- Capítulo 1 -

6.6K 388 33
                                    

Eu acordei no dia seguinte e percebi que Mari não estava mais ao meu lado. Me virei na cama e vi no criado-mudo um bilhete com sua caligrafia.

Nina, fui ajudar o papai. Se eu não voltar em três horas vá a árvore de ontem.

Eles faziam isso de vez em quando,
mas eu nunca sabia para onde iam e o que faziam. Embaixo do bilhete havia um livro surrado, que eu carregava para todos os lados. Júlia que me dera. Marina devia ter lido um pouco ao amanhecer, já que eu havia a ensinado a ler e escrever há alguns anos.
Aproveitei que eles tinham saído e não voltariam tão cedo para fazer a segunda coisa que eu mais gostava: nadar. De vez em quando eu ia à uma cachoeira um pouco distante da cidade. Era isso que eu fazia quando "sumia e eles não sabiam para onde eu ia".
Coloquei um top preto e um short de malha da mesma cor. Por cima, coloquei um vestido amarelo simples, que eu tiraria para nadar, e uma rasteira velha. Peguei um pão e a toalha para me secar e pus numa sacola de pano.
Fui andando com bastante calma pela província, ela estava bem tranquila, e na saída, que só tinha uma estrada de terra e árvores em volta, o carro de Júlia estava passando. Ela sempre ia na casa da avó materna aos finais de semana, já que os pais eram separados. Percebi que ela estava acenando para eu me aproximar e pedindo para o pai parar um pouco o carro. Fiz isso e ela abriu o vidro para conversarmos.
- Oi, Nina! O que você está fazendo aqui a essa hora da manhã?
- Oi, Ju. Eu estava indo nadar um pouco na cachoeira aqui perto. A água lá é maravilhosa.
- Já ouvi falar que a água de lá é boa, mas toma cuidado, porque a Luyse - Luyse era sua meia-irmã - veio passar uma temporada aqui e disse que quando foi lá na cachoeira havia uns homens caçando.
- Nossa, que estranho. Nunca teve disso lá.
- Também estranhei já que sei que você adora nadar lá.
- Mas e como foi o baile ontem? - perguntei tentando mudar de assunto.
Ela soltou um suspiro. Não consegui saber se era bom ou ruim.
- Muita coisa. Depois te conto. É... deixa só eu te perguntar uma coisa: você vai participar da Seleção, não vai?
Agora foi minha vez de soltar um suspiro.
- Não sei, Júlia. Realmente não sei.

Ela desceu do carro e me deu um abraço. A Júlia me entendia muito bem. Ela sabia como era se sentir pressionada, com pessoas falando o que você deve e não deve fazer.
- Estou aqui para o que você precisar e vou te apoiar em qualquer que seja a sua decisão.
- Obriga, Ju.
Ela deu um sorriso e o pai começou a apressá-la para entrar. Me despedi dela com um aceno de mão e o carro arrancou.
Júlia não iria poder participar da Seleção, já que ainda não havia completado dezoito. Faltava cerca de um mês.

{}{}{}

Depois de ter nadado um pouco, eu estava sentada na toalha que usei para me secar comendo o pão que havia levado.
O som de botas nas folhas ecoaram pela floresta junto com vozes graves.
- Cassemeck, temos que preparar o plano. Uma das irmãs irá em breve para o palácio, de acordo com nossas espionagens de Marcus - fiquei ainda mais concentrada ao ouvir o nome do meu pai, mas é claro que havia muitos outros Marcus em Hondurágua, meu estado - e ele não pode nem suspeitar que a Prisioneira M está lá. Muito menos a Prisioneira M deve saber que uma das garotas estará lá. E nem pense em deixar a realeza saber da Prisioneira. Deve ser tudo perfeito. Se não o chefe nos mata sem nem pensar.
- Sim, Nichol.
Que diabos era isso? Um tipo de Guarda? Rebelião? E quem era Prisioneira M? Que irmãs eram essas? Porque a tal M estava presa no palácio sem a realeza saber?
Ouvi os passos chegando mais perto da cachoeira, tirei o vestido e joguei ele e a toalha numa árvore, enfiei o resto de pão na boca e mergulhei atrás de uma rocha para não ser descoberta.
Fiquei espionando os homens. Eles se aproximaram e a conversa continuou, mas não consegui entender nada por causa dos meus ouvidos estarem praticamente inteiros na água, só meus olhos estavam para fora. Um dos caras, o tal de Nichol vestia roupas inteiras pretas e era ruivo com olhos meio acinzentados. O outro, Cassemeck, tinha um cabelo muito curto como os de soldados, parecia ser loiro com olhos castanhos.
Os dois não notaram minha presença e nem minhas coisas no topo da árvore e foram embora depois de alguns minutos.
Agora eu tinha uma motivação para entrar na Seleção, tinha ficado muito curiosa para saber o resto da história, mas pareceria meio estranho ir lá só para descobrir isso - se eu fosse sorteada mesmo. - Seria invasivo, e papai e Mari perceberiam que eu não estava tentando "jogar". Além do mais e se esse príncipe for um babaca, e eu acabar me iludindo?
Aí... indecisão...

A OitoOnde histórias criam vida. Descubra agora