- já tiveste notícias do Luis e da Carol?- pergunta Helena.
- ainda não, achas que devo ligar outra vez ao Mark?- sento-me no sofá c ela.
- não, e é melhor não dizer nada à Paula também. É melhor ela ficar a saber quando voltar.- sugere Helena.
- mas depois quando ela voltar, ele vai estar c a Carol. isso é mau.
- Henrique, ninguém sabe se eles estão juntos! Provavelmente ela está c o Mark, e ele só está lá para fazer companhia.
- isso é que é mesmo despropositado.- abano negativamente a cabeça.- ela detesta o Mark, e o Luis a fazer de vela? não me parece.
- o problema é que tu queres que eles fiquem juntos, portanto armas todo o circo sem sequer isso ser considerado uma hipótese.
- na minha defesa, tu não queres que eles fiquem juntos.- admito.
- pois não, ela só lhe traz problemas.- ela soa impaciente.
- não quero ter esta conversa agora.
Ela não diz nada, continua sentada no sofá de pernas cruzadas, c uma tigela de cereais nas pernas e os olhos cruzados na televisão.
Tem sido sempre assim, discute e ignora-me, ou foge. O pior é que todas as nossas discussões resumem-se à Carol, porque por alguma razão a Helena odeia-a, e eu que sempre disse que se alguém rejeitasse a Carol estaria completamente fora da minha vida. Mas c a Helena tudo é diferente, porque a partir do momento em que a vi tornou-se impossível não querer estar c ela, tão impossível ao ponto de discutir sucessivamente sobre a minha melhor amiga.
Por falar em minha melhor amiga, ela que também se distanciou de mim devido a uma brincadeira parva, e porque foi para Nova Iorque por andar a ser perseguida.
A Carol, que sempre quisera uma vida dita normal, foi obrigada a ir para um país estranho porque o passado e o futuro decidiram juntar-se e unir forças contra ela, pior combinação de todas. Nem ela mesmo sabe porque foi, bom na verdade ela sabe, só não é a razão correta.
Como sempre eu tive que carregar este enorme segredo, como tenho feito a minha vida toda, só para a proteger, apesar de que quando ela estava cá era mais fácil porque a Carol sempre soube como tirar os meus maus pensamentos da minha mente, mas quando ela estava na América tornou-se pior, acho que nunca tive tantas saudades dela como tive nos últimos meses, porque lá no fundo nós partilhamos coisas que nunca haveremos de partilhar c mais ninguém, pelo menos, psicologicamente.
Para ser mais específico, tenho saudades dela quando ela está sentado ao meu lado. é normal? Vivemos a vida toda juntos, portanto acho que a resposta para a minha pergunta seja sim.
No entanto, sinto-me extremamente bem c a Helena, ela fez-me mudar em muitos sentidos, até mesmo na minha relação c a Carol ou o universo. se pudesse casava-me c ela, só para poder olha-la todos os dias quando acorda, ou quando adormece, não é que seja muito diferente do que faço todos os dias ou que o casamento vá mudar alguma coisa, é só que eu gostaria de estar ligada a ela c um laço mais forte do que o que temos.
E lá está ela, mesmo ao meu lado, levando a colher cheia de cereais à boca e c o olhar fixado nos Simpsons que ela tanta adora.
- está tudo bem?- ela pergunta-me.
- eu amo-te El.
Porque é que ela não me responde?
- também te amo Henrique.
- porque é demoraste tanto tempo a responder?
Pergunto sem intenção. Ela pousa a tigela em cima da mesa de centro, descruza as pernas e encara-me agarrando-me as mãos.