"dia 2 sem Luis" dizia a minha cabeça. Cada vez custava mais não falar c ele, tinha saudades do pequeno-almoço, e dos risos histéricos ao almoço. a lufada de ar fresco que ele transmitia nas pessoas era surreal, e isso encantava-me.
mas agora tudo parecia denso, como um pântano de águas escuras e que o cheiro daqueles gases tóxicos não nos deixavam respirar. desde setembro que eu e o Luis almoçavamos c a Paula num bar perto do nosso bloco porque não tínhamos muito tempo para almoçar e as nossas risadas encantavam todo o mundo, até a dona Carmen ficava alegre ao ver-nos entrar.
Mas hoje, até o olhar dela queimava. Estava farta desta situação.
- o que vai ser?- pergunta d. Carmen.
- o mesmo.- Luis responde.
- tens a certeza que queres o mesmo?
- o que?- ele pergunta confuso.
- não sei, mas teres o mesmo será o melhor para ti?- ela apoia-se na nossa mesa c as duas mãos à frente do Luis.
- sim.- ele responde receoso.
- e tu Paula, vais querer o mesmo que ele?
- não, eu quero o que costumo comer.- ela responde c raiva.
- se assim o desejas.- olha para mim.- e tu querida, queres o mesmo?- passa-me a mão pela cabeça.
- sim d. Carmen.
- não queiras.- ela sussurra.- já trago.
- velha chata.- Paula resmunga.
- não fales assim dela.- Luis repreende.
- viste bem o que ela fez?- ela aponta-lhe o dedo.
- vi, e tu sabes bem.
- eu não estou para ser julgada desta maneira.
- e eu estou? - ele pergunta já irritado.- estou Paula?- ela acalma-se, e ele relaxa os músculos.
- só quero que isto passe. por todas as razões.- ela diz olhando para mim.
- eu também.
Chega o nosso almoço finalmente, e eu não dirijo uma sequer palavra. De vez em quando as palavras do Luis espalhavam-se pela minha cabeça, e isto estava a tornar-se pior do que um tumor. todos os movimentos prestados por ele, naquela noite, alastravam-se agora pelo meu pequeno coração.
- tenho de ir.- disse-lhes pegando na minha mala e saindo disparada.
Atrás de mim ainda ouço um "onde vais?", mas ignorei. sentei-me num banco de ferro atrás do bloco de aulas, peguei no telemóvel e vi que no meu ecrã ainda estava o Henrique. Suspirei.
- o que dava para ter o meu Henriquietta de volta.
Revirei a minha galeria, passando o dedo no rosto do Henrique a sorrir ao meu lado. A minha foto preferida de nós os dois é uma em que estou colada de costas ao peito dele, c os seus braços a envolverem os meus e o queixo no meu ombro.
#flashback on
- Carol, dá-me um beijinho.
- Henrique, pára.
- pára porque?- faz beicinho.
- está ali o David.
- e então? ele não é o teu ex. ele está na pista de bowling dele, e nós na nossa.
- ó sim, mas..
- gostas dele?
- gosto- digo envergonhada.- ele vem aí, beija-me.