Em um segundo a mulher tinha sumido, mas o garoto ainda estava ali. Ele abraçou as duas meninas. Era estranho o que ele passava. Era um ar protetor, mesmo que ele ainda fosse uma criança. O menino saiu correndo, como se soubesse de algo, mas fora avisado pela visita repentina da mãe a não dizer e tivesse as abraçado para consolá-las.
As irmãs continuaram andando, em busca dos pais. A imagem do garoto não saía da cabeça delas. Era um rosto familiar, mas elas não conseguiam reconhecer. Depois de algumas horas elas chegaram a um hospital, o hospital central da província, onde os pais estavam indo para tratar a mãe. Elas entraram lá determinadas a achar a mãe. Sentaram-se no sofá preto desgastado da sala de espera, esperando a fila acabar para perguntar para uma moça do balcão sobre a mãe. Todos ficaram olhando as irmãs, se perguntando o porquê de duas crianças pequenas estarem num hospital sem nenhum adulto acompanhando-as. Elas mal ligaram para todos. Marina se levantou, quando a fila já tinha acabado, e foi falar com a atendente. Enquanto a pequena Melina esperava, ela viu a mulher loira, mãe do menino, saindo do corredor que dava aos quartos dos pacientes. Ela estava com um vidro marrom na mão.
Do nada, o pai saiu desesperado da sala, gritando por ajuda. Todos os médicos que ali estavam foram correndo para o quarto da mãe das garotas e o pai foi ordenado a sair do quarto. Ele se sentou em uma cadeira e as meninas foram falar com o pai. Ele pareceu surpreso, mas as abraçou mesmo assim. Algum tempo depois um homem vestido todo de branco apareceu ao lado do pai e colocou a mão em seu ombro. Um gesto simples que indicava tudo. O homem se virou e saiu dali.
O pai das meninas começou a chorar desesperadamente. Esta fora a única vez que elas o viram chorar de verdade. O que aconteceu, papai? - elas perguntavam. O pai se endireitou e olhou nos olhos de cada uma. A-a mãe de v-vocês... ela... ela não está mais aqui - de imediato as meninas não entenderam. Como assim? - perguntaram. O pai decidiu ser direto, elas tinham que entender aquilo claramente: Mariana morreu. A verdade as atingiu num baque só e começaram a chorar mais ainda do que o pai.
Depois de ele resolver as coisas necessárias no hospital e dizer às meninas que não poderiam ver o corpo da mãe, elas voltaram para casa abraçadas, pegaram o lençol em que a mãe dormia no chão, se agarraram a ele e dormiram, tentando trazê-la de volta.
O cheiro, aquele cheiro, me trouxe de volta a realidade. Abri meus olhos devagar e estranhei muito. Ali não era a festa de Kaden de jeito nenhum. Era... era a cela do meu sonho. O sonho em que eu via a mulher. Olhei em volta, mas não havia ninguém. Absolutamente ninguém. Mas o cheiro... eu nunca me esqueceria daquele cheiro. Era o cheiro da minha mãe, mas ela não estava ali. Como era possível?
Ah. Meu. Deus. Eu estava em uma cela!
Tentei me levantar, mas minhas mãos estavam presas. Presas! Eu ainda estava com a roupa da festa, mas estava toda amassada e suja. E eu continuava com a máscara também.
Minha cabeça estava doendo muito.
- Dois dias? Nada mau. Menos tempo do que sua mãe - ouvi uma voz de deboche e levantei a cabeça.
Era o próprio Nichol parado na minha frente. Com seu cabelo ruivo espetado e uma roupa totalmente preta no que parecia ser couro e um vidrinho marrom na mão. O vidro que eu tinha visto na mão da mulher naquele dia. A raiva imediatamente veio a mim. É claro que tinha que ter sido eles que me raptaram, é claro!
- Sabe, - ele começou a andar, mexendo as mãos no ar. - foi muito mais fácil raptar você do que a sua mãe, pelo que ela fala. Tinham pessoas para disfarçar, você só parecia uma dama que bebeu demais e acabou caindo em cima de um pobre rapaz, no caso eu, e ele te ajudou. Engraçado, não? O que será que seu amorzinho deve ter pensado? Ou pior ainda, o que a família real deve ter pensado com a desculpa que deram? Uma senhorita, uma Selecionada, não sabe os limites das bebidas. Um pouco vergonhoso, não é? - ele deu uma risada horrorosa. - Ah, ela vai ficar tão feliz com o trabalho extra que fiz de te raptar.
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A Oito
FanfictionMelina vive nas margens da sociedade de Hondurágua, numa vida onde o melhor que ela pode fazer é tirar proveito de qualquer chance que imaginar. Com uma irmã gêmea e um pai, todos dão duro para sobreviver à consequência de sua geração de casta Oito...