27. o motivo

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"Eu odiava cada minuto dos treinos, mas dizia para mim mesmo: Não desista! Sofra agora e viva o resto de sua vida como um campeão."

- Muhammad Ali.


•.•.•.•.•

- É complicado.

Demorei a responder, mas a verdade é que Harry saberá de um jeito ou de outro. Primeiro, porque ele mora nessa casa agora e dormirá no quarto ao lado do meu pai. Segundo, porque ele é um aspirante a repórter, muito bom no que faz. Jornalistas e suas manias de curiosidade, investigação e comunicação. Terceiro, porque ele tem um talento sútil para me fazer falar e desabafar mais com ele, do que já fiz com qualquer outra pessoa em minha vida. Acho que é o conforto que Harry me transmite e espero que esse seja um bom sinal indicativo de que estou acertando em confiar tanto nele.

- Tão complicado que tenha que me esconder?

- Quase isso.

Ele respirou fundo, eu sentei na cama e ela rangeu. Ela é velha, tudo o que temos de móveis nessa casa, veio de doações que igrejas como a que Harry frequentava nos deram. Me sinto um pouco nervoso, talvez um pouco em pânico só de pensar em abrir meu coração, mas aquele som rangido fisga a minha atenção como um lapso de defesa do meu subconsciente tentando fugir do assunto. Penso em como nossas vidas são diferentes. Eu já estou desgastado por ela como essa cama velha e Harry ainda parece muito novo.

- As pessoas nessa casa passaram por muitas coisas difíceis. Coisas traumáticas, difíceis. Eu não sei se você entenderia, não se ofenda, mas... você vê a Charlotte? Ela tem quinze anos e se comporta como uma mulher inconsequente aos trinta. E eu sou todo estragado, tive que assumir o papel do meu pai em casa, às vezes sou ranzinza como um velho e você, princesa, você... é tão jovem.

Ele quer dizer inocente também e apesar de não usar essa palavra, fica subentendido.

- Eu sei que às vezes ajo como uma criança, posso admitir isso. Mas escolhi sair da casa dos meus pais, para viver minha própria vida, então significa que estou me tornando adulto. Ou que preciso acordar para a vida e me tornar um. Só que eu preciso da sua colaboração se vamos viver juntos aqui, eu preciso que você se abra para mim ou eu não poderei ficar, porque não vou viver com uma pessoa que desconheço.

- Você está sendo um pouco radical.

- Não estou - ele coloca o cabelo atrás da orelha e respira fundo - não estou, Louis. Você sabe que estou certo. Eu agradeço por me acolher e deixar eu ficar aqui para que minha mãe não me obrigue a me casar com Diana, agradeço por deixar eu ficar até que eu dê um jeito na minha vida, mas eu não posso aceitar morar com alguém que me esconde segredos como esse, porque eu não sei se são coisas que me colocam em algum risco, ou se por acaso eu estou apenas piorando o que quer que seja com a minha presença.

- Meu pai é paraplégico - Falei rápido, porque esse discurso dele estava quase me deixando chateado. Odeio lembrar de todo esse inferno, odeio falar disso, mas sei que Harry tem razão, mesmo odiando ter que expor meus traumas.

Harry fica de boca aberta e eu espero algo, sem saber o que é. Talvez, que ele dê risada do meu estado atordoado e ansioso, como Peter faria depois de me chamar de mocinha. Mas Harry não é Peter. Eu nunca posso ser tão estúpido de comparar Harry com alguém tão repugnante.

- Mas o seu pai ele... era...

- Campeão mundial? Ele ainda é um campeão, Harry, porque está vivo agora graças a um milagre da medicina, já que o seu Deus estava ocupado demais matando homossexuais para salvá-lo quando clamei.

stay in my arms if you dare (larry)Onde histórias criam vida. Descubra agora