- ó meu deus, que susto.- levanto-me o que faz acordar Henrique.
- bom dia.- a figura masculina diz.
- bom dia?- pergunta Henrique ensonado.- que horas são?
- 09h da manhã.- o homem cruza os braços.- têm alguma coisa para me explicar?
- pai, foi só um acidente.- explico.
- um acidente Carol?- ri-se.- sabes qual foi o meu espanto quando me ligam de madrugada a dizer "a sua filha, e afins, foram apanhados na frente de um estabelecimento público envolvidos numa briga". só que esqueceste-te de um pormenor Carol, tu estás no sistema da segurança social e da polícia local de Porto e advinha quem era a primeira pessoa que ele iriam ligar?
- tu.- sussurrei.
- quem?
- tu.- digo num tom audível.
- e tu Henrique, a tua mãe denunciou-te no segundo em que lhe ligaram. ela ligou-me e pediu-me para tratar de ti também.
- Mateus, a culpa não foi nossa.
- o Ayrton é que me agarrou em primeiro lugar pai.
- não interessa, desde o momento em que o agrediram perderam a razão toda.- eleva o tom de voz.- e espero bem que tenham aprendido a lição ao ficarem cá durante a noite.
- podemos apenas voltar para casa?- bufo.
- a conversa não fica aqui. para os dois!- vira-se para trás.- guardas! podem solta-los.
Saímos da cela, 24 horas depois, e a sensação era a melhor de todas. Sentir aquele vento de inverno contra o meu rosto sujo sabia como maravilha.
Estava prestes a chover, o céu estava escuro, mais do que o costume, e o ar estava gelado como se tivesse nevado durante a noite.
Ajeitei a mala que me tinham entregado antes de sair, e entrei no carro c o Henrique e o meu pai atrás.
A viagem foi calma, silenciosa. tão silenciosa que até chegava ao ponto de ser constrangedora.
Finalmente chegamos a casa, o Luis estava a dormir no sofá, só c um cobertor aos pés. Ainda não tinha mudado de roupa, suponho que tenha ficado à minha espera.
Ao bater a porta de casa ele acordou exaltado, e saltou do sofá.
- Carol. Henrique.- olha para o meu pai.- senhor.- cumprimenta.
- estiveste à minha espera?- pergunto.
- sim, até à algum tempo atrás. mas o sono pesou.
Sorri-lhe levemente, e tentei dizer-lhe telepaticamente para sair, mas acho que não entendeu.
- eu vou para o quarto. fiquem à vontade.- sorri.
Ele aperta suavemente a minha mão, sorri de novo e sai até ao quarto.
Segui os passos dele até desaparecer e sentei-me no sofá c o Henrique, o meu pai caminha até à nossa frente e cruza os braços.
- então? alguém me explica.
- já deves saber, aliás vieste da América de propósito só para me vir buscar.- encolho os ombros.
- não fales assim Carol.- levanta a voz.- vocês acabaram de cometer o maior erro da vossa vida e ainda acham que têm razão? fala Henrique, achas que tens razão?
- não.- diz num sussurro.- tem toda a razão Mateus, mas também tem que entender que a culpa não foi nossa.
- já vos expliquei que o que fizeram não foi correto.