHANY, SOLTA A SUA MÃE AGORA!

- Nós vamos ajudar você, meu amor. Nós vamos ajudar você, eu prometo. Nós dois estamos aqui por você.- aquela vadia inútil falou, e eu simplesmente a empurrei com força, pouco me importava seu corpo ter caído no chão.

Eu saí correndo, precisava me livrar deles, me livrar de tudo aquilo. Desci as escadas, e escutei gritarem por mim, mas eu não parei, puxei a porta da saída e corri para fora. Eu sentia meu peito esmagado por aquela avalanche de sentimentos ruins, não conseguia respirar, eu estava tentando, mas não conseguia.

Senti braços fortes me seguraram e quando vi a tatuagem de uma cobra na mão direita, eu me debati ainda mais, gritando o quanto odeio aquele homem. A agulha em meu braço demorou pelo menos vinte segundos a fazer efeito, minha audição foi ficando falha, meus olhos quase impossíveis de ficarem abertos, até eu perder todos os meus sentidos de vez.

•••

Meu corpo parecia pesar toneladas, meus olhos, por mais que estivessem fechados, ardiam. Respirei fundo, não querendo olhar em volta e ver que eu estava outra vez trancafiada naquele quarto. Eu vou morrer aqui.

Levantei minhas palpebras, e minha visão estava levemente embaçada. Levei meu olhar a minha direita, e Alicia estava lá, dormindo. Me senti observada e instintivamente olhei para frente, Daniel também estava no mesmo cômodo que nós, sentado em uma poltrona me olhando com um sorriso cínico. Ele levantou, pegando uma bandeja na escrivaninha e trouxe em minha direção.

- Deve estar com fome, querida. Aqui tem um sanduíche...- ele continuou a citar os alimentos na bandeja, até eu chutar ela contra corpo, fazendo com que o suco molhasse toda a camisa.

O metal caindo no chão, fez Alicia, que estava dormindo abraçada em mim, despertar rápido, em alerta.

- O que foi isso?

- Beth esbarrou na bandeja, sem querer. Tudo bem, eu vou limpar. - Se prontificou, enquanto colocava os cacos do vidro do copo quebrado na bandeja.

Aquele homem saiu, e Alicia sentou em minha frente. Ela acariciou meu rosto, e eu suspirei, cobrindo meus ombros. Ninguém entende como eu me sinto em ser obrigada a deitar todos os dias, na cama em que sou violentada desde que me entendo por gente.

- Não vamos internar você de novo, ouviu? Nós amamos você, e vamos te ajudar aqui, na nossa casa.

- Eu odeio esse lugar.- a encarei, secando minhas bochechas.- E odeio vocês dois.

Ela pareceu surpresa com aquilo. Passou sua língua entre os lábios e suspirou, visivelmente frustrada, mas não mais que eu. Alicia levantou, segurando os cabelos pela raiz e me olhou.

- Você acabou de ter um surto! Você teve um surto, Bethany! Você tem que aceitar que precisa de ajuda!- ela estava elevando a voz gradativamente.

Suspirei, cruzando meus braços e me joguei para trás, encostando as costas na cabeceira. Eu estou tão cansada disso tudo.

- Tudo bem, tudo bem.- alicia sentou outra vez, e me olhou, sorrindo, tentando de fato, de convencer de que estava tudo bem.- Você e o filho mais velho dos Bieber são colegas em algumas aulas, não é?

- Sim.- respondi, ainda sem encarar ela.

- Sabe, quando eu estava entrando, Pattie veio falar comigo, ela comentou sobre como Justin anda frustrado, com medo de reprovar outra vez. Ele quer muito sua ajuda, e eu prometi a ela, que ajudaria a convencer você.- a encarei, com minha sobrancelha cruzada.

- Não, isso não vai acontecer.- falei, bem devagar, para ela entender.

- Qual é, filha! Justin é o gatinho da escola, ele é popular, bonito e está solteiro! Vocês eram tão grudados quando criança, sabe...- eu sentia nojo em escutar ela querer me impor uma normalidade que não estava comigo. Infelizmente nunca esteve.

Suspirei, e sequei minha bochecha outra vez.

Alicia dedilhava minha perna, enrolando para falar algo.

- Já pegamos vocês dando selinhos várias vezes. É hora de se ajudar, Thany! Quem sabe você e Justin não possam ser um casal, um lindo casal, eu adoraria.

- Você só pode estar zoando comigo.- dirigi minha atenção a ela.- Justin quer apenas que eu faça seus deveres, provas e lições de casa, para passar de ano, ele não está procurando uma namorada! E mesmo se estivesse, acha que ele sairia comigo? Você acha que ele ficaria comigo?

- E-eu acho...

Levantei, jogando o abajur no chão.

- Deixa de ser estúpida! Nenhum garoto um dia vai querer ficar comigo, em todo os Estados Unidos, depois do que você e aquele desgraçado do seu marido fizeram comigo, nem mesmo os garotos loucos de verdade um dia vão cogitar a possibilidade de sair comigo!

- Você precisa se ajudar, meu amor, você precisa se ajudar...

- VAI SE FODER, PORRA!- gritei chutando o criado mudo ao lado da cama. Sentei na cama em frente a ela e coloquei meus cabelos para trás.- Daniel me estupra! Desde o natal, no meu aniversário de quatorze anos ele prometeu que ia me... Me mostrar o real prazer, no meu aniversário de dezesseis anos, e ele fez! Ele me estuprou e sempre...

Ela cobriu os ouvidos, chorando e negando com a cabeça.

- Para, Bethany! Eu não suporto mais, você precisa parar!

- Ele precisa parar! Ele me estupra, ele come a minha boceta, sempre que você nos deixa sozinhos. Ele fica gemendo no meu ouvido, enquanto come a minha bocetinha.- repeti o mesmo linguajar que aquele nojento usava comigo, e doia muito ver nos olhos dela que ela não acreditava em nada do que eu falava.- E faz questão de repetir o quanto é melhor que a sua!

Assim que terminei de falar, Alicia jogou sua mão no meu rosto, com toda força, deixando minha face dolorida no mesmo instante. Toquei meu rosto, acariciando com a ponta dos meus dedos e sentindo meu sangue ferver de raiva.

- Oh meu Deus, eu não queria, Bethany, eu não queria bater em você.- ela segurou minha mão desesperadamente, e beijou meu rosto, enquanto minhas lágrimas eram insistentes.

Empurrei aquela mulher, não queria ela perto de mim.

- Você nunca cogitou a possibilidade de eu estar falando a verdade? Nunca? Você nunca pensou por um segundo, que eu possa estar falando a verdade?- eu realmente queria saber, mas a forma como ela me encarava, decepcionada, desapontada, sem confiança alguma.- Cada vez que ele me estupra, é como se você estivesse junto. Você é cúmplice dele. Sai daqui! Eu odeio você! Me deixa sozinha.- gritei, jogando o travesseiro nela e virei meu rosto, não querendo mais olhar para ela e sentir toda aquela raiva.

- Eu não queria ter batido em você, me desculpe por isso, mas você tem que parar de mentir, filha, por favor! - Alicia levantou outra vez, e eu abracei minhas pernas, chorando e mais uma vez tentando achar conforto em mim mesma.- Eu sei que a culpa não é sua, que tem algo na sua cabecinha que faz você inventar esse monte de coisas sem cabimento algum, mas por favor, Thany, você tem que parar! - ela veio até mim, agarrando meus braços com força.- Você quer o que de nós? Quer mais atenção? Quer mais atenção de mim? Do seu pai? É isso que quer? Me diga!

- Eu quero ajuda!- berrei, olhando em seus olhos.- Eu quero que aquele doente perca o direito de me penetrar, de gozar em todo meu corpo, meu rosto, de me morder! - apontei para o meu peito, com força.- Eu não vou aguentar mais! Por favor, mãe, por favor! Me ajuda...

Alicia me largou com brutalidade, como se estivesse com raiva de mim. Ela foi até a porta, abrindo-a e me olhou.

- Está impossível! Está impossível ter um diálogo decente com você. Eu desisto.- então saiu, batendo a porta e me deixando sozinha, como sempre, completamente sozinha.

Escondi meu rosto entre os meus braços, enquanto soluçava. Aquilo doía tanto, não era mais a dor física, era a dor aqui dentro, a dor de saber que ninguém acredita em mim, ninguém me protege do maior monstro que mora na minha própria casa! Eu me sinto tão podre, tão suja, nojenta! Ele me usa, ele me segura e me invade sempre que tem oportunidade, e ninguém tenta impedi-lo de me matar dessa forma. Eu não aguento mais isso.

Não aguento mais sentir aquela dor, e querer gritar para o meu pai, mas ele já estar ali, me machucando, me machucando muito! Eu tenho dezesseis anos, quanto tempo mais isso vai durar? Mais oito anos? Eu vou perder mais oito anos da droga da minha vida? Ele nunca vai parar, e ninguém vai parar ele, e eu não vou conseguir sozinha!

- Isso tem que acabar.- repeti para mim mesma, sentindo um certo alivio, quando me convenci daquilo. É minha única saída.

Já havia se passado pelo menos uma hora, e eu ainda não tive coragem de levantar para executar o que queria fazer. De repente, flashes tomaram meus pensamentos, Daniel em cima de mim, me mordendo, me apertando como se eu fosse uma boneca inflável que não sente dor, e nem tem sentimentos. Em um pulo, sai daquela cama, tendo a alucinação de que meu sangue estava ali, por toda ela, esfreguei meus olhos e fui até o banheiro.

- Vai ser aqui.- olhei para a banheira, mordendo meu lábio inferior. Ajoelhei ao lado do mármore e coloquei a tampa no ralo, abri as torneiras e fiquei observando ela encher, enquanto pensava em algo. Eu não vou conseguir me obrigar a ficar em baixo da água, até que me afogue.

Levantei, tendo uma ideia. Sai do meu quarto, pisando tão lentamente que seria imperceptível meus passos. Escutei algumas vozes no andar de baixo, e fui até as escadas, desci apenas dois degraus, e vi os pais de Justin lá, sentados no sofá, com os meus demônios particulares, enquanto bebiam vinho.

- Ficamos felizes que Bethany esteja bem. Vimos quando ela saiu para rua, e nos preocupamos, mas já vamos indo...- o senhor Bieber falou, e obviamente aquele não era o motivo por estarem aqui. Patrícia queria catar o que aconteceu, e o arrastou para não deixar tudo tão evidente.

- Vamos ficar mais um pouco, querido.

- Por favor, fiquem. É bom conversar, esquecer um pouco os problemas.- minha mãe falou, bebendo o vinho.

Levantei, mas quando escutei que a conversa voltaria a ser sobre mim, sentei no degrau outra vez.

- Justin até comentou que ia convidar ela para o baile de formatura, caso se forme não é.- a senhora Bieber riu bem fraco e Alicia demonstrou sua expressão de desânimo.

- Eu vou tentar conversar com ela de novo. Justin é um menino incrível, e eu acho que faria bem para a minha menina, um pouco mais de amizades, sabe? Pessoas da idade dela para conversar, eu receberia ele com muito amor e carinho, aqui em casa. Lembram quando pegavamos eles de beijinhos na casinha de boneca?- comentou rindo. Ela é tão burra! Talvez em um mundo paralelo, Justin considere trocar uma futura modelo da Victoria's Secrets, por uma garota nojenta, estranha e patética.

- Sabe, eu acho que não é um bom momento para a Bethany ter contato tão direto com garoto, ela está impossível. Se ela consegue mentir com tanta frieza, que eu abuso sexualmente dela, sabe-lá o que faria inventaria com desconhecidos.- Daniel falou, como se de fato estivesse certo. Eu não consegui controlar minhas lágrimas. Não é possível que ele não tenha a mínima consciência de que me machuca tanto.

- Acho que Daniel tem razão quanto a isso.- Jeremy falou, e eu suspirei, me sentindo sufocada outra vez.

- Ma-mas Bethany não é assim. Ela vai ajudar a si mesma, e eu acho que Justin vai descobrir como ela pode ser doce, gentil...

Ouvindo a conversa deles eu só tive ainda mais certeza de que não queria mais pertencer a essa encarnação.

Levantei e andei de pressa até o quarto do casal, um dos cenários de algumas sessões de tortura também. Abri o roupeiro do Daniel e peguei ao fundo, sua maleta do hospital, abri ela, encontrando os tais tranquilizantes que me fazem dormir por horas, enfiei a agulha, sugando o líquido para a seringa e sai de lá, deixando aquela bagunça de qualquer forma. Voltei para o meu quarto, trancando a porta, fui até o banheiro, vendo a minha banheira transbordar, mas aquilo não era importante. Puxei a manga da minha blusa, e enfiei a agulha, despejando o remédio ali.

Estava ficando um pouco tonta, meus olhos pareciam pesados. Eu agarrei um estilete no pequeno armário ali ao lado e passei a parte laminada em meu braço, com toda força. Cai banheira, e minhas pernas estavam para fora, meu rosto estava submerso ao fundo, e a medida em que a água foi tomando seu tom avermelhado pelo meu sangue, eu fui perdendo a consciência.

Enfim, acabou.


****NOTAS DA AUTORA****

Pessu! Fui banida do site lixo de livros ao lado, mas por outro lado foi até bom. Vou postar todas as minhas histórias aqui no wattpad, e vou poder reescreve-las, porque me decepcionei mt comigo mesma, enquanto lia alguma delas, dando como exemplo Help Me, e encontrei muitos erros, que pretendo corrigir. Bom, por favorzinho, se gostarem do capítulo, votem, comentem, estou contando com o apoio de vocês e pretendo postar outro em breve.

Xoxo

Help MeOnde histórias criam vida. Descubra agora