stay in my arms if you dare (larry)

20. castigo

"Sejam fortes e corajosos.
Não tenham medo nem fiquem
apavorados por causa delas,
pois o Senhor, o seu Deus,
vai com vocês; nunca os deixará,
nunca os abandonará".
- Deuteronômio 31

⚠️

agressão verbal,
homofobia e punição.

.•.•.•.•

Não houve tempo para defesas.

Em questão de segundos, eu já havia sido arrastado pelos cabelos, para o carro de Kendall

Em um milésimo de segundo, anteriormente, havia tempo suficiente para o turbilhão de sentimentos me bombardeando.

Constrangimento, surpresa, dor, vergonha, desespero, aflição e medo. O maior deles, no entanto, era o medo.

Eu não pude nem saber como Louis ficou naquele bolo de confusão entre os garotos gritando palavrões sobre o quão louca a situação de minha mãe me arrastando era e Louis mandando ela parar, ainda mais alto, mas sem sucesso.

O som ainda tocava alto quando ela me jogou para dentro do carro e Kendall deu a partida tranquilamente, como se o mundo não estivesse desabando sobre nossas cabeças, a minha e a de minha mãe.

Ela chorava histérica, pedindo perdão a Deus, agindo feito a responsável pelos meus erros. Erro esse, que eu não consigo me arrepender nem mesmo agora, vendo ela chorar e sabendo que o que me aguarda a partir de então não é apenas o inferno no pós morte, mas principalmente o inferno que será na nossa própria casa com o meu caso descoberto. Minha cabeça dói mais do que meu couro cabeludo e nunca senti tanto medo em toda a minha vida. Ainda assim, eu tento:

- Mãe.

- Cale a boca! - ela girou o corpo no banco da frente, para me bater no banco de trás.

Kendall se assustou com o quão alto ela gritou, consequentemente solavancando o carro, mas nada tão grave que fizesse minha mãe parar de me estapear de forma desajeitada. Eu uso o antebraço para me proteger e me afasto pedindo pra ela se acalmar.

- O que você pensa que está fazendo, seu nojento? São coisas assim que vão acabar com a sua vida, pelo amor de Deus! Você já tem GRID*, Harry? Como eu vou explicar para a comunidade? Como Deus será capaz de te perdoar? Eu não consigo nem- ela deu um grito e eu tapei os ouvidos, enquanto Kendall fingia não se abalar, mas se encolhia cada vez mais. (*Grid: como era conhecida a AIDS nos primeiros anos de epidemia).

Ela surta até chegarmos na rua de nossa casa, dois minutos depois. Kendall nos deixou na garagem interna de casa e minha mãe não olha para mim quando manda eu ir direto para o meu quarto.
Ela saiu antes de mim e bateu com força a porta da garagem que leva para a cozinha.

Cerca de cinco minutos depois, eu ainda estava no carro, chorando baixo, tentando respirar direito e Kendall permanecia em seu lugar, imóvel, com as mãos no volante e os olhos fixos na porta da cozinha.

- Foi você, não foi? - Eu finalmente pergunto, mesmo sabendo a resposta porque era óbvio ter sido ela.

- Não, Harry - ela respondeu calmamente e racional - Foi você mesmo quem escolheu o lado errado.

Kendall, agora, é uma desconhecida para mim. Demorou, mas percebi que não sabia nada sobre a garota no banco do motorista. Ela não era aquela pessoa que imaginei que fosse por todos os anos da minha vida. Desço do carro com a certeza de que Kendall iria me seguir e ela faz, porque o meu breve silêncio foi pior do que se eu tivesse o afrontado ou implorado para as coisas serem diferentes entre nós.