A minha cabeça anda às voltas, agora que deixei entrar para a minha vida uma peça do puzzle importante para resolver a porcaria da amnésia, estou a pôr-me em risco de a perder novamente.
Mas não vou deixar que isso aconteça, não posso permitir a mim mesma que vá até ao fundo do poço. Não agora que estou tão perto de descobrir a verdade.
O carro do Henrique cambaleava até ao Porto na autoestrada, e eu forçava ao meu cérebro para absorver tudo e tentar lembrar-me antes de chegar lá. O que o Luís contou não está certo, pode ser uma parte verdade mas falta alguma coisa mais.
No entanto sei que ele só me quer proteger, mas durante este tempo todo eu podia estar em perigo e nem sequer saber, ao contrário se eles me tivessem contado eu já teria mais cuidado. Por sorte não aconteceu nada, mas e se acontecesse? eles iriam ficar com isso nas suas memórias sãs para o resto da vida.
O pior é que toda a gente pensa que para mim tudo cai do céu porque os meus pais têm uma boa estabilidade financeira, mas ao contrário do que eles possam pensar eu batalho pelo que quero. Os meus carros não nasceram no jardim, a minha roupa não apareceu no armário. Eu levantei-me e trabalhei para isso, porque se tenho independência para ir a festas e chegar às horas que quero ou viajar todos os fins de semana para o Porto e Lisboa, também tenho que ter independência para ter as coisas que quero pela minha própria mão.
Mas essa agora não é a questão, não é que eu seja uma coitadinha ou algo do género e não retiro a culpa de nada do que fiz, porque a culpa é sempre nossa, é só o facto de que após saber toda a verdade os meus passos foram calculados até agora.
No entanto, sinto que venho a saber as pontas soltas que a minha mãe não me contou. Por exemplo, o facto de que namorar com o Mark seria pelo menos intolerável.
É claro que antes de saber que ele era sobrinho da Mary nós éramos muito próximos, e ele até perdeu a virgindade comigo mas houve demasiadas razões para acabarmos. Primeiro, porque eu não parava de pensar no Henrique e segundo, e mais importante, ele ter parentesco com aquela mulher.
Se não fosse esses dois fatores nunca teria separado dele, porque no fundo eu sei que o Mark gostava de mim. O maior defeito dele é que pensa que 4 anos depois, ainda posso socializar com a tia dele, como se nada acontecesse. e isso é hilário.
A minha vida dava um filme de suspense, sem dúvida alguma.
- Carol, estás bem?- pergunta Luís que estava sentado ao meu lado.
- estou bem.
- continuo a achar que não devias ir.- diz Henrique.
- não tens voto na matéria.- respondo.
- Carol, nessa estou com ele.
- Luís, por favor. eu quero enfrentar os meus problemas.
- tudo bem, mas não me largas a mão.- diz ele agarrando-me a mão.
- nunca.- sorri para ele.- ainda falta muito?
- meia hora.
"meia hora" o meu cérebro avisa, como se estivesse a dizer: olha lá, a tua vida vai dar umas cambalhotas.
Mas na verdade, não é isso que tem feito a minha vida toda?
Perco a virgindade, namoro com o sobrinho da Mary e no dia seguinte acordo um ano depois com outro namorado e o Henrique ao meu lado com a companheira, que tem um ódio infernal por mim.
Como é que um dia estou completamente devastada porque desenvolvi um amor platônico pelo meu melhor amigo, e no dia seguinte olho para o Luís e só quero estar com ele? Esta é a minha vida, um vai e vem de sensações.