O DESCONFORTO DE TER MEUS PAIS POR PERTO

2.9K 289 5
                                    


Me espreguiço e sinto falta de meu marido, me levanto e vou ao banheiro e ele não está. Escovo meus dentes e lavo meu rosto, visto uma calça de moletom e uma camisa de manga cumprida e desço, preciso de um copo duplo de água com limão, pois minha cabeça está pesando mais que uma tonelada. Beta e Alice estão na cozinha e sorriem quando me veem.

– Boa tarde! – as duas me dizem ao mesmo tempo.

– Boa. – Sento na cadeira e deito meu rosto no balcão.

– Alguém anotou a placa do caminhão que atropelou minha amiga? – Beta ironiza minha situação.

Alice pega uma garrafa de água na geladeira e enche um copo para mim. Beta pega alguns limões e espreme na água, bebo tudo de uma só vez.

– Já vamos servir o almoço – Alice fala levando uma tigela com batatas para a mesa.

Beta a segue com a carne, eu não tenho força nem para levar a jarra de suco. Vou para onde estou escutando a vozinha da Maria, ela está brincando próximo a piscina, Thor está sentado ao lado de meu pai e a observa. Quando me vê, ele me chama, mas não quero chegar perto de meu pai e vou até a Maria, lhe dou um beijo e pergunto do que ela está brincando, fico conversando com ela e ignoro meu marido e meu pai. Alice avisa que o almoço está servido e todos vão para a mesa. Fred senta ao lado de Beta, Thor e Maria ao meu, minha mãe desce as escadas devagar e Alice corre para ajudá-la, ela cruza o olhar comigo quando senta à mesa ao lado de meu pai, mas desvio o olhar e sirvo Maria. Todos conversam e Thor tenta acompanhá-los, eu permaneço em silêncio até Alê descer as escadas com as mãos na cabeça e se sentar de frente a mim ao lado de Alice.

– Por favor apaguem a luz. – Ela deita o rosto na mesa e todos riem dela.

– Isto que dá pensar que o mundo iria acabar e beber tudo o que via pela frente – falo, mas quanto rio minha cabeça dói e gemo colocando a mão na cabeça.

– Ah, quem fala! – Alê ri. – Você foi muito além, minha cunhadinha sortuda! – ela olha para Beta e depois para Alice e fala em português, língua que ela fez questão de aprender depois que voltou do Brasil onde esteve no meu aniversário e está aprendendo muito rápido. – Sabiam que ela ganhou um beijo da Katy Perry?

Beta me olha inacreditada.

– Verdade, amiga?

– Na boca ainda! – Alê completa.

– Não acredito! – Beta coloca a mão na boca e ri.

Alê e Thor narra o acontecimento do ano e todos à mesa se divertem, de menos meus pais que devem pensar que me tornei uma pervertida. Eu e Alê comemos muito pouco, depois vamos todos para a sala, mas continuo evitando ficar próximo aos meus pais.

– Vamos viajar amanhã pela manhã – digo olhando para Beta e depois para Alice – mas vocês podem ficar o tempo que quiserem.

– Eu vou aceitar amiga, – Beta fala – quero aproveitar os dias de folga que Júlio me deu. Sem dizer que nunca saí do meu país, não posso voltar correndo, não é?

Lhe dou uma piscadinha.

– Estamos com a passagem comprada para ainda hoje – Alice diz – Vamos partir às 18:00.

Pego minha pequena no colo e digo:

– Assim não dá, não é Maria? Nunca temos tempo suficiente para matarmos a saudades! – Ela balança a cabeça concordando.

Erik, Dani, Katy e as crianças chegam e se juntam a nós. Conversamos animadamente e quando tenho uma oportunidade de ficar a sós com katy a pergunto sobre o divórcio. Vamos para a borda da piscina e sentamos.

– Daniel está me tratando como uma rainha, mas quando vê que não volto atrás, se transforma e fica possesso, não quer aceitar de jeito nenhum.

– O Júlio lhe telefonou?

– Sim, ele é um amor! Disse que você o contou sobre o divórcio e ofereceu a sua casa caso eu me sentisse ameaçada. Sábado passado o Daniel me ligou bêbado e ameaçou invadir a casa, dizia ter o direito de estar com os filhos e comigo. Fiquei com medo e liguei para Júlio e na mesma hora ele me buscou e junto as crianças dormi na casa dele. E foi ótimo, pois a Silvana disse que Daniel não deu sossego batendo no portão e gritando o meu nome até ela chamar a polícia e ele ser levado dali. Não gosto nem de imaginar as crianças presenciando isso.

– Por que você não passa um tempo aqui com a gente?

– O Dani me pediu a mesma coisa, mas gosto do Brasil, quero ficar lá, e as crianças gostam da escola e tem os seus amiguinhos, não posso mudar radicalmente a nossa vida por conta daquele homem.

– Então você contou ao Dani?

– Sim, e ele ficou muito feliz, mas está preocupado. Vou passar uns dias na casa do Júlio e assim a nossa rotina não precisará mudar tanto. O Júlio disse que viaja muito e a casa fica vazia e quer que eu e as crianças fiquemos lá.

– Se você for ficar lá, fico mais tranquila.

– Obrigada, Angélica! Você deveria me odiar e no entanto se preocupa comigo.

– Eu nunca te odiei, a culpa não foi sua, e sim daquele monstro mentiroso. Desculpa.

Ela me abraça e diz:

– Ele é um monstro mesmo, não se desculpe.

Às 17:00 estão todos prontos para irem embora. Abraço e carrego no colo a minha pequena, vamos para a varanda e me despeço, digo que logo nos veremos novamente. Thor irá leva-los ao aeroporto. Abraço minha irmã e agradeço por ela ter vindo, ela promete que voltará para ficar mais dias. Meus pais se aproximam cautelosos e não posso evitar olhá-los. Papai toca meu rosto e dou um passo para trás.

– Fico muito feliz em saber que você está casada com um homem bom, mesmo que não me perdoe, vou morrer mais sossegado agora que vi com os meus próprios olhos que você é feliz.

Não digo nada e também não consigo olhá-lo nos olhos. Mamãe também se aproxima mais e diz:

– Espero que um dia você possa nos perdoar, minha filha, você não sabe o quanto sofro com a sua ausência.

Também não consigo olhá-la por muito tempo, mas os dois me abraçam de uma só vez e choram ao me apertar. Não retribuo o abraço e quando eles me soltam corro para dentro de casa, subo as escadas e me jogo na cama e choro até Thor voltar. À noite vamos a um restaurante, eu, Thor, Beta, Fred, Erik, Dani e Alê. Jantamos e rimos, Thor quer saber o porquê odeio tanto meus pais, mas peço ele um tempo, ainda não consigo falar sobre isso sem chorar, as palavras engasgam e não quero falar, pois me sinto muito mal com isso. O único que consegui contar é o Dani e mesmo assim foi muito difícil.

Pela manhã pegamos nossa bagagem e nos despedimos de Beta e Fred e quando estamos entrando no taxi, Erik e Dani vem nos dar um abraço e exigem que aproveitemos ao máximo.

Dê-me o que mereço e faça-me felizOnde histórias criam vida. Descubra agora