A Oito

- Capítulo 4 -

- Doutor, por favor peça para avisarem que o almoço será servido no quarto das senhoritas. É melhor adiarmos para algum dia que a senhorita Mirtson estiver recuperada, para as outras poderem conhecer meu irmão devidamente.
- Sim, Majestade.

Deixa eu entender uma coisinha: a rainha estava ali? O café já havia passado e estava sendo adiado? Afinal, o que estava acontecendo?

Comecei a abrir os olhos, meio sonolenta, e demorei para reconhecer o lugar em que estava: o hospital do palácio. Mas que belo início de Seleção, hein? Logo na enfermaria...

Olhei para frente a rainha estava me observando. Uma pessoa ao meu lado segurava minha mão. Fui me sentar, a rainha de aproximou e a pessoa ao meu lado se remexeu.

- Por favor senhorita Mirtson, você precisa descansar.
- Mas... mas...
- Sem mas, Nina - disse uma voz meio rouca.

Me virei para o lado e percebi que eu havia me enganado. Seu cabelo não era completamente loiro. Era um loiro acinzentado e completamente bagunçado, como se tivesse passado a noite acordado. Seus olhos eram de um verde muito claro. Ele não parecia uma pessoa de quase 23 anos, e sim um jovem de 18. Kaden segurava a minha mão como se a qualquer minuto eu pudesse sair correndo.

- Vou chamar o doutor Philips - disse ele, beijando minha mão e se levantando da poltrona.

Fiquei olhando para minha mão - a que ele havia beijado, não a com uma sonda para o soro - e a rainha se sentou no lugar em que Kaden estava.

- Como está se sentindo?
- Acho que bem...
- Meu irmão nunca fez isso. Quer dizer, ficar aqui tanto tempo, a não ser quando minha mãe teve alguns... problemas, há uns nove anos atrás.

Dei de ombros.

- Mamãe? - uma voz fininha ecoou da porta.
- Pode entrar.

A princesa Kerttu entrou e se sentou no colo da mãe.

- Oi - ela disse para mim.
- Oi, Alteza - respondi.
- O que aconteceu?

Nessa hora o doutor e Kaden apareceram. A rainha se levantou e a princesa saiu sem a resposta.

- Olá senhorita Mirtson. Eu sou o doutor Philips.
- Oi...
- Bom, como a senhorita deve saber, ontem houve um acidente - assenti com a cabeça, para poupar explicações. - Como está se sentindo?
- Bem. Só um pouco sonolenta. E com fome - sussurrei a última parte. Não queria que a rainha (e em parte o príncipe) pensasse que eu era uma gulosa.

Mas não teve o efeito que eu queria, pois pelo visto todos lá ouviram. Kaden soltou uma risadinha e o doutor reforçou sua expressão séria.

- Sobre isso... Acabamos fazendo exames para conferir se havia alguma alteração proveniente de sua queda. A senhorita tem se alimentado bem?

Olhei para os lençóis que me cobriam. Eu realmente não queria comentar minha vida abertamente. Essa não foi uma das melhores coisas a se fazer, porque o doutor soube a resposta.

- Foi o que imaginei. A senhorita está com algumas vitaminas muito baixas. Eu irei prescrever um cardápio para a senhorita, para se recuperar, e, vinte minutos de sol durante a manhã no jardim do palácio ajudariam muito também.

Assenti.

- Só mais uma coisa... talvez seja um assunto complicado, mas... o corte em seu braço - ah, isso - estava infeccionado, e dentro dele havia uma bala. Há algo que devemos nos preocupar, senhorita Mirtson?

Não dava pra ser mais delicado, não? Pensei, mas não falei. Ao invés disso, neguei com a cabeça. Como eu havia dito eu realmente, realmente, não queria dividir minha vida pessoal com três pessoas que eu mal conhceia. Kaden estava com os olhos arregalados. O doutor assentiu e disse que o almoço estava sendo preparado, e que ele seria levado lá para mim. Ele saiu por uma porta, e a rainha Eadlyn foi sair pela principal, mas quando a abriu a princesa Kerttu estava lá, com o ouvido colado na porta. Kerttu só deu um sorriso e saiu correndo. A rainha foi atrás, fechando a porta. Eu estava sozinha com Kaden. Eu esperava que ele saísse também, mas ele se sentou na poltrona novamente. Quando olhei para ele, estava com uma expressão apreensiva, e assim, com os olhos arregalados, seu cabelo uma bagunça total e os lábios apertados em uma linha fina, ele estava muito bonito. Mas eu não podia me deixar levar. Com certeza tudo isso era porque ele era o único... garoto (?) que eu tinha estado tão perto.3