10. um jeito meio bobo

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"Se você estiver perdido pode ver e vai me encontrar repetidas vezes. Se você cair, eu vou te segurar, estarei te esperando repetidas vezes."

- Time After Time (Cyndi Lauper)

- Deixa eu te ajudar - Louis vestiu as luvas em mim com calma - você precisa posicionar as mãos desse jeito - colocou os punhos próximo ao rosto e eu o imitei - muito bem, agora mantenha um pé na frente e outro atrás, mas sem abrir muito - ele se abaixou e me ajeitou da forma correta, depois levantou e fez sinal positivo com as duas mãos - assim está perfeito.

Louis segurou o saco em minha frente e assentiu para que eu desse o primeiro soco. Não foi nada como aqueles fortes que eu o via fazer nos treinos, longe disso, mas eu ainda havia mirado certo e para mim já era satisfatório. Louis também pareceu surpreso, talvez esperasse que eu errasse o ponto mesmo com esse saco sendo enorme.

- Muito bem - incentivou - agora, mais forte - eu tentei com o mesmo punho e ele sorriu - mais forte!

Troquei de mão porque o braço estava doendo e é assim que eu sei que dessa vez fiz da forma errada. Com certeza não é o movimento correto, eu já assisti alguns dos treinos de Louis e ele faz de cada golpe muito mais técnico, treinado e impressionante, mas é claro que comigo ele está sendo paciente e de alguma forma estou me divertindo e sentindo um pouco mais de confiança a cada vez que grita dizendo que estou me saindo bem.

Não deve ter se passado mais de dez minutos, quando me senti cansado demais e com os braços doendo.

- Eu falo sério sobre ser sedentário - peço ajuda para tirar as luvas - tenho que ir para a aula agora porque já faltam poucos minutos e não quero me atrasar, mas obrigado por isso - apontei com a cabeça para o saco de pancadas, me referindo ao mini treino de boxe.

Ele continua me olhando e sorrindo de um jeito meio bobo. Ele não costumava ser assim comigo e agora eu me sinto estranhamente aquecido e tímido. Às vezes entramos em silêncios hesitantes, como se algo tivesse que ser dito, mas que nenhum dos dois tem coragem. Esse é um momento daqueles e na maioria das vezes sou eu quem falo demais, mas dessa vez foi Louis quem tomou coragem para perguntar:

- Você poderia ficar? - ele faz uma careta para si mesmo quando percebe o que disse e disfarça a timidez me estendendo um copo de água que aceito ainda digerindo o convite - Eu vou matar a minha outra aula extracurricular para treinar mais um pouco, você também pode se quiser, eu gostaria que ficasse.

- Hum, matar aula?

- Eu poderia te ensinar mais.

- Não acho uma boa ideia - devolvo o copo vazio e ele se distrai o rodando nas mãos, nervosamente.

- Por que não?

- Minha mãe ficaria enfurecida se soubesse que matei aula.

- Ah - ele revira os olhos - o neném da mamãe.

Esse é o Louis grosseiro, outra vez, zombando de mim por eu ser obediente. Ele sempre volta de forma inesperada quando ele quer esconder seus constrangimentos atrás das defensivas.

- Achei que já tivéssemos passado dessa fase em que você tira sarro de mim.

- Eu não estou, é só porque isso que você faz de tentar ser perfeito o tempo inteiro e de agir conforme tudo o que os outros determinam, é muito...

- Coisa de otário? - eu deixo escapar um sorriso em escárnio e cruzo os braços - Você vai me chamar de perdedor por tabela?

- Eu já disse que não te acho um perdedor.

stay in my arms if you dare (larry)Onde histórias criam vida. Descubra agora